Judô
Mundial de Judô 2019
Líder do ranking, Mayra chega a Tóquio com seis pódios em oito torneios recentes
Ela é a número um do ranking mundial. Cabeça de chave número 1 no Mundial de Judô de Tóquio. Chegou a seis finais em oito competições que disputou em 2019. Venceu quatro. Tem dois títulos, uma prata e dois bronze em mundiais no currículo, além de medalhas de bronze nas duas últimas Olimpíadas. Aos 28 anos, Mayra Aguiar é uma das principais referências na categoria meio-pesado, que entra em cena nesta sexta-feira (30.08), na Arena Nippon Budokan, na capital japonesa.
"Tenho como padrão estar preparada para tudo. Seja o local, o tatame, a regra, a chave. Quero estar sempre preparada para qualquer tipo de desafio"
Mayra Aguiar
"Este ano está sendo muito bom para mim. Fiz oito competições e consegui seis medalhas. Estou feliz com a forma que estou lutando, competindo, e principalmente por conseguir ter uma sequência boa", afirmou a brasileira, que vem da conquista da medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru. "Claro que o Mundial é uma competição complicada. A mais dura que existe. Em nível técnico, chega a ser mais alto algumas vezes que uma Olimpíada, porque tem mais gente, mais adversárias, e todo mundo vai muito preparado", completou a atleta.
A categoria de Mayra, a -78kg, reúne 40 atletas. A brasileira estreia contra a portuguesa Yahima Ramirez, de 39 anos. É a 29ª do ranking mundial e tem como principais resultados em 2019 chegar às quartas de final das etapas do Grand Prix em Antalya, Marrakech e Tel Aviv. "Eu tenho como padrão estar preparada para tudo. Seja o local, o tatame, a regra, a chave como saiu. Quero sempre estar preparada para qualquer tipo de desafio", afirmou Mayra.
Campeã mundial nas edições de 2014 e 2017 e medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos Rio 2016 e Londres 2012, Mayra tem como uma das principais antagonistas na categoria a japonesa Shoria Hamada, atual campeã mundial e número três do ranking. A atleta da casa, de 28 anos, foi a campeã do Grand Prix de Montreal, em julho, e terceira colocada no Grand Slam de Baku, em maio.
Para Mayra, mais do que o desafio potencial de encarar uma atleta da casa nas fases mais avançadas da competição, pesa como motivação lutar no país em que o judô foi criado e desenvolvido. "Fazia tempo que não vinha ao Japão. Só de estar aqui já me sinto feliz. Independentemente do resultado, estou vivendo uma experiência bacana. A energia desse tipo de lugar já mexe bastante com a gente. O povo daqui gosta muito de judô. Em qualquer ginásio você sente a energia, o pessoal vibrando. Há um sabor de lutar aqui. Ainda mais nesse local tão falado", comentou, sobre a Arena Budokan. Criada para os Jogos Olímpicos de 1964, o ginásio tem a fachada inspirada em um templo da cidade de Nara e formato interno de um octógono. Será usada também nos Jogos Olímpicos de 2020.
"Quando estou ali no tatame e a gente se cumprimenta, olho para o cara e penso: ele não quer mais do que eu. Eu treinei dez vezes mais. Nem que tenhamos treinado o mesmo, mas na minha cabeça treinei dez vezes mais e ele nunca vai ganhar. Eu me defino pela vontade"
Leonardo Gonçalves
Dupla na categoria -100kg
Além de Mayra Aguiar, o Brasil terá outros dois representantes no tatame entre os meio-pesados. Leonardo Gonçalves e Rafael Buzacarini estão entre os 20 melhores do ranking internacional, mas nunca disputaram Mundial. Talento da nova geração, o paulista Leonardo Gonçalves tem 23 anos e chega ao Mundial como o número 17 do mundo. Na temporada, ficou entre os cinco melhores em quatro ocasiões, com direito a uma prata no Campeonato Pan-Americano de Lima e um bronze no Grand Prix de Montreal, no Canadá.
Uma lesão no cotovelo direito, contudo, exigiu do paulista de Iguape um trabalho acelerado de fisioterapia e recuperação. Ficou de fora dos Jogos Pan-Americanos, também em Lima, mas afirma que chega 100% para dar trabalho aos melhores em Tóquio. "Perdi uma competição, mas fiz uma ótima preparação. Tenho uma perspectiva boa. Claro que é o primeiro Mundial, uma competição grande, mas já mostrei que consigo ganhar de todos os fortes", disse Leonardo, que já foi vice-campeão mundial na categoria júnior.
Mais do que a estatura de 1,90m e o apuro técnico que procura desenvolver nos treinos, o atleta preza pela vontade. "Eu me definiria assim. Claro que sei fazer judô, mas minha vontade sobressai à de qualquer um. Quando estou ali no tatame e a gente se cumprimenta, olho para o cara e penso: ele não quer mais do que eu. Nunca. Eu treinei dez vezes mais. Nem que tenhamos treinado o mesmo, mas na minha cabeça treinei dez vezes mais e ele nunca vai ganhar. Eu me defino por aí", disse o brasileiro.
Buzacarini, de 27 anos, também traz para o tatame de Tóquio um bom retrospecto na temporada, com duas finais em etapas de Grand Prix, em Antalya e Tbilisi, em março e abril de 2019, além de ter chegado às quartas de final em Montreal.
"No alto rendimento não tem como viver sem a Bolsa. A gente gasta demais com suplementação, com alimentação. Pagar uma pizza na esquina é fácil, mas alimentação saudável, regrada, custa dinheiro. A gente tem de manter peso"
Leonardo Gonçalves
Trio no Bolsa Atleta
Mayra, Buzacarini e Leonardo são integrantes do programa Bolsa Atleta, da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Buzacarini na categoria Olímpica, e Mayra e Leonardo na categoria Pódio, a mais alta do programa, com repasses mensais de R$ 5 mil a R$ 15 mil. Na delegação em Tóquio como um todo, 17 dos 18 judocas inscritos na chave individual são contemplados pelo incentivo federal, num investimento anual de R$ 1,67 milhão.
"Eu já passei por várias etapas do Bolsa Atleta. Fui do Nacional, do Internacional e agora da categoria Pódio. Quem recebe sabe que é surreal de importante para um atleta. Desde os 16 anos recebo. Foi a diferença entre continuar treinando e ter de fazer 'correria' para ajudar em casa. Se você tem patrocínio do pai, beleza. No meu caso, não tinha. A Bolsa sempre ajudou demais", disse Leonardo.
"No alto rendimento não tem como viver sem. A gente gasta demais com suplementação, com alimentação boa. Pagar uma pizza na esquina é fácil, mas alimentação boa, saudável, regrada, custa dinheiro. A gente tem de manter peso", completou Leonardo, que também recebe o apoio das Forças Armadas (ele e outros 10 do time) e o auxílio do clube em que treina, a Sogipa.
Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br