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Judô

11/08/2019 18h12

LIMA 2019

Mayra Aguiar conquista o ouro e judô brasileiro encerra o Pan com 10 medalhas

Ao todo, foram cinco ouros, uma prata e quatro bronzes, resultado que deixou o Brasil em segundo lugar no quadro da modalidade, atrás de Cuba

Jogos Pan-Americanos Lima 2019

A temporada tem jogado a favor de Mayra Aguiar. Das sete competições que disputou antes de chegar aos Jogos Pan-Americanos de Lima, subiu ao pódio em cinco. Neste domingo (11.08), no encerramento do megaevento, adicionou mais uma conquista à conta e, de quebra, com três vitórias por ippon para acrescentar o ouro que faltava ao currículo. Ao todo, o elenco do judô brasileiro faturou 10 medalhas no Peru, sendo cinco ouros, uma prata e quatro bronzes. 

Depois das pratas no Rio 2007, ainda aos 15 anos de idade, e em Toronto 2015, além do bronze em Guadalajara 2011, Mayra chegou à quarta participação no Pan vivendo um dos melhores momentos da carreira em termos físicos e psicológicos. “Este ano fiz coisa que eu não fazia nunca, como oito randoris (treinos de luta) seguidos no treinamento. Eu não conseguia, morria, cansava, e hoje já consigo fazer tranquilamente, com atletas de fora, com minhas adversárias”, compara Mayra. “Estou muito feliz e empolgada porque sei o quanto mais preciso e consigo melhorar”, acrescenta a campeã, que já passou por cinco cirurgias e neste ano conseguiu superar dores e lesões.

Além da força física, a judoca esbanja também um ganho de maturidade para lidar com qualquer tipo de cobrança. “A pressão que vem de fora é grande, mas a interna está mais leve. Estou me dando o direito de curtir. Atleta sofre demais. Só eu sei o tanto de lesão, de sofrimento, de choro, de pressão. Tinha gente que nunca me viu e vinha cobrar o ouro. Hoje só agradeço tudo isso que passei porque me fortaleceu”, acredita.

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Mayra Aguiar: bicampeã mundial, medalhista olímpica e, agora, ouro no Pan. Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

Neste domingo, Mayra confirmou essa força no tatame. Líder do ranking mundial na categoria até 78kg, a gaúcha estreou com duas vitórias tranquilas, em cima da norte-americana Nefeli Papadakis, nas quartas de final, e da venezuelana Karen Leon, na semifinal. A única luta mais complicada seria com a cubana Kaliema Antomarchi, já na decisão. Com um shido para cada lado, o confronto foi definido apenas no golden score, quando Mayra conseguiu sacar um ippon seoi nague para surpreender a rival, 11a da listagem internacional, e levar o título dos Jogos Pan-Americanos.

“Esse golpe eu não faço muito, deixo guardadinho porque ele já me encrencou algumas vezes. Tomei três estrangulamentos por causa dele, mas é um golpe que surpreende. Eu já tinha jogado ela assim em treino, nunca em competição. Ali eu arrisquei. Ela já estava cansada”, conta Mayra, que hoje fez a oitava luta contra a rival sem nunca ser derrotada.

Em treinos, contudo, a brasileira já sofreu nas mãos da cubana. “Ela é uma atleta muito agressiva. Se você entrar no jogo de agressividade dela, acaba perdendo a cabeça, e eu perco a cabeça assim muito fácil. Tem que ir mais tranquila. Ela já me bateu muito em treinamento, a ponto de eu sair chorando, mas isso é uma das coisas que me motiva”, aponta. “Normalmente eu perco em golden score, mas estava me sentindo muito bem. Se tivesse mais cinco minutos, eu conseguia. Estava com muita vontade mesmo de terminar o meu objetivo”, comenta. Mayra é contemplada com a Bolsa Pódio do governo federal.

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A luta contra a cubana foi a mais dura do dia para a brasileira. Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

Bicampeã mundial e duas vezes bronze nos Jogos Olímpicos, Mayra terá outro grande desafio ainda neste mês. Entre os dias 25 e 31, Tóquio recebe o Mundial da modalidade, em uma espécie de prévia para o ano que vem. “Ter lutado uma Olimpíada com a minha torcida e depois ter a oportunidade de lutar no Japão, de onde é o meu esporte, isso vai ser muito louco. Estou bastante empolgada com essa competição”, adianta. Os convocados para o campeonato seguirão direto do Peru para o Japão.

Mais dois bronzes

Para fechar a participação brasileira em Lima, Beatriz Souza (+78kg) e David Moura (+100kg) ainda conquistaram mais duas medalhas de bronze. Ambos começaram o dia com vitórias, mas caíram na semifinal, sem chance de brigar pelo ouro.

Bronze no Mundial Júnior de 2017 e prata em 2018, Bia encontrou a mexicana Priscila Martinez nas quartas de final e conseguiu o ippon para avançar no torneio. Na sequência, contudo, a brasileira de apenas 21 anos fez uma dura luta contra Melissa Mojica, de Porto Rico. Em vantagem nas punições, Beatriz acabou levando um waza-ari no golden score.

Já na disputa pela medalha de bronze, conseguiu registrar um ippon em cima de Izayana Marenco, da Nicarágua, para se garantir no pódio do megaevento, em sua primeira participação. “Estou feliz. Isso mostra a minha evolução e que eu ainda tenho muito a ganhar”, comenta. 

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David Moura superou o atleta dos Estados Unidos para ficar com o bronze. Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

David Moura (+100kg), por sua vez, chegou aos Jogos com o objetivo de defender o título de Toronto 2015. Terceiro melhor do mundo entre os pesados, o brasileiro começou bem essa trajetória, com vitória por waza-ari contra o chileno Francisco Solis. Na semifinal, porém, travou um combate complicado com o cubano Andy Granda, número 26 do ranking mundial. Depois de controlar melhor o início da luta, com várias tentativas de ataque, David não aguentou manter o ritmo no golden score. O rival aproveitou o cansaço do brasileiro, cresceu no tatame e, após 4min38s do tempo extra, conseguiu o ippon. 

Para chegar ao bronze, precisou superar a frustração com a derrota e também o americano Ajax Tadehara. Em apenas 1min03s de luta, David Moura venceu o adversário por ippon e deixou uma lição para o filho João Moura, de 1 ano e 10 meses, que, em pleno Dia dos Pais, assistiu a uma competição do pai pela primeira vez. “Não só de dar a volta por cima, mas também de não depender das coisas para ser feliz. Lógico que eu queria o ouro, mas estou feliz, estou inteiro, minha família está aí. Vamos ver o lado bom das coisas”, ensina.

Balanço

A campanha dos brasileiros em Lima não foi suficiente para superar Cuba no quadro de medalhas da modalidade. Os rivais encerram o Pan com cinco ouros, duas pratas e cinco bronzes. Nas duas últimas edições, o Brasil havia terminado em primeiro lugar. O melhor resultado nacional foi em Guadalajara 2011, com seis ouros, três pratas e quatro bronzes. 

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Seleção brasileira de judô: 10 medalhas e um saldo positivo do evento. Foto: Pedro Ramos/ rededoesporte.gov.br

Ainda assim, o alcançado nos últimos quatro dias de lutas foi considerado positivo, principalmente porque a equipe foi formada por 10 estreantes em Jogos Pan-Americanos entre os 13 convocados. “Das cinco medalhas de ouro que a gente conquistou, três foram de atletas novos, estreantes nos Jogos. Alguns que não chegaram à medalha sentiram um pouco o peso da competição”, avalia o gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson.

“Aqui é um grande laboratório para observarmos os atletas e vermos os que sentem mais ou menos esse peso, para poder trabalhar. Ainda temos um ano de trabalho até os Jogos Olímpicos, agora temos o Mundial. Os que foram ouro saem mais fortalecidos. Com os que não chegaram à medalha, temos que trabalhar o psicológico para levantar o atleta até o Mundial, mas acredito que foi uma passagem muito positiva pelos Jogos Pan-Americanos”, pontua o dirigente. Com participação no torneio continental desde São Paulo 1963, o judô brasileiro soma agora 135 medalhas na história.

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Investimentos 

Dos 13 atletas convocados para o Pan, dez são beneficiados pelo programa Bolsa Atleta, da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, sendo seis na categoria Pódio. Ao todo, o investimento anual é de R$ 919,5 mil no grupo que compete em Lima. Além disso, onze judocas são das Forças Armadas.

Medalhas do judô brasileiro em Lima: 

Ouro:

- Larissa Pimenta (52kg)
- Renan Torres (60kg)
- Rafaela Silva (57kg)
- Eduardo Yudy Santos (81kg)
- Mayra Aguiar (78kg)

Prata:

- Daniel Cargnin (66kg)

Bronze:

- Jeferson Santos Júnior (73kg)
- Aléxia Castilhos (63kg)
- Beatriz Souza (+78kg)
- David Moura (+100kg) 

Ana Cláudia Felizola, de Lima, no Peru – rededoesporte.gov.br