Judô
JUDÔ
Novatos comemoram vaga na seleção olímpica e prometem lutar por medalhas
Eles nunca estiveram em uma edição dos Jogos Olímpicos. O sorriso no rosto não permite esconder a empolgação com a convocação, anunciada na última quarta-feira (01.06). Mesmo diante do ineditismo da competição e da pressão das lutas dentro de casa, Charles Chibana, Alex Pombo, Victor Penalber e Rafael Buzacarini não demonstram inibição ao falar sobre a ousada meta de chegarem, em agosto, a uma medalha olímpica. Nesse sonho, eles terão dentro da própria equipe a inspiração de quem já subiu ao pódio como estreantes.
Tiago Camilo era novato na seleção quando conquistou o bronze nos Jogos Olímpicos de Sydney, em 2000. Da mesma forma, Rafael Silva e Felipe Kitadai disputavam a competição pela primeira vez em Londres-2012, quando faturaram o bronze. “Alguns atletas já provaram que a estreia pode dar até sorte. A gente tem que se inspirar nesses caras”, diz Victor Penalber, representante do Brasil na categoria até 81kg.
O veterano concorda. “Em Jogos Olímpicos tudo pode acontecer. Tenho essa experiência de ter conquistado a minha primeira medalha há 16 anos, mas a energia deles me alimenta também”, comenta Tiago Camilo, que disputará no Rio de Janeiro sua quarta edição olímpica. “Como estreante, você não tem nada a perder. Tudo o que você fizer será positivo, algo a mais porque você nunca viveu aquilo”, opina o judoca, que tentará uma terceira medalha e em uma terceira categoria de peso.
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Nesta quinta (2), os 14 judocas convocados foram apresentados oficialmente durante cerimônia no Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. “Estou emocionado e tentando aproveitar ao máximo este momento. É um sonho realizado. Passa um filme na cabeça de tudo que enfrentamos para chegar até aqui”, pondera Alex Pombo (73kg) que, mesmo certo da vaga pelo ranking mundial, esperou com ansiedade pela ligação do gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô (CBJ), Ney Wilson. “A gente ficava sem dormir direito, na expectativa”, conta o atleta, que em Londres foi sparring do judoca Bruno Mendonça e, desta vez, herdou a vaga na categoria. “Meu objetivo é a medalha de ouro”, diz.
Charles Chibana, em 19º lugar no ranking, também só sentiu o peso sair das costas após o anúncio oficial. “A gente trabalha o ciclo inteiro para garantir a convocação, mas, quando o professor fala ‘você está nos Jogos Olímpicos’, é o que vale mesmo. Agora é Rio 2016”, comemora, já com um objetivo bem definido em relação aos adversários. “Quero ganhar de todos que entrarem na frente para tirar todo mundo do caminho e conquistar o ouro”, afirma.
Substituindo os ídolos
Em sétimo lugar na listagem internacional, Victor Penalber também aguardou para ter certeza de que seria ele a ir aos Jogos Olímpicos. “Eu estava muito ansioso, e só quando o nome sai é que tira o peso. A expectativa é grande pela vaga, é um sonho que a gente vive todos os dias, desde criança, querendo ir para uma Olimpíada”, destaca. “Eu via pela televisão e queria ser como os meus ídolos, como o Tiago Camilo de quem hoje eu sou companheiro de equipe”, celebra.
Nos 81kg, Penalber terá a missão de substituir outra grande referência, o dono de duas medalhas olímpicas Leandro Guilheiro (bronze em Atenas-2004 e Pequim-2008). “Sempre foi preocupante ter ele como adversário. É um ídolo do esporte nacional. Saber que você vai brigar pela vaga com ele faz você evoluir todos os dias”, acredita o estreante. “Eu fico feliz de representar uma categoria que já teve outros medalhistas, como o Flávio Canto, o Douglas Vieira. É uma categoria que está dando sorte. Vou acreditar nisso e torcer para dar sorte para mim também”, brinca.
Já Rafael Buzacarini foi convocado no lugar de Luciano Corrêa, campeão mundial em 2007 e que disputou as edições olímpicas de Pequim-2008 e Londres-2012. De fora dos Jogos, Luciano postou uma mensagem em seu perfil em uma rede social lamentando a ausência, mas parabenizando o colega. “Ele sempre me deu conselhos, me motivou. Fiquei emocionado com a mensagem dele, depois espero encontrá-lo para continuarmos com uma boa relação”, comenta Buzacarini, que também recebeu a notícia da convocação por um telefonema de gestor Ney Wilson.
“Comecei a gritar sozinho em casa. Tentei ligar para a minha mãe e ela não atendeu nem o celular nem o telefone de casa. Eu estava agoniado, precisando contar para alguém. Depois consegui falar com ela e o meu pai ficou gritando também, acho que estava até mais feliz do que eu”, conta, animado. “Em 2012, eu me lembro de ter treinado e depois corrido para ver o Luciano lutar. Eu ainda não era da seleção, entrei no fim de 2012. Já fiquei feliz demais, mas nem imaginava que iria participar das Olimpíadas no Rio”, recorda o judoca, contemplado com a Bolsa Atleta, do governo federal, na categoria internacional. Os 13 demais convocados recebem o benefício da Bolsa Pódio.
Autoridade de calouro
Para o técnico da seleção masculina, Luiz Shinohara, a presença dos atletas novatos tem superado as expectativas. “Eles estão me surpreendendo bastante, lutando com muita autoridade”, aponta. “A gente ainda tem tempo para ajustar algumas coisas no sentido de competitividade, iniciativa de luta, que eu acho que ainda falta para eles”, avalia o treinador. “Eles não têm a experiência de uma Olimpíada, mas acho bacana porque os atletas ouvem muito o Tiago, ouviram muito o Luciano também e acho que isso vai diminuir bastante essa ansiedade de cada um. A minha preocupação maior é no sentido de que, por ser no Rio de Janeiro, os atletas sintam uma cobrança maior, mas a minha experiência me diz que nossos atletas têm muitas opções de ataque e a torcida ainda empurra”, ressalta Shinohara.
Experiência feminina
Segundo a CBJ, 56 atletas foram trabalhados ao longo dos últimos quatro anos, antes da definição dos 14 convocados. Enquanto o masculino vive um período de renovação da maior parte da equipe, o feminino terá no Rio exatamente a mesma seleção que competiu nos tatames de Londres. “Elas são muito jovens, mas já passaram por um ciclo olímpico. Lutar Olimpíada não é fácil, então já desmistificou. Elas sabem o que vão encontrar lá, então vejo só vantagem”, opina a técnica Rosicléia Campos.
Campeã mundial em 2014 e bronze na última edição olímpica, Mayra Aguiar acredita que, mesmo em sua terceira participação nos Jogos, o frio na barriga estará presente de novo. “A ansiedade nunca muda, ainda mais em Olimpíada. O nervosismo vai bater, mas agora é algo mais controlado, que eu já vivi”, explica.
Medalhista em todos os campeonatos mundiais do ciclo olímpico atual (prata em 2013 e bronze em 2014 e 2015), Érika Miranda espera, agora, subir pela primeira vez ao pódio nos Jogos. “Acho que ainda tenho ajustes a fazer. Ainda não estou no ápice da parte física e da técnica”, avalia. “Já foram três medalhas em mundiais, e que agora finalize o ciclo com uma nas Olimpíadas”, deseja.
Segundo Ney Wilson, no ciclo passado o Brasil havia conquistado nove pódios em campeonatos mundiais, enquanto no atual foram 12 conquistas. “No passado não tivemos nenhuma medalha de ouro, e agora tivemos a da Rafaela em 2013 e a da Mayra em 2014”, acrescenta. “O judô brasileiro é um esporte em que se pode ter esperança de medalha”, afirma o presidente da CBJ, Paulo Wanderley.
Atletas convocados para os Jogos Olímpicos
Feminino:
Sarah Menezes (48kg)
Érika Miranda (52kg)
Rafaela Silva (57kg)
Mariana Silva (63kg)
Maria Portela (70kg)
Mayra Aguiar (78kg)
Maria Suelen Altheman (+78kg)
Masculino:
Felipe Kitadai (60kg)
Charles Chibana (66kg)
Alex Pombo (73kg)
Victor Penalber (81kg)
Tiago Camilo (90kg)
Rafael Buzacarini (100kg)
Rafael Silva (+100kg)
Ana Cláudia Felizola – brasil2016.gov.br