Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Ketleyn Quadros: "Estou no lugar certo. Exatamente onde devo estar"

Judô

28/08/2019 04h36

Mundial de Judô 2019

Ketleyn Quadros: "Estou no lugar certo. Exatamente onde devo estar"

Eliminada na segunda rodada do Mundial de Judô de Tóquio, atleta dá aula de olimpismo, de resiliência e de capacidade de se reinventar. Eduardo Yudy fica na terceira rodada

Banner - Mundial de Judô 2019

Medalhista olímpica aos 20 anos, nos Jogos de Pequim, em 2008, Ketleyn Quadros nunca entra numa competição desde então como figurante. Mas, se o protagonismo não se manifesta vez por outra no tatame, a judoca mostra que toda a sua experiência não impede o processo inerente ao alto rendimento, de sempre buscar crescimento, enxergar algo diferente e se reinventar como atleta.

Ketleyn durante o Mundial de Tóquio: vaga conquistada por méritos. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

"Talvez esse não tenha sido o meu melhor possível, talvez haja espaço para aprender mais, mas foi o melhor de hoje. Talvez precise passar por isso para saber onde ainda estou errando. Se a gente passa por todo esse processo é porque temos um sonho"
Ketleyn Quadros

 No Mundial de Tóquio, Ketleyn viveu, aos 31 anos, extremos que o judô permite. Na estreia, aplicou o ippon mais rápido do torneio até agora, com 11 segundos de luta, diante de Anna Faye, de Senegal. Na sequência, enfrentou a holandesa Juul Franssen. Numa luta estudada e definida nas punições, pior para a brasiliense, que levou a terceira e foi eliminada precocemente.

"Num Mundial é todo mundo forte, todo mundo preparado. Nós treinamos todos os detalhes para que sejam a nosso favor. O processo de amargar uma derrota é duro. Não é fácil, mas estou tranquila", afirmou Ketleyn. "Talvez esse não tenha sido o meu melhor possível, talvez haja espaço para aprender mais, mas foi o melhor de hoje. Talvez precise passar por isso para saber onde ainda estou errando. Se a gente passa por todo esse processo é porque temos um sonho olímpico", disse a atleta.

Na trilha para chegar a Tóquio em 2020, Ketleyn ainda precisa conquistar a vaga olímpica. A competição na capital japonesa vai reunir os 18 melhores judocas em cada categoria, com o limite de um por país. Ketleyn atualmente ocupa a vigésima nona colocação no ranking mundial.

"Estou no lugar certo, onde devo estar. No Mundial só se classificam as nove melhores do Brasil no feminino e no masculino. Estar dentro é uma conquista. Ninguém veio por preferência, mas por pontuação. É aqui que eu deveria estar"

"Para voltar a Tóquio ainda há uma caminhada longa. Estamos no processo de classificação. O Mundial era importante, mas todas as competições fazem parte. Por isso não tenho tempo para ficar remoendo. Tenho de focar na solução e já desejar uma revanche desejando estar melhor. É nisso que foco. É isso que me motiva. Tenho de curtir esse processo. Inclusive essa derrota: que sirva de lição e aprendizado", afirmou.

A mentalidade de Ketleyn é objetiva. Ela não tem dúvidas de que está no posto que conquistou por méritos, e não há derrota precoce que apague isso. "Estar aqui num Mundial é o sonho de qualquer atleta. Estou no lugar certo, onde devo estar. No Mundial só se classificam as nove melhores do Brasil no feminino e no masculino. Estar dentro desse grupo é uma conquista. Ninguém veio por preferência, mas por pontuação. É aqui que eu deveria estar. Óbvio que ninguém quer sair perdendo. Pelo contrário, mas estou consciente de ter feito tudo o que era possível".

Contra a holandesa Juul Franssen, uma luta igual, decidida contra a brasileira por punições. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

Tudo mapeado

Na opinião da atleta, a eliminação por punições tem um quê de anticlima tanto para quem assiste quanto para quem luta, mas é uma das táticas mais usadas no judô moderno, principalmente porque todas as atletas se conhecem com detalhe.

"É muito ruim uma luta ser decidida por 'shido', mas faz parte. A gente luta com os mesmos adversários todo mês. Essa disputa é cada vez mais acirrada. Ninguém quer se expor. Assim, se consigo uma vantagem diferente por punições, não tenho porque entrar com vários golpes e correr um risco de contragolpe. Quem gosta dessa linha de administrar, administra. Quem está perdendo, tem de ir atrás. Mas vale para os dois lados. Talvez seja chato para quem assiste, mas não tenha dúvidas de que, se não saiu uma queda, é porque estava duro. Para quem está dentro do tatame é pior ainda, porque a força é dobrada".

"Quando estava nos treinos em Hamamatsu, estava bem focado no que queria fazer, mas durante a luta não consegui colocar isso em prática"
Eduardo Yudy

Yudy na terceira rodada

Além de Ketleyn, o Brasil foi representado no tatame nesta quarta-feira (28.08) por Alexia Castilhos, que foi derrotada na estreia, e por Eduardo Yudy, na categoria -81kg, que teve uma trilha similar à de Ketleyn. Japonês radicado no Brasil, Eduardo venceu o primeiro combate, contra o português Anri Egutidz, com um waza-ari no Golden Score. Na sequência, contudo, Yudy teve pela frente o canadense Etienne Briand e sofreu um ippon com 35 segundos de luta.

"Na verdade preciso ver a luta primeiro, mas acho que fiquei defensivo na pegada, e isso me prejudicou. Quando estava nos treinos em Hamamatsu, estava bem focado no que queria fazer, mas durante a luta não consegui colocar isso em prática. Estou triste, mas tentando ver o lado positivo. Acho que há muitas coisas a melhorar. Agora é tentar aprimorar o que puder para chegar na melhor forma nos Jogos Olímpicos", afirmou Yudy, que vinha de uma medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru.

Yudy acabou projetado pelo canadense Etienne Briand. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

Investimentos federais

Evento-teste para os Jogos Olímpicos de 2020, o Campeonato Mundial de Judô reúne 839 atletas, de 148 países, em sete categorias de peso no masculino e sete no feminino. Até 31 de agosto, a disputa é nas categorias individuais. No dia 1 de setembro, será a vez da competição por equipes mistas, formato que será adotado pela primeira vez no programa olímpico nos Jogos do Japão. Pelo sorteio da chave, o time brasileiro vai estrear contra a seleção alemã. Se vencer, terá pela frente o vencedor do confronto entre Portugal e Azerbaijão.

Na chave individual, o Brasil tem 18 atletas inscritos. Dezessete deles, como Ketleyn, são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento anual do governo federal no grupo é de R$ 1,67 milhão.

Além disso, 12 dos 18 atletas estão incluídos na Bolsa Pódio, a categoria mais alta do programa, voltada para esportistas que se consolidam entre os 20 melhores do mundo. Eles recebem repasses mensais que variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. Numa outra frente de investimentos federais, 11 dos 18 atletas integram o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR).

Mundial Judô Tóquio 2019

Infográfico - Mundial de Judô 2019

Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br