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Atletismo

30/08/2021 14h12

Atletismo

Beth Rodrigues conquista em Tóquio o 99º ouro para o Brasil em Jogos Paralímpicos e quebra recorde mundial no disco

Mais cedo, Claudiney Batista chegou ao bicampeonato paralímpico, também no disco. Vinicius Rodrigues fica a um centésimo do ouro nos 100m da classe T63

Beth Gomes sobrou na final do lançamento de disco F53 nos Jogos Paralímpicos de Tóquio. A atleta, última a fazer o arremesso, superou as demais nove adversárias já no primeiro dos seis lances, com a marca de 15m68. Mas não parou aí. Quebrou o recorde mundial com um arremesso de 17m62. As ucranianas Lana Lebiedieva (15m48) e Zoia Ovsii (14m37) ficaram com prata e bronze, na prova realizada na manhã desta segunda-feira (horário de Brasília) no Estádio Olímpico.  

“O trabalho foi árduo desde 2016. Veio a pandemia e não paramos, nos reinventamos com treinamentos remotos dentro de casa. Eu montei academia, comprei a aparelhagem que faltava para que isso não pudesse atrapalhar o nosso sonhado Tóquio 2021. E hoje estamos aqui para escrever essa história. Eu acreditei e fui atrás dos meus objetivos. É muito trabalho. Eu repeti muito esse movimento, então estava segura do que ia fazer. Antes da prova eu já pensava em superar os 17 metros. Em nenhum momento foi sorte. Foi treino”, afirma a atleta, que ficou de fora dos Jogos Rio 2016 em função de uma reclassificação.

Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

Além de todas as marcas, o ouro chega em 30 de agosto, Dia da Conscientização da Esclerose Múltipla. A atleta era jogadora de vôlei em 1993, quando foi diagnosticada com a doença que causa lesões no cérebro e na medula. Depois disso, integrou a seleção de basquete em cadeira de rodas em Pequim 2008 até descobrir o atletismo. “Eu tenho essa patologia e quero mostrar ao mundo que nada é impossível. A esclerose caminha do meu lado, mas ela nunca vai estar me vencendo”, diz.

"Eu repeti muito esse movimento, então estava segura do que ia fazer. Antes da prova eu já pensava em superar os 17 metros. Em nenhum momento foi sorte. Foi treino”
Beth Gomes

Sobre a prova, Beth diz que é preciso ter resiliência e performance. “Pensar que você treinou, que seus adversários também treinaram e que você tem que dar o melhor – o melhor que você treinou. Lógico que a gente fica ansioso, com medo de queimar. Eu acreditei. Eu pensei: ‘vou fazer o meu. Vou lançar e foi de pouquinho. Quando vi no primeiro lançamento que a medalha era minha, pensei: agora posso arriscar”. Diferentemente das provas olímpicas, em que os atletas alternam arremessos, na categoria para atletas que atuam sentados todos fazem todos os arremessos de uma só vez, porque o encaixe de cada atleta na cadeira exige muitos ajustes.

Em 2019, Beth quebrou duas vezes o recorde mundial da categoria no lançamento de disco e foi ouro no Parapan de Lima e no Mundial de Dubai. Além disso, tem no currículo o bronze no arremesso de peso no Mundial de 2015, no Catar, o ouro no lançamento de disco e a prata no arremesso de peso no Parapan de Toronto 2015.

Beth Gomes ao lado do recorde mundial que ela estabeleceu na prova do disco. Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

Outro ouro 

Mais cedo, o recordista mundial e paralímpico no lançamento de disco na classe F56, o mineiro Claudiney Batista, subiu ao lugar mais alto do pódio e superou a própria marca na capital japonesa. Ouro nos Jogos do Rio, quando lançou o disco a 45,33m, Claudiney quebrou o recorde ao atingir a marca de 45,59m em Tóquio. O pódio na capital japonesa foi completado pelo indiano  Yogesh Kathuniya, que ficou com a prata (44,38m), e pelo cubano Leonardo Aldana Diaz, bronze (43,36m).

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Claudiney celebra o segundo ouro consecutivo em Jogos Paralímpicos na prova do disco. Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

Potência brasileira

“Dá raiva, né? Que miserável de russo. Eu fiz uma saída boa, mas faltou um pouco mais de agressividade no começo da prova. Minha profissão é como trabalho de sniper: você não pode errar”
Vinicius Rodrigues

Com 13 pódios alcançados até o momento em Tóquio, o Brasil demonstra força no atletismo, com seis ouros, três pratas e quatro bronzes. O resultado coloca o país no segundo lugar no quadro de medalhas da modalidade, atrás somente da China, que acumula 11 ouros, seis pratas e dois bronzes.

Entre os pódios do Brasil está a prata do velocista Vinicius Rodrigues, que por apenas um centésimo não faturou o ouro nos 100m T63. Na final, velocista percorreu a distância em 12s05, tempo que seria suficiente para fixar um novo recorde paralímpico, mas o russo Anton Prokhonov, atual recordista mundial, cruzou a linha de chegada com 12s04.

“Dá raiva, né? Que miserável de russo”, brincou o atleta da classe para amputados de membros inferiores, com prótese. “Eu fiz uma saída muito boa, mas faltou um pouco mais de agressividade no começo da prova. Treinamos para fechar em 12s, 11s90. Minha profissão é como um trabalho de sniper: você não pode errar”.

Bronze no Mundial de Dubai, em 2019, e agora prata em Tóquio, Rodrigues aposta em resultados ainda mais expressivos nas próximas competições. “Se for uma escala, imagino que no Mundial de 2022 venha ouro. Agora é voltar para a família e recarregar a bateria. Foi uma disputa acirrada, saio meio contente e com gostinho de quero mais”, diz.

Vinicius ficou a um centésimo do ouro nos 100m. Foto: Helano Stuckert/ rededoesporte.gov.br

Peso de prata

"Este ano venho treinando bem para o peso. Melhorei em relação ao ranking e fiquei em terceiro, mas tinha chance de pegar o ouro, mas de qualquer forma subir ao pódio é muito bom e estou feliz"
Alessandro Rodrigo

Nervosismo, dor no joelho, desconforto no estômago e muita saudade. Essa mistura de sensações acompanhou Alessandro Rodrigo na final do arremesso de peso F11, em Tóquio.  Ainda que tudo isso “pesasse”, nada impediu a conquista da prata na modalidade e a alegria de subir ao pódio mais uma vez numa edição de Jogos Paralímpicos. Mahdi Olad, do Irã, faturou o ouro com 14,43m. Oney Tapia, foi o medalhista de bronze com 13,60m. O lançamento de Alessandro foi de 13,89m.

“Este ano venho treinando bem para o peso. Melhorei em relação ao ranking. Fiquei em terceiro e tinha chance de pegar o ouro, mas de qualquer forma subir ao pódio é muito bom. Meu pai faleceu há três meses, tive Covid-19. Então agradeço a Deus, ao técnico, aos fisioterapeutas que fazem com que a gente esteja ali todo dia. A felicidade é muito grande. É muito gratificante ter esse título”, diz o atleta, que tem um ouro no lançamento de disco nos Jogos Rio 2016..

Alessandro passou pelo Covid-19 sem sintomas, mas perdeu mais de um mês de treino pela necessidade de isolamento. “Eu estava muito bem antes, e esse tempo sem treinar atrapalha, mas acho que quando a gente quer, a gente corre atrás. Então me preparei novamente, foi difícil mudar o cronograma, mas no fim fomos premiados com a prata. Eu sabia que ia brigar com o Irã, e dei o máximo. Senti o joelho, o estômago, mas na hora da prova, a força sempre vem. Agora vou atrás do bicampeonato paralímpico no disco, mais um título para o Brasil”.

Com muita emoção, Alessandro falou da família, da importância da esposa Liene e dos filhos Matias, de 6 anos, e Lucas, de 2. E tentou conter as lágrimas quando lembrou do pai, Carlos, que faleceu em março de 2021.

“É uma pena meu pai não poder estar presente em mais essa conquista, mas espero que ele esteja vendo tudo isso de onde estiver. Ele morreu depois de complicações em uma cirurgia de apendicite. Ele sofreu muito na vida, perdeu uma perna e a cirurgia ocorreu no mesmo momento em que eu estava nascendo, em 28 de agosto de 1984. Ele era mecânico e estava arrumando o carro de meu tio quando uma moto passou na perna dele. Foi muita luta sempre, mas eu tenho feito a minha parte e acredito que tudo tem uma razão de ser”, conta.

Natural de Santo André, o paulista do lançamento de disco e arremesso de peso é campeão do Mundial de Londres, em 2017, bicampeão no disco e no arremesso de peso nos Jogos Parapan Americanos de Toronto 2015 e de Lima 2019, além de ouro no disco e bronze no peso no Mundial de Dubai, em 2019. O atleta se tornou deficiente visual por causa de uma toxoplasmose.

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Alessandro Rodrigo conquistou a prata na prova do peso da classe F11, para atletas com deficiência visual. Foto: Helano Stuckert/ rededoesporte.gov.br

Outros resultados

Fábio Bordignon, que disputou nesta segunda-feira (30) a final dos 100m, classe T35, ficou na quinta posição, com a marca de 12s54. O pódio teve dobradinha do Comitê Paralímpico Russo, com ouro de Dimitri Safronov (11s39) e bronze de David Dzhatiev (11s82) e prata do ucraniano Ihor Tsvietov (11s47).

No lançamento de dardo F64, Francisco de Lima (56m33) e Edenilson Floriani (55m54) ficaram em 5º e 6º, respectivamente, na prova que teve novo recorde mundial estabelecido pelo indiano Sumit Sumit ao lançar a 68m55. O australiano Michal Burian ficou com o segundo lugar no pódio (66m29) e Dulan Kodithuwakku, do Sri Lanka (66m29), conquistou o bronze.

Já no salto em distância T36, Aser Ramos e Rodrigo Parreira ficaram em 4º e 5º, com as marcas de 5m58 e 5m49, respectivamente. Formaram o pódio da prova Evgenii Torsunov, do Comitê Paralímpico Russo (5m76) e William Stedman, da Nova Zelândia, (5m64) e Roman Pavlyk, da Ucrânia (5m63).

Atletismo - Jogos Paralímpicos de Tóquio

Investimento

O atletismo recebeu investimentos da ordem de R$ 61,67 milhões no ciclo entre Rio de Janeiro e Tóquio (2017 a 2021) por meio do Bolsa Atleta. O programa, executado pela Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, prevê o repasse de recursos diretamente para os atletas.

Foram concedidas no período mais de duas mil bolsas para o atletismo paralímpico. Para se ter uma ideia todos os brasileiros que competiram hoje são apoiados pelo programa. Dos 65 convocados para a seleção brasileira em Tóquio, 64 são atualmente contemplados pelo programa.

O investimento direto nesse grupo, neste ciclo, foi de R$ 30,96 milhões. Cinquenta e cinco deles integram a categoria Pódio, a principal do programa, voltada para quem se qualifica entre os 20 melhores do mundo em sua modalidade. A categoria Pódio prevê repasses que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil mensais de acordo com os resultados esportivos dos atletas.

Beth faz parte da categoria Pódio e é a atleta mais velha da lista de bolsistas brasileiros em Tóquio. “A Bolsa veio para contribuir para a performance de todos os atletas que estão no projeto. O atleta pode se dedicar totalmente ao treino. Nós recebemos para treinar, para pagar nossos equipamentos, investir. Bolsa atleta é fundamental. Sei disso porque vim de um tempo que não tinha o programa, então eu sei exatamente a diferença”, ressaltou.

Cynthia Ribeiro e Cristiane Rosa, de Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br