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Atletismo

06/09/2021 04h04

Jogos Paralímpicos

Melhor campanha do Brasil na história é marcada por performances expressivas no feminino

As mulheres foram responsáveis diretas por sete dos 22 ouros e por um total de 26 medalhas das 72 conquistadas pelo país na capital japonesa: sete ouros, sete pratas e 12 bronzes

A expressão aliviada da pernambucana Maria Carolina Santiago na zona mista do Centro Aquático de Tóquio no dia 1 de setembro era retrato de alguém que havia acabado de cumprir uma missão extensa e desafiadora nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. Ainda um pouco ofegante, ela celebrava o ouro e o recorde paralímpico nos 100m peito da categoria S12, para atletas com deficiência visual: 1min14s89.

Foi a última das cinco medalhas em seis provas que ela disputou. No total, foram três ouros (além dos 100m peito, nos 100m e 50m livre, esta última também com recorde paralímpico), uma prata (revezamento 4 x 100m) e um bronze (100m costas).

"Acredito que todo excelente resultado inspira outros que possam vir depois. Como mulher, penso que conquistar três medalhas de ouro e performar em tantas provas só diz que é possível para outras. Se você quiser, se você se dedicar, é possível"
Mariana Santiago

Carol Santiago foi a protagonista da melhor performance individual do Brasil nos Jogos de Tóquio. Terminou os Jogos Paralímpicos como a sétima maior multimedalhista entre todos os atletas de todas as modalidades inscritos no evento.

"Acredito que todo excelente resultado inspira outros que possam vir depois. Como mulher, penso que conquistar três medalhas de ouro e performar em tantas provas só diz que é possível para outras. Se você quiser, se você se dedicar, é possível", disse a velocista. "Isso aqui é a realização de um sonho que começou em 2018", afirmou Carol, de 36 anos, em referência ao fato de ter migrado do esporte olímpico rumo ao paralímpico há menos de três anos. A atleta nasceu com síndrome de Morning Glory, alteração congênita na retina que reduz seu campo de visão, e durante muito tempo não sabia que poderia atuar no esporte adaptado. 

O sonho sonhado por Carol puxou o cordão de uma performance feminina expressiva do Brasil nos Jogos de Tóquio. As mulheres foram responsáveis diretas por sete dos 22 ouros conquistados na melhor campanha do Brasil na história dos Jogos Paralímpicos e por um total de 26 medalhas das 72 conquistadas pelo país em Tóquio (sete ouros, sete pratas e 12 bronzes).

Alana Maldonado: primeiro ouro da história do judô feminino. Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

100% no judô

"Ouvir o hino e o barulho da bandeira do Brasil subindo foi um momento de alegria e estou com o sentimento de missão dada e missão cumprida. Estou realizada com esse momento e por ter deixado meu nome na história”
Alana Maldonado

No campo dos ineditismos, Alana Maldonado reforçou a condição de campeã mundial e não deu chances às adversárias para decretar a primeira medalha de ouro da história do judô feminino nos Jogos Paralímpicos. O judô brasileiro, aliás, saiu de Tóquio com três medalhas. Todas no feminino. As outras foram os bronzes de Meg Emmerich (+70kg) e Lúcia Teixeira (-57kg).

“Parece que estou sonhando. Ouvir o hino e o barulho da bandeira do Brasil subindo foi um momento de alegria e estou com o sentimento de missão dada e missão cumprida. Estou realizada com esse momento e por ter deixado meu nome na história. Ser campeã aqui, por ser o berço do judô, é inexplicável”, disse Alana, de 26 anos.

Ouro de 137 quilos

O mesmo pioneirismo de Alana teve Mariana D’Andrea, responsável pela primeira medalha de ouro do halterofilismo nacional. Na categoria -73kg, a atleta levantou impressionantes 137 quilos para conquistar o título. A marca é o novo recorde das Américas. “Foi a primeira vez mesmo que levantei esse peso em competição. Veio na hora certa. A melhor marca anterior era 135kg. Estou feliz demais”, disse a paulista de 23 anos.

Beth Gomes ao lado do recorde mundial no lançamento de disco. Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

Recorde mundial no disco

Se teve ouro com a juventude, teve também com a experiência. Beth Gomes, de 56 anos, confirmou sua condição de campeã mundial e conquistou o ouro com direito a recorde mundial no lançamento de disco da categoria F53:  17m62.

"Eu acreditei e fui atrás dos meus objetivos. Eu repeti muito esse movimento, então estava segura do que ia fazer. Em nenhum momento foi sorte. Foi treino"
Beth Gomes

“O trabalho foi árduo desde 2016. Veio a pandemia e não paramos, nos reinventamos com treinamentos remotos. Montei academia em casa, comprei a aparelhagem que faltava para que isso não pudesse atrapalhar o nosso sonhado Tóquio 2021. E hoje estamos aqui para escrever essa história. Eu acreditei e fui atrás dos meus objetivos. Eu repeti muito esse movimento, então estava segura do que ia fazer. Em nenhum momento foi sorte. Foi treino”.

Se teve ouro para a mais experiente da delegação brasileira, teve também para a mais jovem. Jardênia Barbosa, de 17 anos, foi medalhista de bronze nos 400m da classe T20 do atletismo. “É muita emoção. Só tenho que agradecer a minha família e a todos que me ajudaram nessa caminhada. Fiquei feliz demais com o resultado, pois ainda melhorou o meu tempo”, disse a atleta potiguar.

Outra jovem potiguar que se destacou no atletismo em Tóquio foi Thalita Simplício, de 23 anos, velocista da classe T11, para deficientes visuais. Ela conquistou a prata nos 200m e nos 400m da classe T11. Na prova mais curta com direito a dobradinha no pódio, com Jerusa Geber em terceiro.

Respaldo federal

Todas as medalhistas citadas na reportagem fazem parte do Bolsa Atleta, o programa de patrocínio individual do Governo Federal Brasileiro, executado pela Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Na campanha brasileira em Tóquio, 94% das medalhas da delegação foram conquistadas por integrantes do programa.

Quarteto do tênis de mesa

O tênis de mesa foi outra das modalidades em que 100% das medalhas conquistadas pelo Brasil em Tóquio tiveram protagonismo feminino. Na chave individual, Bruna Alexandre ficou com a prata na Classe 10 e Cátia Oliveira conquistou o bronze nas classes unificadas 1 e 2. Na disputa por equipes, Bruna Alexandre, Jennyfer Parinos e Danielle Rauen repetiram a performance dos Jogos Rio 2016 e saíram do Ginásio Metropolitano de Tóquio com o bronze.

“Fico feliz demais de ver uma grande evolução não só em mim, mas nas meninas. Ficou claro aqui que dá para a gente jogar de igual para igual com todas as equipes. Esse resultado é um passo muito grande que a gente deu e podemos evoluir cada vez mais”, disse Bruna, que se tornou a maior medalhista da história paralímpica do tênis de mesa. Ela acumula uma prata e um bronze no individual e dois bronzes por equipes.

Dani Rauen, Bruna Alexandre e Jennyfer Conceição: trio de bronze no tênis de mesa. Foto: Fabio Chey/CPB

Dupla do taekwondo

“Aumentar a participação feminina é uma das metas do CPB. Tivemos aqui 60% de homens e 40% de mulheres, e queremos chegar ao patamar de uma participação igualitária. E em Tóquio tivemos, realmente, uma participação qualitativa espetacular da mulheres”
Mizael Conrado, presidente do CPB

Na estreia do taekwondo em Jogos Paralímpicos, o Brasil levou três atletas para Tóquio. Os três subiram ao pódio e o país terminou em primeiro no quadro de medalhas da modalidade. Além do ouro com Nathan Torquato, as outras duas medalhas foram femininas. Uma prata, com Débora Menezes na categoria +58kg, e um bronze com Silvana Fernandes (-58kg).

"Saímos daqui como a potência número 1 do mundo. Já éramos a principal potência das Américas. Agora, somos mundialmente reconhecidos. Não poderíamos estar mais felizes", afirmou Débora Menezes, campeã mundial em 2019.

“Aumentar a participação feminina foi uma das metas estabelecidas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) em seu plano estratégico para Tóquio e Paris. Primeiro, nossa ideia foi aumentar quantitativamente. Tivemos aqui 60% de homens e 40% de mulheres e queremos chegar ao patamar de uma participação igualitária. E em Tóquio tivemos, realmente, uma participação qualitativa espetacular da mulheres. Sete dos ouros e 26 medalhas no total da delegação é um número incrível. Elas realmente nos proporcionaram momentos especiais”, afirmou Mizael Conrado, presidente do CPB.

Foto: Rogério Capela/ CPB

Vôlei sentado, o bronze coletivo

"O vôlei sentado feminino continua sendo a única modalidade coletiva a conquistar medalha em Jogos Paralímpicos. Com esse resultado, a gente espera que mais mulheres possam ser inseridas no paradesporto"
Agtônio Guedes, técnico da seleção de vôlei sentado feminina e secretário nacional de Paradesporto

Entre as modalidades coletivas, o principal destaque feminino foi o vôlei sentado, que repetiu em Tóquio a campanha que teve nos Jogos Rio 2016 e terminou com a terceira posição. A equipe venceu as três partidas na fase de classificação e só foi superada na semifinal do torneio, diante da equipe dos Estados Unidos. Na disputa pelo bronze, vitória por 3 sets a 1 sobre o Canadá. 

"A conquista dessa medalha é muito importante para o paradesporto brasileiro, para as mulheres em especial. Ela ratifica a conquista inédita do Rio 2016. A gente esperava subir um degrau a mais e fazer a final paralímpica, mas não deu. De qualquer forma, isso ratifica nossa posição no cenário internacional, entre as três melhores equipes do mundo", afirmou Agtônio Guedes, técnico da seleção feminina e secretário nacional de Paradesporto da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.

"É um resultado para elevar o nível do esporte feminino no Brasil, para que mais meninas possam estar praticando a modalidade. O vôlei sentado feminino continua sendo a única modalidade coletiva a conquistar medalha em Jogos Paralímpicos. Com esse resultado, a gente espera que mais mulheres possam ser inseridas no paradesporto. Isso vai fazer com que o Brasil, a médio e longo prazo, possa ter mais representantes nas diversas modalidades do quadro paralímpico, como o goalball e o basquete em cadeira de rodas, além do vôlei sentado", concluiu o treinador.

Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br