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Atletismo

03/09/2021 05h52

Jogos Paralímpicos

Presidente do CPB exalta campanha histórica e anuncia Daniel Dias como porta-bandeira do encerramento

Para Mizael Conrado, delegação mostrou resiliência e qualidade diante de desafios de preparação dentro e fora da esfera esportiva. Dirigente enfatizou importância do Bolsa Atleta e dos investimentos federais no resultado do Brasil em Tóquio

A campanha do Brasil em Tóquio é tão superlativa que o presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro, Mizael Conrado, não precisou esperar o último dia de competições para fazer um balanço e qualificar a performance nacional nos Jogos de 2021 como histórica. No início da tarde desta sexta-feira, 03.09, no Japão, o Brasil já acumulava 56 medalhas, com 19 ouros, 14 pratas e 23 bronzes. A campanha já é melhor, em número de ouros, que a apresentada pelo país em casa, nos Jogos Rio 2016, e está a dois ouros de empatar com a melhor campanha da história, registrada nos Jogos de Londres, em 2012. Lá, o Brasil conquistou 21 ouros.

“Mesmo sabedores da capacidade e da resiliência de nossos atletas, mais uma vez eles mostraram que podem ir além daquilo que a gente imagina, daquilo que a gente espera. São capazes de muito mais do que a gente pode prever. Vimos aqui performances espetaculares e um brilho emocionou a todos muitas vezes. Com certeza esses atletas nos mostram que faz sentido esse trabalho. Isso traz ainda mais responsabilidade para seguirmos pensando num Brasil ainda melhor e que pode mais”, afirmou Mizael Conrado.

Mizael Conrado, presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro. Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

“Mesmo sabedores da capacidade e da resiliência de nossos atletas, mais uma vez eles mostraram que podem ir além daquilo que a gente imagina, daquilo que a gente espera. São capazes de muito mais do que a gente pode prever. Vimos aqui performances espetaculares e um brilho emocionou a todos muitas vezes. Com certeza esses atletas nos mostram que faz sentido esse trabalho. Isso traz ainda mais responsabilidade para seguirmos pensando num Brasil ainda melhor e que pode mais”

O dirigente aproveitou o balanço para anunciar que o multimedalhista Daniel Dias, que oficializou a aposentadoria das piscinas em Tóquio, será o porta-bandeira do país na cerimônia de encerramento dos Jogos. Daniel encerrou sua trajetória na capital japonesa com mais três bronzes. Com isso, deixa um legado de 27 medalhas paralímpicas, 14 delas de ouro, entre Pequim (2008) e Tóquio (2021). “Nosso porta-bandeira será o Daniel Dias. É uma homenagem ao maior de toda a nossa história. Ao maior atleta da natação paralímpica mundial”, disse Mizael.

Durante a conversa com a imprensa, o dirigente falou sobre uma inversão de paradigmas do paralimpismo brasileiro, em que o CPB passou a ser mais ativo na busca de atletas, exaltou o aumento da participação quantitativa e qualitativa das mulheres na delegação e pontuou o caráter indispensável dos investimentos do Governo Federal para que o país chegasse aos resultados que atingiu em Tóquio. “Não fosse o Bolsa Atleta, os resultados aqui seriam outros. O programa tem uma relevância muito importante no que a gente está vendo. Ele dá condições para o atleta se desenvolver. Não só no alto rendimento, mas desde lá da base”.

Mizael criticou ainda as mudanças recentes de classificação funcional conduzidas pelo Comitê Paralímpico Internacional, que ele definiu como apressadas, intempestivas e mal feitas, e que teve como consequência a aposentadoria precoce de ídolos.

Confira os principais trechos do bate-papo

 

Críticas à mudança de classificação

No meio do ciclo para Tóquio, fomos surpreendidos pela mudança do sistema de classificação funcional dos atletas, o que afetou o Brasil e outros países de todo mundo. Um processo feito sem planejamento adequado. Feito sem consulta aos comitês nacionais. Feito de forma apressada e com muitos efeitos negativos, como os casos do André Brasil (atleta da natação), que depois de dois ciclos olímpicos deixou de ser considerado atleta, e fez com que o Daniel Dias, mesmo melhorando seus tempos, não conseguisse mais resultados porque campeões da Classe 6 foram migrados para a classe S5.  

Foi provavelmente um dos piores momentos que vivi na minha trajetória. Um processo mal planejado, mal feito, intempestivo e que encerrou a carreira de ídolos que admiramos tanto e nos ensinaram tanto com suas trajetórias. O pior foi que o IPC reconheceu o erro, demitiu a pessoa responsável, mas mesmo reconhecendo, manteve o sistema equivocado para Tóquio. Infelizmente, essa decisão aposentou precocemente uma série de heróis paralímpicos.

Desafios da pandemia

Mais uma vez fomos pegos de surpresa com um fato inesperado nesse ciclo, a maior tragédia da nossa época, com essa terrível pandemia, que adiou os Jogos e os sonhos de tanta gente. Foi um momento duro para todos nós, atletas, dirigentes, técnicos, equipes de apoio, todos os que militam no esporte paralímpico. Muitos dos treinos passaram a ser feitos de forma improvisada, em casa, em condições precárias. Ainda que a gente tenha criado um esquema de acompanhamento remoto de nossa equipe de psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas, os treinos ficaram prejudicados. Algumas modalidades ficaram quatro meses sem poder treinar. Outras só puderam voltar de fato em fevereiro deste ano. Em abril, houve mais uma interrupção em função do aumento de casos. Chegamos aos Jogos de Tóquio conscientes da capacidade técnica e da resiliência e do esforço dos nossos atletas, mas com uma dúvida real do que seriam os Jogos em relação à falta de competição no mundo em 2020.

Resultados superlativos

Mesmo sabedores da capacidade de nossa equipe, de nossos atletas, mais uma vez eles mostraram que podem ir além daquilo que a gente imagina, daquilo que a gente espera. São capazes de muito mais do que a gente pode prever. Tivemos aqui performances espetaculares, com um brilho que me emocionou muitas vezes. Com certeza esses atletas nos mostram que faz todo o sentido esse trabalho, e isso traz ainda mais responsabilidade para seguirmos trabalhando e pensando num Brasil ainda melhor e que pode muito mais.

 

Protagonismo feminino 

Aumentar a participação feminina foi uma das metas estabelecidas pelo comitê em seu plano estratégico para Tóquio e Paris. Primeiro, nossa ideia foi aumentar quantitativamente. Temos aqui 60% de homens e 40% de mulheres, e queremos chegar ao patamar de uma participação igualitária. E em Tóquio tivemos, realmente, uma participação qualitativa espetacular da mulheres. Até então, sete das 19 medalhas de ouro foram conquistadas por elas, e 22 medalhas no total da delegação. Elas realmente nos proporcionaram momentos especiais.

"Não fosse o Bolsa Atleta, os resultados aqui seriam outros. Ele tem relevância muito importante no que a gente está vendo hoje. Ele dá condições para o atleta se desenvolver. E não só na ponta, mas desde lá da base, na escola. Desde o Bolsa Escolar que dá condições, incentiva e motiva a criança a persistir no esporte. O Bolsa Atleta tem uma participação decisiva em todos os resultados que a gente tem aqui"

Repercussão no Brasil

Foi uma edição em que tivemos um recorde de visibilidade das ações registradas aqui. Ontem, quinta-feira (02.09), cinco canais de televisão transmitiram cenas dos Jogos Paralímpicos. Foi uma chance única de levar todas as emoções que estamos vivendo aqui ao povo brasileiro, uma chance de mostrar os atletas incríveis que temos aqui.

Mudança de paradigma

Anteriormente, os atletas vinham ao CPB. Os clubes, associações, vinham a nós. Nós mudamos essa lógica a partir de nosso plano estratégico para Tóquio e Paris. Passamos a criar programas de modo que o CPB passou a ir atrás dos futuros atletas e pessoas com deficiência. Para isso, criamos alguns programas importantes. Uma escolinha com mais de 600 crianças no contraturno escolar. Criamos o Festival Paralímpico, para ofertar para muita gente a primeira oportunidade de conhecer o movimento paralímpico. Atendemos sete mil crianças em 2018. Atendemos dez mil crianças em 70 cidades em 2019.

Além disso, criamos o camping escolar. Já tínhamos anualmente a Paralimpíada Escolar. Muitas vezes, contudo, os atletas que se destacavam não tinham como dar sequência ao seu talento. O camping passou a ser uma oportunidade de termos esses atletas em nossa estrutura, no Centro de Treinamento de São Paulo, em janeiro e em julho. Eles passam a ter convívio com a equipe técnica do CPB e com atletas das seleções.

Inclusão além do esporte

No nosso plano estratégico, trouxemos também um plano de inclusão para o centro da nossa estratégia. Trabalhamos com a capacitação de professores. Começamos com 30 mil. Queremos chegar a até 100 mil em 2025. Tivemos também ações internas dentro do CPB. Quando produzimos esse plano, tínhamos apenas um colaborador com deficiência no time. Hoje temos 60. O plano tem, então, duas finalidades. Primeiro, mudar a lógica do movimento esportivo, indo atrás dos atletas. Em segundo lugar, incluir a pauta da inclusão efetiva do deficiente em nossa sociedade para o centro do nosso propósito. Trabalhar considerando esse tema tão importante como uma das missões do CPB.

Importância dos investimentos federais

São raros os países em que o financiamento do esporte de alto rendimento seja estritamente privado. No Brasil, não é diferente. A maior parte do nosso financiamento é público e temos programas e parcerias fundamentais. O Centro de Treinamento Paralímpico é possivelmente o principal legado dos Jogos Rio 2016. É o local privilegiado para a gente realizar todos os nossos programas e treinamentos. O Bolsa Atleta, por sua vez, é fundamental para o desenvolvimento do esporte. Não fosse o Bolsa Atleta, os resultados aqui seriam outros. Ele tem relevância muito importante no que a gente está vendo hoje. Ele dá condições para o atleta se desenvolver. E não só na ponta, mas desde lá da base, na escola. Desde o Bolsa Escolar que dá condições, incentiva e motiva a criança a persistir no esporte. O Bolsa Atleta tem uma participação decisiva em todos os resultados que a gente tem aqui.

Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br