Judô
Mundial de Judô 2019
Eleudis Valentim tropeça na tentação da "chave aberta" e se despede precocemente
Numa chave de 57 atletas recheada de nomes de grande projeção no cenário internacional, a paulista Eleudis Valentim, de 27 anos, não resistiu à tentação de olhar confronto a confronto o potencial caminho que tinha a percorrer a partir do sorteio. Olhou e gostou do que viu. Enxergou adversárias fortes, sim, mas que se encaixavam ao seu jogo, ao seu estilo.
"Não só eu vi, mas muitos à minha volta. Pensamos que era bem viável vir uma final. Às vezes, contudo, isso acaba levando para um lado ruim também, de um pouquinho de carga a mais sobre os nossos ombros"
Eleudis Valentim
"Foi realmente essa a sensação. Não só eu vi, mas muitos à minha volta. Pensamos que era bem viável vir uma final. Às vezes, contudo, isso acaba levando para um lado ruim também, de um pouquinho de carga a mais sobre os nossos ombros", afirmou a atleta.
E foi esse o desenho traçado na vida concreta. A escalada sonhada dependia de um primeiro passo. E um primeiro passo complexo. Do outro lado do tatame estava a americana Angelica Delgado, 13ª do ranking mundial e vice-campeã do Campeonato Pan-Americano de 2019. Uma adversária conhecida, mapeada.
"Quando duas atletas competem há muito tempo, em vários torneios, fica mais difícil, porque você tem de buscar algum elemento surpresa, só que é difícil fazer isso ali na hora, querer fazer algo a que você não está habituada", comentou Eleudis.
No tempo normal, as duas acabaram empatadas, sem pontuação. A luta foi para o golden score. A americana levou para o tempo livre a vantagem de ter uma punição, contra duas da brasileira. As atletas seguiram se estudando e buscando uma brecha para uma entrada, até que Eleudis resolveu arriscar e acabou sofrendo um waza-ari como contragolpe com um minuto de golden score.
"Eu estava com uma punição a mais, e aí é a hora de pensar: ou espera o momento certo ou arrisca, porque não tem muito o que fazer. Eu estava esperando porque sabia que se encaixasse o golpe ia conseguir jogar ela, mas não consegui a abertura que estava buscando", lamentou a brasileira, que desde 2013 não disputava um Mundial. A categoria era dominada por Erika Miranda, dona de uma prata e quatro bronzes em mundiais, que se aposentou da modalidade em 2019.
"Minha estratégia era simplesmente lutar solta e feliz, porque normalmente quando luto sem responsabilidade consigo os melhores resultados. Sabia o que ela ia fazer. Era subir no tatame, trazer comigo todas as pessoas que estão torcendo por mim lá no Brasil, e mostrar a felicidade e o que gosto de fazer. Infelizmente não deu", disse.
Ainda chateada com a performance aquém do potencial desenhado, Eleudis avalia que a equipe brasileira terá bons momentos para celebrar em Tóquio. "Ah, eu acredito que venham várias medalhas. Estamos com uma equipe forte e preparada. Tivemos um ano excelente de preparação e bons resultados", disse. "Mas isso é judô. Depende da hora. Não tem como saber o que vai acontecer. Como comigo, simplesmente perdi a primeira luta e caí fora tendo chance de medalha".
Confira a luta completa da brasileira
Números expressivos
Evento-teste para os Jogos Olímpicos de 2020, o Campeonato Mundial de Judô reúne 839 atletas, de 148 países, em sete categorias de peso no masculino e sete no feminino. Até 31 de agosto, a disputa é nas categorias individuais. No dia 1 de setembro, será a vez da competição por equipes mistas, formato que será adotado pela primeira vez no programa olímpico nos Jogos do Japão. Pelo sorteio da chave, o time brasileiro vai estrear contra a seleção alemã. Se vencer, terá pela frente o vencedor do confronto entre Portugal e Azerbaijão.
Na chave individual, o Brasil tem 18 atletas inscritos. Dezessete deles, como Eleudis Valentim, são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento anual do governo federal no grupo é de R$ 1,67 milhão.
Além disso, 12 dos 18 atletas estão incluídos na Bolsa Pódio, a categoria mais alta do programa, voltada para esportistas que se consolidam entre os 20 melhores do mundo. Eles recebem repasses mensais que variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. Numa outra frente de investimentos federais, 11 dos 18 atletas integram o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR).
Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br