Judô
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Com Baby e Kitadai, mas sem Luciano Corrêa, seleção olímpica é convocada
Responsáveis por defender a modalidade que é carro chefe do Brasil nos Jogos Olímpicos, os 14 judocas brasileiros que lutarão no Rio de Janeiro, em agosto, foram conhecidos nesta quarta-feira (1.6). Após um longo caminho de competições e a briga acirrada por pontos no ranking mundial, a equipe convocada mescla a experiência de Tiago Camilo, dono de duas medalhas olímpicas, e dos quatro medalhistas de Londres-2012 com quatro nomes inéditos na seleção olímpica masculina. A missão de todos é a mesma: superar as conquistas da edição passada.
A equipe que competirá na Arena Carioca 2, no Parque Olímpico da Barra, terá Sarah Menezes (48kg) e Felipe Kitadai (60kg), no ligeiro; Érika Miranda (52kg) e Charles Chibana (66kg), no meio-leve; Rafaela Silva (57kg) e Alex Pombo (73kg), no leve; Mariana Silva (63kg) e Victor Penalber (81kg), no meio-médio; Maria Portela (70kg) e Tiago Camilo (90kg), no médio; Mayra Aguiar (78kg) e Rafael Buzacarini (100kg), no meio-pesado; e Maria Suelen Altheman (+78kg) e Rafael Silva (+100kg) no pesado.
Como país-sede, o Brasil já tinha asseguradas as vagas em todas as categorias. Restava, então, definir quem ocuparia cada uma delas. Com o ranking mundial fechado após o World Masters de Guadalajara, no último fim de semana, poucos casos permaneciam indefinidos, já que a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) teria autonomia para, apesar da referência da listagem, selecionar os atletas. A principal dúvida era em relação ao peso pesado: Rafael Silva, bronze em Londres 2012, e David Moura, ouro nos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015, terminaram muito próximos no ranking. Baby foi o nono e David, o décimo colocado.
"Em competições grandes, como Jogos Olímpicos e Mundiais, o Baby não teve só o resultado de Londres. Foram duas conquistas de medalhas em Mundiais no ciclo olímpico. Os dois tiveram oportunidades. O David foi a três Mundiais e o Baby foi a dois, por conta de lesão. O melhor resultado do David em Mundiais foi o quinto lugar", explicou o gestor de alto rendimento da CBJ, Ney Wilson, durante o anúncio oficial desta quarta-feira. "O Baby ficou parado de abril a dezembro e voltou em janeiro deste ano. Nas três primeiras competições do ano ele foi muito mal, mas era o esperado. Gradativamente, ele foi reconquistando", analisou.
Ao longo da manhã desta quarta, a confederação divulgou em sua página no Facebook a formação da equipe olímpica, com os nomes dos atletas sendo anunciados a cada meia hora por um medalhista de edições passadas dos Jogos, como os campeões olímpicos Rogério Sampaio e Aurélio Miguel. Já os atletas que ficaram de fora da lista final, como David Moura e Eric Takabatake, receberam a notícia da comissão técnica por telefone, também durante a manhã.
O peso ligeiro masculino foi o único em que a convocação olímpica não seguiu a ordem do ranking mundial. Também bronze em Londres, Felipe Kitadai fechou o período de pontuação em 14º lugar, apenas 21 pontos atrás do compatriota Eric Takabatake (13º). "Foi quase um empate técnico. Pegamos números, estatísticas e fizemos a análise de dados para tomar uma decisão. O Takabatake teve 18 oportunidades de competição de ranqueamento contra 15 do Kitadai. O Takabatake era mais jovem no processo, um atleta novo que precisava ganhar ritmo de competição, mas isso o levou a ter mais oportunidades de pontuação", comparou Ney Wilson.
"Outro dado foi o confronto com os 15 melhores do ranking. O aproveitamento do Kitadai foi de 38% contra 29% do Takabatake. São dados bastante relevantes. Um menos relevante é que, durante o processo, eles se confrontaram uma única vez e o Kitadai saiu vitorioso", acrescentou o gestor.
Argumento racional
O único atleta que ficou de fora da lista dos convocados a receber o benefício de uma conversa pessoal foi o brasiliense Luciano Corrêa. Campeão mundial em 2007, no Rio de Janeiro, e representante do Brasil nas edições olímpicas de Pequim-2008 e Londres-2012, o judoca ficou em 27º lugar no ranking mundial, três posições atrás de Rafael Buzacarini. “Do ponto de vista de coração, pela história do Luciano, foi uma decisão bastante difícil”, admitiu Ney Wilson, que contou a decisão ao atleta no retorno do World Masters de Guadalajara, durante uma conexão no Panamá.
“Sentei com ele e foi muito difícil, envolve muita emoção. Claro que ele argumentou, pela conquista do Mundial em 2007 no Rio. Isso o diferencia dos outros atletas, mas foi há nove anos. Estamos olhando o hoje. O Buzacarini tem quase 10 anos a menos, é um atleta em ascensão e que apresentou melhores resultados”, justificou o dirigente. De fora dos Jogos Olímpicos, o veterano não deve mais competir pelo país. “O Luciano falou comigo que encerrou a carreira dele na seleção brasileira”, revelou Ney.
Sem qualquer participação em Jogos Olímpicos, Campeonatos Mundiais ou Jogos Pan-Americanos, Buzacarini fará a grande estreia em uma competição desse nível já em agosto. “Em 2007, a Ketleyn Quadros não fazia parte da seleção que disputou os Jogos Pan-Americanos no Rio e também não tinha participado de nenhum Mundial. Em abril, a gente optou por ela ir aos Jogos Olímpicos e ela conquistou a medalha (bronze)”, exemplificou. “O caso do Buzacarini é bem semelhante. Ele nunca foi a um Campeonato Mundial, nunca participou dos Jogos Pan-Americanos, mas isso não descarta completamente a possibilidade de chegar a uma medalha”, destacou o dirigente, acrescentando que o atleta também já é considerado um forte nome para 2020.
“Ele está livre, leve e solto. Era o atleta mais tranquilo que a gente tinha no World Masters, enquanto os outros estavam tensos com a disputa por vaga”, ressaltou. “Ontem, eu liguei para ele e disse que tinha uma má notícia para dar. Ele disse: ‘Tá bom, professor, não tem nada não. A gente vai continuar trabalhando e eu vou para a próxima Olimpíada’. Eu disse: ‘Não, cara, o que eu quero dizer é que agora você vai ter que trabalhar dobrado porque você está nos Jogos Olímpicos’. Só ouvi os gritos dele”, contou Ney.
Feminino inalterado
Enquanto a equipe masculina contará com Charles Chibana, Victor Penalber, Alex Pombo e Rafael Buzacarini como novatos nos Jogos Olímpicos, a seleção feminina será exatamente a mesma que competiu em Londres, quando Sarah Menezes conquistou o ouro e Mayra Aguiar, a prata. “A seleção feminina ser a mesma é algo inédito, nunca passamos com equipe 100% igual de um ciclo a outro”, destacou o gestor. “Está havendo renovação no feminino, com meninas muito próximas das convocadas, mas sem dúvida temos uma equipe muito consistente, homogênea e com muitas possibilidades de medalha”, afirmou.
Ainda pelo ranking mundial, já é possível saber que Mayra Aguiar, em quarto na listagem final, não enfrentará a norte-americana e líder Kayla Harrison em uma final. “Se a Mayra quiser chegar a uma final, terá que passar por ela na semifinal. Obviamente não podemos focar só nisso, mas é um trabalho bem individualizado para enfrentar a Kayla”, reconheceu.
Meta mais branda
Com base na experiência passada, a CBJ desistiu de traçar uma meta de quantidade de pódios para os Jogos do Rio. “Em Londres, a gente estabeleceu que chegaria a quatro medalhas, a uma final olímpica e que tanto o masculino quanto o feminino conquistariam medalhas. A gente começou a mil por hora, com ouro e bronze no primeiro dia (Sarah e Kitadai, respectivamente). Depois fomos até o quinto dia sem mais nenhuma medalha. Criou-se uma pressão muito grande. A gente atingiu a meta na última categoria, na última luta e no golden score, com o bronze do Baby”, recordou o dirigente. “Em uma conversa com atletas mais experientes eles pediram uma meta mais ampla do que de número de resultados”, explicou.
Assim, o objetivo para agosto será o de superar as conquistas da edição passada, em critério qualitativo ou quantitativo. “Nos últimos Jogos nós tivemos quatro medalhas. Quantitativamente falando, uma melhora seria conquistar cinco medalhas, mas, do ponto de vista de qualidade, a gente pode falar em duas medalhas. Se a gente ganhar uma de ouro e uma de prata, já é melhor do que uma de ouro e três de bronze”, expôs Ney, ressaltando que, mesmo se não tivesse as vagas asseguradas como país-sede, o Brasil teria 14 atletas dentro da zona de ranquemanto, situação vivida também apenas pela França e pelo Japão.
Concentração
Com a equipe definida, as seleções terão agora três treinamentos de campo pela frente. Enquanto o feminino passará por períodos na França e na Espanha – o primeiro deles já entre 11 e 18 de junho –, o masculino permanecerá no Brasil, com atividades em Pindamonhangaba (SP). Em um último treino, as equipes serão reunidas no centro de Lauro de Freitas (BA) antes de seguirem para a concentração final, que será realizada em Mangaratiba, a cerca de 100 quilômetros do Rio de Janeiro, a partir do dia 24 de julho.
A chegada à Vila Olímpica será gradual, com cada categoria desembarcando apenas na antevéspera da competição. Depois os atletas também deixam o local gradativamente. “Todos vão ficar o mesmo período de tempo na Vila, diferente de Londres em que os pesados ficaram até sete dias a mais do que os outros”, comparou. Ainda segundo Ney Wilson, os atletas que não foram convocados poderão ser aproveitados como sparing, caso aceitem, para o treino dos que irão aos Jogos. “Nosso perfil para isso é de um projeto com atletas jovens, com passagem pela seleção de base com resultados e com potencial de crescimento. Eles são a prioridade. Mas se um atleta já tiver absorvido a perda da vaga e os treinadores entenderem que é importante, do ponto de vista técnico, não há impedimento de estarem lá também para contribuir com os atletas olímpicos”, ponderou.
Confira os vídeos das convocações
Ana Cláudia Felizola – brasil2016.gov.br