Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Perder para a melhor do mundo é normal? Não exatamente para Larissa Pimenta

Judô

26/08/2019 05h50

Mundial de Judô 2019

Perder para a melhor do mundo é normal? Não exatamente para Larissa Pimenta

Brasileira é eliminada pela supercampeã Uta Abe, considerada um fenômeno da modalidade e uma grande aposta do Japão para 2020, mas não baixa a guarda e já projeta futuro com a rival

Banner - Mundial de Judô 2019

Uta Abe, de 19 anos, fez o que está acostumada. Entrou no tatame, olhou para a adversária, deu um grito para se conectar com a estratégia que desenhou e partiu para cima. Sem muito estudar a pegada, projetou a adversária em waza-ari. Menos de um minuto e meio depois, repetiu o processo e jogou a rival de ippon. Era a trigésima oitava vitória seguida. A vigésima quarta com o golpe perfeito da atual campeã mundial, considerada por muitos uma das mais habilidosas e consistentes atletas que o Japão já produziu.

Larissa diante de Uta Abe: derrotada, mas já pensando na próxima oportunidade. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

A atleta derrotada, no entanto, não é do time que topa digerir com naturalidade a superioridade de rivais. O semblante e o discurso da jovem Larissa Pimenta, de 20 anos, na entrevista logo após a eliminação na categoria -52kg no Mundial de Tóquio, são o retrato de quem não aceita ser superada de forma passiva. A brasileira que vinha do ouro nos Jogos Pan-Americanos, do título no campeonato pan-americano e de três medalhas no circuito em 2019, é do grupo dos que não transformam o tropeço em algo corriqueiro.

"Todo mundo que entra com ela respeita demais, só porque ela é a Abe. Para mim não tem essa. Lógico, não tem de desrespeitar ninguém, claro, mas a gente entra ali para ganhar. Só sai um campeão" 
Larissa Pimenta

"Acho que é importante ter um tiquinho de raiva no coração, mas sei que tem de ser uma coisa que nos faça bem, que nos empurre. Isso que estou sentindo agora não é uma coisa natural. É que eu não esperava ter essa sensação. Entrei para ganhar. Não estava esperando a derrota. Acho que é como uma surpresa para mim", disse a atleta, que procurou a luta franca com a rival.

"Todo mundo que entra com ela respeita demais, só porque ela é a Abe. Para mim não tem essa. Lógico, não tem de desrespeitar ninguém, claro, mas a gente entra ali para ganhar. Só sai um campeão. Não saem as duas. Quando vi que ia lutar com ela, não fiquei com medo. Acho sempre que a gente pode ganhar também na vontade. Ela não é imbatível, ninguém é. Perdi mas evoluí. Faz parte da minha história", afirmou judoca, nascida no litoral paulista e que chamou a atenção nos primeiros clubes exatamente por esse traço de não se conformar em perder, em sempre querer algo mais.

Antes de encarar a japonesa na segunda rodada, Larissa havia passado com tranquilidade pela primeira luta. Venceu Raguib Abdourahman, de Dbjibuti, com um ippon por imobilização em menos de um minuto de confronto. Vigésima do ranking mundial da categoria meio-leve, Larissa não avalia que o encontro com Abe veio cedo demais.

"Cedo não foi. Eu estou aqui para enfrentar qualquer atleta. Fui com ela na segunda luta. Acho que se fosse a primeira ou a última, eu ia dar o meu melhor de qualquer forma. Na verdade a gente tem de entrar preparada. Eu estava preparada. Ela acertou o golpe. Quando acerta, não tem jeito", comentou a atleta.

Para ela, a tática pensada para tirar a oponente da zona de conforto até foi aplicada, mas não surtiu o efeito que ela gostaria. "Acho que no pouco tempo de luta que tive, fiz o que tinha de fazer. Fui agressiva. Tive vontade. Acho que se perdi é porque ela foi melhor, não porque desisti", completou Larissa, que também compete na categoria júnior e como atleta militar. Nos próximos meses, disputa o Mundial da categoria Sub-21, no Marrocos, e os Jogos Mundiais Militares, na China.

Uta Abe é uma das principais apostas da seleção japonesa para os Jogos Olímpicos de 2020. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

Tóquio 2020

Numa briga aberta para tentar ficar entre as 18 melhores do mundo, com limite de um atleta por país, que conquistam a vaga para os Jogos Olímpicos, Larissa já pensa em virar a chave para seguir evoluindo. "Acho que até Tóquio tem muita coisa para acontecer. E acredito que esse é o caminho. Para mim foi a primeira experiência forte, de alto nível, de aclimatação fora do país. Fez bastante diferença. Independentemente do resultado, eu estava me sentindo bem."

No Brasil, a categoria -52kg foi dominada nos últimos dez anos por Erika Miranda. A judoca brasiliense conquistou cinco medalhas em mundiais, com uma prata e quatro bronzes, e era a titular inquestionável entre as meio-leves. Larissa briga atualmente na categoria com Eleudis Valentim, que no Mundial de Tóquio acabou eliminada na estreia pela americana Angelica Delgado

Investimento federal

Evento-teste para os Jogos Olímpicos de 2020, o Campeonato Mundial de Judô reúne 839 atletas, de 148 países, em sete categorias de peso no masculino e sete no feminino. Até 31 de agosto, a disputa é nas categorias individuais. No dia 1 de setembro, será a vez da competição por equipes mistas, formato que será adotado pela primeira vez no programa olímpico nos Jogos do Japão. Pelo sorteio da chave, o time brasileiro vai estrear contra a seleção alemã. Se vencer, terá pela frente o vencedor do confronto entre Portugal e Azerbaijão.

Na chave individual, o Brasil tem 18 atletas inscritos. Dezessete deles, como Larissa Pimenta, são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento anual do governo federal no grupo é de R$ 1,67 milhão.

Além disso, 12 dos 18 atletas estão incluídos na Bolsa Pódio, a categoria mais alta do programa, voltada para esportistas que se consolidam entre os 20 melhores do mundo. Eles recebem repasses mensais que variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. Numa outra frente de investimentos federais, 11 dos 18 atletas integram o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR).

Infográfico - Mundial de Judô 2019

Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br