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Atletismo

15/09/2018 22h41

Baku 2018

Rosicleia Campos: técnica e testemunha da história no judô

Hoje coordenadora da seleção feminina, a treinadora acompanhou de perto resultados inéditos nos últimos anos. Para o Mundial do Azerbaijão, está confiante em novos feitos

A carioca Rosicleia Campos viveu, nos últimos sete anos, as maiores emoções de sua vida nos tatames. Como técnica da seleção brasileira feminina, assistiu a história sendo feita bem de perto quando, aos gritos, empurrou a piauiense Sarah Menezes rumo ao ouro olímpico nos Jogos de Londres 2012. A medalha marcou o primeiro triunfo do judô feminino brasileiro na maior competição esportiva do planeta.

Depois disso, vieram o título da carioca Rafaela Silva em 2013, no Rio de Janeiro, resultado que entrou para a história como a primeira medalha dourada do país no Campeonato Mundial, feito que a gaúcha Mayra Aguiar repetiu no ano seguinte em Chelyabinsk, na Rússia, tudo sempre sob o olhar atento de Rosicleia.

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Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br
"A gente tem uma equipe muito experiente. Teremos bons resultados, tanto no feminino quanto no masculino"
Rosicleia Campos

Em 2016, durante os Jogos Olímpicos do Rio, quando brilhou na Arena Carioca 2, no Parque Olímpico, Rafaela Silva tornou-se a primeira atleta do judô brasileiro (entre homens e mulheres) a conquistar o ouro olímpico e o Mundial. E, em 2017, Mayra Aguiar, com o triunfo em Budapeste, firmou-se entre as lendas da modalidade como a única bicampeã mundial do país entre as mulheres.

Agora, Rosicleia Campos tem a chance de, novamente, ver a história sendo feita diante de si no judô. A partir do dia 20 de setembro, em Baku, no Azerbaijão, um time de 22 atletas disputa mais um Mundial pelo Brasil. Mayra pode se tornar a única tricampeã, já que hoje divide o posto de bicampeã com o também gaúcho João Derly (ouro em 2005, no Cairo, e, em 2007, no Rio de Janeiro).

"A gente tem uma equipe muito experiente", destaca Rosicleia. "Tem a campeã olímpica, que é a Rafaela, a Mayra é bicampeã mundial, a Érika (Érika Miranda) tem três medalhas, a Susu (Maria Suelen Altheman) tem duas, Portelinha (Maria Portela) com um quinto lugar... Então, temos atletas que realmente chegaram perto ou subiram ao pódio em um Mundial", enumera Rosicleia, hoje coordenadora da equipe feminina do Brasil.

Qualquer nova conquista, assim como foram as outras, não será fácil. E Rosicleia sabe disso. Principalmente porque o torneio em Baku tem um "aperitivo" que o torna mais disputado ainda. "É o primeiro Mundial valendo pontos para o ranking olímpico (visando aos Jogos de Tóquio 2020). Então, está cheio, com muitas adversárias. Mas estamos confiantes. Foi um trabalho todo voltado para elas chegarem bem na competição e a gente sempre espera o melhor. Mas em uma competição a gente nunca sabe o que pode acontecer. Por isso é que só tem quatro lugares lá (no pódio). Tomara que estejamos preenchendo esses lugares. Então, é reflexo de tudo o que a gente faz. Teremos bons resultados, tanto no feminino quanto no masculino", crava a treinadora.

Confiança na campeã olímpica

No time do Brasil, duas atletas atrairão mais atenção que as demais pela distinção que carregam nos quimonos. Rafaela Silva, atual campeã olímpica, usará em Baku um back number (identificação que os atletas usam nas costas) dourado. Só aqueles que conquistaram o ouro no Rio 2016 têm essa honra. Já Mayra Aguiar terá um back number vermelho, concedido aos atuais campeões mundiais.

"Se os recordes forem quebrados é consequência. É igual o filho quando fala assim: 'Pai, tirei dez!' e o pai diz: 'Você não fez do que a sua obrigação'. Vai ser tipo isso. Se a gente bater os recordes, a gente não vai ter feito mais do que a nossa obrigação"

Apesar de Rafaela Silva ter competido em apenas três torneios nesta temporada, pois ficou afastada por quase quatro meses das competições devido a uma cirurgia no cotovelo esquerdo, realizada em janeiro, Rosicleia está otimista em relação à campeã olímpica.

"Ela está bem", afirma. "Ficou sem competir, mas acabou de ser campeã em Budapeste, no mesmo ambiente onde foi o Mundial do ano passado (quando Rafaela foi eliminada na estreia). Ela respirou a mesma atmosfera em um outro momento e estava super segura. Ela é a atleta a ser batida. Não tem jeito. Com um back number dourado nas costas, está marcada. Literalmente marcada. É para não ser perdida de vista. É um alvo. Mas ela tem maturidade para conviver bem com isso, lutou muito bem nessa competição em Budapeste, foi campeã, e não tenho dúvida de que vai fazer uma boa competição. Subir no pódio é consequência", continua.

Mais do que a obrigação

Outro feito histórico que pode ser alcançado em Baku é a quebra do recorde de medalhas do país em Mundiais. Até aqui, a melhor campanha foi no Rio de Janeiro, em 2013, quando sete medalhas foram conquistadas: seis no individual (todas com mulheres) e uma no torneio por equipe.

Essa marca pode ser alcançada ou superada no Azerbaijão? Rosicleia pondera sobre as diferenças entre competir em casa e em solo estrangeiro.

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 "Os nossos recordes foram batidos quando os dois mundiais foram no Brasil, tanto o de 2007 quando o de 2013. Em 2007, quando a gente fala do masculino, com as medalhas de ouro dos meninos, e o de 2013, das meninas, que foi incrível o que elas fizeram (veja a lista dos campeões abaixo)", recorda a treinadora.

"Então, a atmosfera muda quando você recebe uma competição. O ambiente favorável acaba trazendo os frutos. Não estou dizendo que o recorde não será batido em Baku. Mas isso faz diferença. É um campeonato que está cheio, tomara que a gente quebre os recordes. A gente treina para isso: para quebrar recordes. Sejam eles pan-americanos, mundiais, olímpicos", diz.

Na sequência, Rosicleia mostra estar bem ciente de que, no esporte, a expectativa é sempre que uma vitória puxe a outra, como tem sido até aqui no caso do judô. "Se os recordes forem quebrados é consequência. É igual o filho quando fala assim: 'Pai, tirei dez!' e o pai diz: 'Você não fez mais do que a sua obrigação'. Vai ser tipo isso. Se a gente bater os recordes, a gente não vai ter feito mais do que a nossa obrigação, né? É bem por aí. É como o Ney (Ney Wilson, gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô) fala: 'No judô, diferentemente dos outros esportes, a gente vive em uma permanente cobrança'. Mas a gente está acostumado com isso", encerra.

Comissão Técnica do Brasil no Mundial de Baku

Ney Wilson Pereira - gestor de Alto Rendimento
Seleção Masculina
Luiz Shinohara - Coordenador
Yuko Fujii - Técnica
Seleção Feminina
Rosicleia Campos - Coordenadora
Mario Tsutsui - Técnico

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Retrospecto do Brasil no Campeonato Mundial Sênior

» 7 Ouros
» 12 Pratas
» 25 Bronzes
» Total: 44 medalhas

Retrospecto do Brasil no Campeonato Mundial por Equipes Mistas

» 1 Prata - 2017, em Budapeste - Hungria

Todos os medalhistas do Brasil no Mundial Sênior

1971 (Ludwigshafen/GER)
Chiaki Ishii (-93kg/bronze)

1979 (Paris/FRA)
Walter Carmona (-86kg/bronze)

1987 (Essen /GER)
Aurélio Miguel (-95kg/bronze)

1993 (Hamilton/CAN)
Aurélio Miguel (-95kg/prata)
Rogério Sampaio (leve/bronze)

1995 (Tóquio/JPN)
Danielle Zangrando (-56kg/bronze)

1997 (Paris/FRA)
Aurélio Miguel (-95kg/prata)
Edinanci Silva (-72kg/bronze)
Fúlvio Myata (-60kg/bronze)

1999 (Birmingham/GBR)
Sebastian Pereira (-73kg/bronze)

2003 (Osaka/JPN)
Mario Sabino (-100kg/bronze)
Edinanci Silva (-78kg/bronze)
Carlos Honorato (-90kg/bronze)

2005 (Cairo/EGY)
João Derly (-66kg/ouro)
Luciano Corrêa (-100kg/bronze)

2007 (Rio de Janeiro/BRA)
João Derly (-66kg/ouro)
Tiago Camilo (-81kg/ouro)
Luciano Correa (-100kg/ouro)
João Gabriel Schilittler (+100kg/bronze)

2010 (Tóquio/JPN)
Mayra Aguiar (-78kg/prata)
Leandro Guilheiro (-81kg/prata)
Leandro Cunha (-66kg/prata)
Sarah Menezes (-48kg/bronze)

2011 (Paris/FRA)
Leandro Cunha (-66kg/prata)
Rafaela Silva (57kg/prata)
Sarah Menezes (-48kg/bronze)
Leandro Guilheiro (-81kg/bronze)
Mayra Aguiar (-78kg/bronze)

2013 (Rio de Janeiro/BRA)
Rafaela Silva (-57kg/ouro)
Érika Miranda (-52kg/prata)
Maria Suelen Altheman (+78kg/prata)
Rafael Silva (+100kg/prata)
Sarah Menezes (-48kg/bronze)
Mayra Aguiar (-78kg/bronze)

2014 (Chelyabinsk/RUS)
Mayra Aguiar (-78kg/ouro)
Maria Suelen Altheman (+78kg/prata)
Erika Miranda (-52kg/bronze)
Rafael Silva (+100kg/bronze)

2015 (Astana/CAZ)
Érika Miranda (-52kg/bronze)
Victor Penalber (-81kg/bronze)

2017 (Budapeste/HUN)
Érika Miranda (-52kg/bronze)
Mayra Aguiar (-78kg/ouro)
David Moura (+100kg/prata)
Rafael Silva (+100kg/bronze)

Luiz Roberto Magalhães - rededoesporte.gov.br

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