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Natacao paralímpica

01/09/2021 13h10

Natação

Carol Santiago fecha campanha com terceiro ouro e melhor resultado de uma nadadora brasileira na história dos Jogos

Atleta pernambucana somou cinco pódios em seis provas. A performance é a mais expressiva de toda a delegação nacional em Tóquio

No mesmo dia em que a natação paralímpica brasileira se despediu de Daniel Dias, principal nome da história da modalidade no país, a delegação teve a chance de celebrar a performance mais consistente de uma nadadora nacional na história dos Jogos Paralímpicos.

Com a vitória nos 100m peito da classe 12, Maria Carolina Santiago encerrou uma maratona de seis provas no Centro Aquático de Tóquio. Em cinco delas, subiu ao pódio. Em três, com medalha de ouro (50m e 100m livre, além dos 100m peito). Foi prata com direito a fechar a prova no revezamento misto 4 x 100m livre e bronze nos 100m costas. A única oportunidade em que não saiu da piscina com medalha foi nos 100m borboleta, em que foi finalista e terminou em sexto.

Carol Santiago e os cinco adereços conquistados em sua primeira participação em Jogos Paralímpicos. Foto: Ale Cabral/ CPB

A performance de Carol Santiago faz dela não só a principal nadadora da equipe brasileira, mas a principal medalhista da delegação brasileira inteira em Tóquio. O ouro da atleta é o 15º do país, resultado que já supera o número de medalhas douradas conquistadas nos Jogos Rio 2016 (14). Agora o Brasil está a seis do recorde estabelecido em Londres 2012, com 21.

No ranking de multimedalhistas dos Jogos de Tóquio organizado pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC), Carol aparece em primeiro no feminino e em terceiro no geral. Só perde para o bielorrusso Ihar Boki, dono de cinco ouros na classe 13 da natação, e para o chinês Tao Zheng, com quatro ouros na classe 5 da modalidade. 

"Foi uma mudança que me mudou numa perspectiva muito pessoal. Passei a entender como funcionava o movimento paralímpico. Como é grandioso. É o resultado da realização de um sonho sonhado por muita gente"
Carol Santiago

"Isso aqui é a realização de um sonho que começou em 2018", afirmou Carol, de 36 anos, em referência ao fato de ter migrado do esporte olímpico rumo ao paralímpico há menos de três anos. A atleta nasceu com síndrome de Morning Glory, alteração congênita na retina que reduz seu campo de visão, e durante muito tempo não sabia que poderia atuar no esporte adaptado. "Foi uma mudança que me mudou numa perspectiva muito pessoal. Passei a entender como funcionava o movimento paralímpico. Ver como é grandioso. Esse é o resultado da realização de um sonho sonhado por muita gente", afirmou.

Mais do que vitórias, Carol estabeleceu marcas. Na prova dos 100m peito, ela fechou a distância em 1min14s89, novo recorde paralímpico da classe S12. A prata ficou com Daria Lukianenko, do Comitê Paralímpico Russo (1min17s55) e o bronze, com a ucraniana Yaryna Matlo (1min20s31). A paraense Lucilene Sousa, outra brasileira na prova, terminou na quinta colocação, com 1min30s25. Carol também estabeleceu uma nova marca paralímpica nos 50m livre, que venceu com 26s87. 

Carol Santiago mergulhou seis vezes na piscina do Centro Aquático de Tóquio e saiu com cinco medalhas. Foto: Helano Stuckert/ rededoesporte.gov.br

Performar e renovar

Segundo Carol, houve um trabalho muito minucioso em várias frentes para que ela chegasse a Tóquio capaz de performar, renovar energias e manter baixo o patamar de ansiedade diante de tantas provas em que tinha índices e tempos compatíveis com o pódio. "Foi por isso que eu estava mais emocionada hoje ao ouvir o Hino Nacional. Passei por um processo de preparação que foi bruto, tanto físico, quanto psicológico quanto nutricional para que pudesse performar e aguentar os picos de ansiedade entre uma prova e outra, para virar a chave e nadar bem", disse.

A felicidade maior de Carol ocorreu porque chegou ao último dia, em sua prova preferida, e conseguiu nadar como gostaria. "O grande desafio era chegar nos 100m peito e nadar bem, sair satisfeita. Bater na borda como era para bater, voltar como era para voltar e chegar na frente", celebrou a atleta, que pretende agora conversar com a comissão técnica para avaliar quais serão as prioridades para o próximo ciclo.

"Quero muito Paris. Espero que seja um ciclo com menos intercorrências, menos pausas. Talvez apostar num programa mais específico, mais enxuto, não tão grande. Hoje não quero abrir mão de nenhuma prova, mas vamos pensar nisso. Sou meio soldado, o que o técnico falar para fazer, eu faço", brincou.

Com a projeção que adquiriu em Tóquio, Carol espera que outras pessoas se sintam inspiradas a se voltar para o esporte paralímpico. "Acredito que todo excelente resultado inspira outros que possam vir depois. Como mulher, penso que conquistar três medalhas de ouro e performar em tantas provas só diz que é possível para outras. Se você quiser, se você se dedicar, é possível. E é importante ressaltar que o trabalho que foi feito comigo foi muito específico, muito carinhoso, tanto como atleta quanto como mulher".

Talisson Glock e Cecília Araújo também subiram ao pódio. Fotos: Helano Stuckert/ rededoesporte.gov.br

Outros resultados

O Brasil conquistou outras duas medalhas no Centro Aquático de Tóquio nesta quarta. A potiguar Cecília Araújo, de 22 anos, ficou com a prata nos 50m livre (classe S8). Ela fechou a prova em 30s83, atrás de Viktoriia Ishchiulova (29s91), do Comitê Paralímpico Russo. O pódio foi completado pela italiana Francesca Palazzo, o bronze com o tempo de 31s17.  "É uma medalha com sabor de dever cumprido. No Rio 2016 adoeci antes dos Jogos e não nadei a minha principal prova. Era a medalha que faltava. Vim aqui para me divertir, fazer o que sei fazer e descer o braço", afirmou.

Já o catarinense Talisson Glock, de 26 anos, foi bronze nos 100m livre (classe S6). Com o tempo de 1min05s45, o brasileiro ficou atrás do italiano Antonio Fantin, que conquistou o ouro com o recorde mundial da prova (1min03s71), e do colombiano Nelson Crispin, medalhista de prata (1min04s82). 

"Essa medalha veio para consagrar a competição. Gostaria de dedicar à minha mãe. Queria ter nadado na marca de 1min04s. A virada poderia ter sido um pouquinho melhor. Perdi um pouco no submerso, mas estou feliz e satisfeito, pois nadei três vezes para o meu melhor tempo. Agora é corrigir os erros. Amanhã, tem os 400m", analisou Glock.

Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br