Judo paralímpico
Judô
Soberana no Nippon Budokan, Alana Maldonado se torna a primeira campeã paralímpica brasileira no judô
E o destino quis que Alana Maldonado conquistasse o título inédito para o Brasil no judô no berço da modalidade. A brasileira, que entrou no tatame de ‘queixo erguido’, foi ouro na categoria -70kg no principal palco de competições da modalidade no Japão, o Nippon Budokan, e se tornou a primeira campeã paralímpica do país. Na decisão do ouro, ela superou superar a georgiana Ina Kaldani com um waza-ari com 1min44s de luta. Depois foi só administrar.
“Eu entrei de cabeça erguida, me impondo e isso faz toda diferença. Quando você entra com queixo para cima, o adversário sente esse peso. Eu falei para mim: ‘Hoje ninguém me tira. É meu. Eu mando aqui’, desabafou a judoca, classe B2 (atletas com percepção de vultos), líder do ranking mundial na categoria até 70kg e campeã mundial em 2018.
“Eu entrei de cabeça erguida, me impondo e isso faz toda diferença. Quando você entra com queixo para cima, o adversário sente esse peso. Eu falei para mim: ‘Hoje ninguém me tira. É meu. Eu mando aqui'"
Alana Maldonado, medalha de ouro na categoria -70kg
A postura, segundo ela, foi adotada após a derrota para mexicana Lenia Ruvalcaba Alvarez, na final dos Jogos Rio 2016, quando ficou com a prata. De lá para cá, foi realizado todo um trabalho que resultou no título alcançado em Tóquio. “A Alana de 2021 é outra. Eu digo sempre que tudo tem um lado positivo. A gente tem que tirar aprendizado das coisas. Perder no Rio doeu demais, mas me fez evoluir, crescer. Se você assistir a minha entrada no Rio verá outro semblante. Lá entrei de cabeça baixa e aqui foi outra postura”, compara.
Com uma campanha consistente, Alana dominou a competição realizada no Nippon Budokan. Como cabeça de chave, começou a campanha pelas quartas de final. Primeiro encarou a italiana Matilde Lauria, também cabeça de chave, e venceu com um ippon com uchi-mata logo a sete segundos de luta. Na semifinal, enfrentou a turca Raziye Ulucam e venceu com o mesmo golpe, classificando-se para a final.
Na briga pelo ouro contra georgiana, a brasileira estabeleceu como estratégia sair na frente e administrar o resultado, explicou o treinador da atleta, Adriano Freitas. “Ela já tinha enfrentado a georgiana antes e venceu também no waza-ari. A gente sabia que ela é forte na luta de solo, então foi importante o controle da manga o combate todo. Ela conseguiu avançar no placar com um waza-ari e teve a estratégia de esperar. Foi administrando, levando a luta, e com consciência e experiência conseguiu o resultado”, elogia o técnico, que representa a Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais.
“Parece que estou sonhando. Ouvir o hino e o barulho da bandeira do Brasil subindo foi um momento de alegria e estou com o sentimento de missão dada e missão cumprida. Eu estou realizada com esse momento e por ter deixado meu nome na história. Ser campeã aqui, por ser o berço do judô, é inexplicável”, destaca a paulista de 26 anos.
“Foram cinco anos de um trabalho muito duro, de muita incerteza, muitas coisas que tive que abrir mão. Mas hoje posso dizer que tudo valeu a pena eu realizei meu sonho. Eu pude honrar minha família, meus amigos e todos que estão comigo com a minha medalha. Esse ouro não é só meu”, finalizou.
Donas do tatame
As três medalhas conquistadas pelo judô brasileiro em Tóquio vieram de quimonos femininos. Neste domingo (29.08), o Brasil também foi bronze com Meg Emmerich (+70kg), que estreou em Jogos Paralímpicos. A judoca da classe B3 (atletas que conseguem definir imagens) bateu Nyamaa Altantsetseg, da Mongolia, por ippon.
“Eu estava com uma expectativa maior, mas na segunda luta acabei não aproveitando. Quando você sai de uma derrota é bem difícil focar e zerar o que aconteceu. Mas tirei o momento, voltei e consegui essa medalha. É uma experiência que não tem palavra, só emoção”
Meg Emmerich
Na competição, ela fez outras duas lutas: venceu a japonesa Minako Tsuchiya por ippon encaixando um tai-otoshi ainda nos primeiros 30 segundos de luta. E perdeu a semifinal para Dursadaf Karimova. A representante do Azerbaijão começou na frente marcando um waza-ari por meio de um uki-otoshi, Meg empatou com um sumi-otoshi, mas a azeri venceu no uki-waza.
“Eu estava com uma expectativa maior, de ganhar a medalha dourada, mas na segunda luta acabei não aproveitando. Quando você sai de uma derrota é bem difícil focar e zerar o que aconteceu. Mas tirei o momento, voltei e consegui essa medalha. É uma experiência que não tem palavra, só emoção”, conta a judoca, bronze nos mundiais de Lisboa em 2018 e de Fort Wayne em 2019, além de ouro no Parapan de Lima em 2019. O ritual de preparação dela envolve ficar sozinha, ouvir músicas e fazer uma oração.
No sábado, Lúcia Teixeira também conquistou o bronze ao vencer por ippon, na decisão da medalha, a russa Natalia Ovchinnikova, na categoria até 57kg. A paulistana já tinha conquistado duas pratas na carreira: em Londres 2012 e no Rio 2016.
Investimento
Os nove lutadores que representaram o Brasil em Tóquio no judô são integrantes da categoria Pódio, a principal do Bolsa Atleta, que prevê repasses de R$ 5 mil a R$ 15 mil mensais de acordo com os resultados esportivos dos atletas. O programa de patrocínio individual do Governo Federal, executado pela Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, está entre as maiores iniciativas do mundo.
Atualmente, o investimento da pasta nesses atletas é da ordem de R$ 96 mil ao ano e durante todo o ciclo paralímpico, o repasse alcançou R$ 4,2 milhões. Já o apoio total do Governo Federal na modalidade desde 2017 somou R$ 8,6 milhões e garantiu a concessão de 259 bolsas para 106 atletas.
Cynthia Ribeiro, de Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br