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Judô

17/09/2018 12h38

Baku 2018

Rafael Silva e David Moura: eles só pensam no ouro do Mundial de judô

Dupla do Brasil na categoria pesado no Azerbaijão fala sobre a ausência do ídolo francês Teddy Riner e analisa o caminho na briga pelo pódio. Os dois podem se enfrentar numa semifinal

Tradicionalmente, a categoria pesado no judô costuma render lutas intensas. Afinal, ali, além da técnica apurada, os atletas têm muita força. A turma que disputa medalhas nesse nível deve ter mais de 100 quilos e isso transforma os encontros no tatame em combates de gigantes.

Para o Mundial de Baku, que tem início nesta quinta-feira (20.9), a categoria virá repleta de expectativa no masculino. Isso porque o francês Teddy Riner, bicampeão olímpico (Londres 2012 e Rio 2016) e 10 vezes campeão mundial, entre 2007 e 2017 (incluindo títulos em Mundiais Absolutos), anunciou que não irá ao Azerbaijão.

Rafael Silva, o Baby (à esquerda) e David Moura: brasileiros podem se enfrentar na semifinal em Baku. Fotos: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br
"Para mim só interessa o ouro. Já sou prata. Lógico que se eu conquistar um bronze vai ser legal, mas eu estou indo só querendo o ouro mesmo"
David Moura, judoca

Com a ausência de Riner, invicto desde 2010 e que acumula um retrospecto de 130 vitórias e nenhuma derrota, segundo as estatísticas do site judobase.org, abre-se uma disputa à parte pelo título mundial. E nessa briga há dois brasileiros bem cotados: o mato-grossense David Moura e o sul-mato-grossense Rafael Silva, o Baby, ambos beneficiados com a Bolsa Pódio do Governo Federal.

O primeiro é o atual vice-campeão mundial que, em 2017, perdeu a decisão em Budapeste em uma disputa acirrada contra Riner. O segundo tem no currículo três medalhas em Mundiais (prata em 2013 e bronze em 2017 e 2014), além de dois bronzes em Jogos Olímpicos (em Londres 2012 e no Rio 2016).

A ambos falta subir no topo do pódio no Mundial. E é isso que os dois esperam fazer na capital do Azerbaijão. "Hoje acho que estou mais forte, mais maduro, consistente. Estou mais leve, pois já tenho a minha medalha no Mundial e isso me ajuda. Então, vou com tudo. Vou ser mais ousado para buscar esse ouro. Acho que para mim só interessa o ouro. Já sou prata. Lógico que se eu conquistar um bronze vai ser legal, mas eu estou indo só querendo o ouro mesmo", afirma David Moura, 31 anos, atleta do Instituto Reação, no Rio de Janeiro.

Já Baby, atleta do Pinheiros (SP), espera fechar sua coleção de medalhas em Mundiais no Azerbaijão, embora seja menos incisivo nas afirmações. "A expectativa é boa. Eu comecei o ano bem, fiz dois pódios, um na Europa e um na Ásia (foi bronze no Grand Prix de Hohhot, na China, e bronze no Grand Slam de Ecaterinburgo, na Rússia). Esse Mundial é um pouco diferente do que foi no ano passado. Os principais atletas que vão participar das Olimpíadas já estão despontando nas categorias, então vai ser muito importante. Primeiro por conta dessa classificação olímpica (é o primeiro Mundial a valer pontos para o ranking visando aos Jogos de Tóquio 2020) e depois por conta desse nível técnico, com atletas que já vão lutar a Olimpíada de 2020", continua Baby.

Assista à entrevista com David Moura

Assista à entrevista com Rafael Silva

A caminhada sem Riner

David Moura e Rafael Silva têm opiniões semelhantes sobre a ausência de Teddy Riner no Mundial de Baku. Os dois destacam que a concorrência será forte por parte dos atletas que subiram de categoria, do meio-pesado para o pesado, neste ciclo rumo a Tóquio 2020.

"Acho ruim ele (Teddy Riner) não participar. É um adversário que é referência na categoria. Todo mundo está procurando ganhar do Teddy Riner desde 2010"
Rafael Silva, judoca

"Vou confessar que a princípio eu não gostei muito", diz David Moura, referindo-se a Teddy Riner não competir este ano. "Acho que tirou um pouquinho o brilho da competição para a gente, porque ele é o cara a ser batido. Eu sempre sonhei em ser campeão mundial ganhando dele, porque é quase uma certeza de que ele estaria ali na final, como esteve comigo", recorda.

"Mas, por outro lado, se abrem mais as possibilidades de ser campeão mundial. Acho que todo mundo está indo com essa vontade por ser um pouco mais nivelado hoje, com uma galera forte que subiu do meio-pesado. Então, estou fazendo a minha parte. Estou indo com vontade de buscar esse ouro e é só o que importa e o que me interessa. Estou focado nisso", prossegue Moura.

Em 2018, a Federação Internacional de Judô passou a adotar novas regras. Entre elas, as que modificam a luta durante o golden score, como é chamada a prorrogação na modalidade. Agora, o atleta que acumular dois waza-aris volta a ganhar a luta por ippon e, no golden score, o combate só pode ser definido por pontuações técnicas: waza-ari ou ippon. Ou seja: um shido (infração) não determina mais o ganhador do golden score.

Teddy Riner (de preto), com Baby, no pódio do Rio 2016: super campeão francês não luta e abre o caminho para o ouro aos riviais. Foto: IJF

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Para David Moura, as mudanças o beneficiam. "Ano passado, eu consegui a prata e fiz uma ótima final com o Teddy Riner. Fomos para o golden. A regra mudou um pouquinho e acho que mudou a meu favor, inclusive porque acontecia de eu perder algumas lutas por shido (infração) e hoje só perde se forem três shidos. Então, acabou a desculpa", frisa o mato-grossense.

Baby também lamenta a ausência de Riner. "Acho ruim ele não participar. Seria interessante que ele lutasse, porque provavelmente ele vai estar em Tóquio. Além do mais, é um adversário que é referência na categoria. Todo mundo está procurando ganhar do Teddy Riner desde 2010. Então, ele é um atleta que seria de extrema importância estar no páreo para disputar o Mundial".

O National Gymnastics Arena, em Baku, palco do Mundial de Judô 2018. Foto: Luiz Roberto Magalhães/rededoesporte.gov.br

O fato de Riner não estar na chave, contudo, não torna a caminhada tranquila na opinião de Baby, que enumera alguns rivais que podem chegar ao pódio em Baku. "O pesado sofreu um pouco de mudança. Muitos atletas que eram da categoria dos 100 quilos (meio-pesado) subiram. É o caso do Krpalek, que é da República Tcheca (Lukaš Krpalek). Ele foi campeão olímpico no Rio e subiu para o pesado", exemplifica.

"Ele é um adversário difícil. Figurou bem já em Paris (ficou com o bronze no Grand Prix francês) e lutou algumas competições (este ano foi bronze no Campeonato Aberto Europeu, em Praga, e campeão do Campeonato Europeu Senior, em Israel). E tem o georgiano que subiu dos 100 quilos e está indo muito bem. Inclusive fez uma boa luta com o Teddy no Mundial do ano passado", continua Baby, referindo-se a Guran Tushishvili, que em 2018 foi campeão do Grand Prix de Tbisili, na Rússia, e campeão do Grand Prix de Zagreb, na Croácia. "São atleta que já estão fortes na categoria e que a gente vai ter que combater, porque provavelmente eles vão estar brigando em Tóquio 2020", prevê Baby.

Rivalidade verde-amarela

Rivais no tatame e na briga por uma vaga para o time que defenderá o Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, Baby e David Moura podem se encontrar na semifinal em Baku. Uma rivalidade tão acentuada nos tatames entre atletas da mesma nacionalidade não é algo muito agradável, na opinião de Rafael Silva.

"Para os atletas é um pouco desconfortável, mas para o Brasil é muito bom ter dois atletas em um alto nível, brigando pela vaga olímpica, brigando por colocações no Mundial", diz Baby, que destaca que isso mantém ambos sempre no limite.

Vista interna do National Gymnastics Arena: técnicos acertam os últimos detalhes para o Mundial. Foto: Luiz Roberto Magalhães/rededoesporte.gov.br

"É bom, pois os dois não ficam acomodados. Os dois querem disputar, tem essa rivalidade dentro do tatame, é claro, e os dois têm bastante chances. Pensando no chaveamento e nos cabeças de chave, a gente não sai no mesmo quadrante, mas podemos nos enfrentar em uma possível semifinal. Mas é bastante imprevisível. O Mundial vai estar bastante cheio, provavelmente com mais de 40 atletas na categoria, então é difícil configurar como é que vai ficar. Mas é um privilégio, realmente, ter dois atletas fortes na categoria disputando uma vaga olímpica", ressalta Baby.

Preparativos

Com cerca de 2,1 milhões de habitantes, a capital do Azerbaijão, localizada à beira do Mar Cáspio, é uma cidade moderna e acostumada a sediar eventos esportivos de grande porte, como o GP de Baku de Fórmula 1, vencido, em abril, pelo britânico Lewis Hamilton.

A seleção brasileira que disputará o Mundial em Baku posa toda junta durante a aclimatação na França, antes do embarque dos primeiros atletas para a capital do Azerbaijão. Foto: CBJ

O Mundial de Judô será disputado no National Gymnastics Arena, onde, nesta segunda-feira (17.9), apenas os técnicos trabalhavam nos últimos acertos para deixar tudo pronto para o início da competição.

A primeira parte dos atletas do Brasil desembarca em Baku nesta terça-feira (18), vindos da França, onde os 22 judocas do país fizeram a aclimatação. Gabriela Chibana, Érika Miranda, Jéssica Pereira, Phelipe Pelim, Eric Takabatake, Charles Chibana e Daniel Cargnin são os primeiros a chegar ao Azerbaijão.

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Todos os medalhistas do Brasil no Mundial Sênior

1971 (Ludwigshafen/GER)
Chiaki Ishii (-93kg/bronze)

1979 (Paris/FRA)
Walter Carmona (-86kg/bronze)

1987 (Essen /GER)
Aurélio Miguel (-95kg/bronze)

1993 (Hamilton/CAN)
Aurélio Miguel (-95kg/prata)
Rogério Sampaio (leve/bronze)

1995 (Tóquio/JPN)
Danielle Zangrando (-56kg/bronze)

1997 (Paris/FRA)
Aurélio Miguel (-95kg/prata)
Edinanci Silva (-72kg/bronze)
Fúlvio Myata (-60kg/bronze)

1999 (Birmingham/GBR)
Sebastian Pereira (-73kg/bronze)

2003 (Osaka/JPN)
Mario Sabino (-100kg/bronze)
Edinanci Silva (-78kg/bronze)
Carlos Honorato (-90kg/bronze)

2005 (Cairo/EGY)
João Derly (-66kg/ouro)
Luciano Corrêa (-100kg/bronze)

2007 (Rio de Janeiro/BRA)
João Derly (-66kg/ouro)
Tiago Camilo (-81kg/ouro)
Luciano Correa (-100kg/ouro)
João Gabriel Schilittler (+100kg/bronze)

2010 (Tóquio/JPN)
Mayra Aguiar (-78kg/prata)
Leandro Guilheiro (-81kg/prata)
Leandro Cunha (-66kg/prata)
Sarah Menezes (-48kg/bronze)

2011 (Paris/FRA)
Leandro Cunha (-66kg/prata)
Rafaela Silva (57kg/prata)
Sarah Menezes (-48kg/bronze)
Leandro Guilheiro (-81kg/bronze)
Mayra Aguiar (-78kg/bronze)

2013 (Rio de Janeiro/BRA)
Rafaela Silva (-57kg/ouro)
Érika Miranda (-52kg/prata)
Maria Suelen Altheman (+78kg/prata)
Rafael Silva (+100kg/prata)
Sarah Menezes (-48kg/bronze)
Mayra Aguiar (-78kg/bronze)

2014 (Chelyabinsk/RUS)
Mayra Aguiar (-78kg/ouro)
Maria Suelen Altheman (+78kg/prata)
Erika Miranda (-52kg/bronze)
Rafael Silva (+100kg/bronze)

2015 (Astana/CAZ)
Érika Miranda (-52kg/bronze)
Victor Penalber (-81kg/bronze)

2017 (Budapeste/HUN)
Érika Miranda (-52kg/bronze)
Mayra Aguiar (-78kg/ouro)
David Moura (+100kg/prata)
Rafael Silva (+100kg/bronze)

Luiz Roberto Magalhães, de Baku, no Azerbaijão - rededoesporte.gov.br