Judô
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Érika Miranda luta pelo bronze, mas perde e Brasil segue sem medalhas no judô
Depois de um início ruim, com dois medalhistas de Londres-2012 deixando os tatames longe do pódio, o judô brasileiro viveu novamente um drama neste domingo (07.08), na Arena Carioca 2, no Parque Olímpico da Barra. Estreando nos Jogos Olímpicos contra o japonês tricampeão mundial Masashi Ebinuma, Charles Chibana (-66kg) foi eliminado logo na primeira rodada. No feminino, Érika Miranda (-52kg) seguiu o mesmo caminho de Sarah Menezes e Felipe Kitadai na véspera, e também caiu nas quartas de final, restando a repescagem. A brasiliense ainda alcançou a disputa do bronze, mas, no golden score, perdeu a chance de colocar o país pela primeira vez no pódio no judô nos Jogos do Rio.
Érika chegou à competição como a quarta melhor do ranking, tendo subido ao pódio em todos os mundiais do ciclo olímpico. Em 2013, também na Rio, levou a prata. Nos dois anos seguintes, o bronze. Ainda em 2015, sagrou-se campeã dos Jogos Pan-Americanos de Toronto. Como cabeça de chave da competição olímpica, a brasileira deu início às disputas já pelas oitavas de final, diante de Hela Ayari, da Tunísia. Sem grande esforço, após pouco mais de um minuto de luta, Érika imobilizou a rival até ouvir o ippon.
Pela frente, a atleta teria a chinesa Yingnan Ma, campeã asiática de 2015. À frente durante todo combate, com a adversária punida, Érika, contudo, sofreu um contragolpe a apenas 20 segundos para o fim da luta e levou um wazari. Sem tempo para reverter o quadro, a judoca teve que seguir para a repescagem da categoria. “Ela perdeu para a chinesa, não foi a chinesa que ganhou dela”, define Ney Wilson, gestor técnico de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ). “Ela estava com a vitória na mão e falhou. Para a gente era uma luta vencida”, reconhece.
Com a derrota, Érika precisou seguir por um caminho em que encontraria adversárias bem mais árduas. Na repescagem, enfrentou a romena Andreea Chitu, atual vice-campeã mundial e vice-líder do ranking. Desta vez, contudo, a virada nos segundos finais foi a seu favor. Perdendo por um wazari e com a desvantagem de uma punição, a brasileira alterou todo placar com um ippon a 27 segundos para o fim do combate. “Tenho que parabenizar o público, que fez um show à parte e me empurrou bastante”, agradece a judoca.
Credenciada para a disputa do bronze, e vivendo a primeira chance real de colocar o Brasil no pódio olímpico do judô no Rio, Érika teria o desafio de vencer a japonesa Misato Nakamura, tricampeã mundial e bronze nos Jogos de Pequim, em 2008. Até então, as duas já haviam se enfrentado sete vezes, com todas as vitórias para o lado asiático. E desta vez não foi diferente. Com uma punição para cada lado, a luta seguiu para o golden score. Após 2min18s do tempo extra, a dona da casa sentiu o cansaço, sofreu um yuko e deu adeus ao sonho da medalha.
“A maior derrota não é nem para uma ou para outra (chinesa ou japonesa). É sair daqui sem medalha”, lamenta Érika, visivelmente abalada. “Estou agradecida por tudo que já passei nas minhas histórias de ciclos olímpicos e hoje faltou muito pouquinho. Aí fica esse sentimento ruim. Não sei ainda muito o que pensar ou o que fazer”, diz, desapontada. Em Pequim-2008, a judoca estava classificada para os Jogos, mas se lesionou e não competiu. Já em Londres-2012, Érika caiu logo na primeira rodada.
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Lição para o futuro
No masculino, Charles Chibana, considerado um dos judocas mais talentosos da nova geração da equipe brasileira, não teve sorte desde o sorteio de chaves realizado na última quinta-feira (4). Logo na primeira luta, em sua estreia nos Jogos Olímpicos, precisou enfrentar o japonês Masashi Ebinuma, tricampeão mundial, e que também havia superado o brasileiro na semifinal do Mundial de 2013, no Rio de Janeiro.
Chibana começou bem no embate, tentou uma chave de braço no rival, mas, em um momento de distração, acabou imobilizado. “Era uma luta bem agressiva em que os detalhes faziam a diferença. Acho que me descuidei um pouco e ele acabou me imobilizando”, lamenta. “Acabei não apertando bem o braço. Achei que estava bem preso, mas ele antecipou a minha passada”, explica o campeão dos Jogos Pan-Americanos de Toronto de 2015.
Mesmo com a eliminação, Chibana leva o aprendizado para casa, já pensando em uma nova oportunidade. “Quando a gente é criança, a gente sonha em disputar as Olimpíadas. Eu sonhei e hoje estou vivendo uma realidade. Pude ter certeza de que é possível. Sei que tenho capacidade para isso. É levantar a cabeça e treinar para 2020. É possível estar lá, basta acreditar como eu acreditei e batalhar bastante”, adianta o judoca, que contou com uma torcida de 80 pessoas uniformizadas, além de toda arena gritando seu nome, mesmo após a derrota. “Isso dá mais motivação para a gente levantar a cabeça, treinar mais ainda para sentir essa energia de novo”, aponta.
Pressão crescente
O Brasil segue sem medalhas no judô e vive uma cobrança cada vez maior para, de fato, cumprir a meta de ter a melhor campanha da história nos Jogos. O resultado a ser batido é o de Londres, quando o país faturou um ouro e três bronzes. “Ontem seria um dia muito bom e hoje a gente tinha uma possibilidade muito boa com a Érika, além de não descartarmos que o Chibana pudesse passar pelo japonês, mas ainda temos cinco dias e chances de melhorar nosso resultado”, ressalta Ney Wilson.
Já Érika criticou a ideia geral de que o país precise sempre subir ao pódio da modalidade. “As pessoas que falam que o judô tem que ganhar medalha sempre são as pessoas que não vivem do esporte”, opina. “O atleta que sobe no tatame quer mais do que todo mundo, está se doando e se entregando para isso, mas aqui é uma Olimpíada”, completa. A modalidade é a que deu mais medalhas ao Brasil na história dos Jogos Olímpicos, com 19 pódios.
Nesta segunda-feira (8), a carioca Rafaela Silva (-57kg), campeã mundial no Rio em 2013, estreia contra a alemã Miryam Roper. “Ela está muito motivada, louca para começar a competir. A Rafaela luta muito bem em casa e lida bem com a torcida, com o pessoal gritando. Acredito que ela faça uma boa competição amanhã”, aposta o gestor técnico sobre a atleta revelada no Instituto Reação, na Cidade de Deus. Pelo masculino, o estreante Alex Pombo (-73kg) fará sua primeira rodada contra o chinês Saiyinjirigala.
Medalha histórica
Se o Brasil segue com o quadro de medalhas vazio no judô, outro país viveu um momento histórico neste segundo dia de lutas. Competindo nos Jogos Olímpicos pela primeira vez, o Kosovo viu a atleta Majlinda Kelmendi conquistar o ouro inédito. “Isso significa muito para mim e para o meu país. Vivi quatro anos para esse momento. Fiquei muito feliz em ver a minha bandeira e ouvir o meu hino. Sei que não sou só eu e meus pais que estamos felizes, mas todo o povo e as crianças de Kosovo, que me veem como uma heroína. É um sonho se tornando realidade”, declara.
Campeã mundial em 2013 e 2014, Majlinda chegou ao Rio como líder do ranking e porta-bandeira de seu país no desfile de abertura. Na semifinal, venceu justamente a japonesa que derrotaria Érika Miranda na disputa pelo bronze. “Eu me inspiro muito na Nakamura. Ela entra para lutar, e não para fazer show. É disso que eu gosto”, elogia Majlinda. “Por uns quatro ou cinvo anos, eu disse que queria ser como ela, e hoje ganhei dela. É como vencer uma lenda”, comemora.
A prata da categoria ficou com a italiana Odette Giuffrida, e o outro bronze com a russa Natalia Kuziutina. No masculino, ouro para o italiano Fabio Basile, que derrotou na decisão o sul-coreano Baul An, atual campeão mundial e líder do ranking. Os bronzes ficaram com o japonês Masashi Ebinuma, algoz de Chibana, e com o uzbeque Rishod Sobirov.
Até o momento, a Itália lidera a competição de judô, com um ouro e uma prata, seguida pela Rússia (um ouro e um bronze) e pela Argentina (um ouro). O Brasil aparece em nono, com um quinto lugar (Érika) e duas sétimas colocações (Sarah e Kitadai).
Galeria de fotos (disponíveis para uso editorial, desde que citado o crédito)
Programação
Preliminares: 10h
Bloco final: 15h30
Segunda-feira (8.8)
Rafaela Silva (-57kg)
Alex Pombo (-73kg)
Terça-feira (9.8)
Mariana Silva (-63kg)
Victor Penalber (-81kg)
Quarta-feira (10.8)
Maria Portela (-70kg)
Tiago Camilo (-90kg)
Quinta-feira (11.8)
Mayra Aguiar (-78kg)
Rafael Buzacarini (-100kg)
Sexta-feira (12.8)
Maria Suelen Altheman (+78kg)
Rafael Silva (+100kg)
Ana Cláudia Felizola – brasil2016.gov.br