Judô
Mundial de Judô 2019
Mesmo com iniciativa, Kitadai acaba eliminado por "quimono fora da faixa"
Não foi por falta de conceito. Assim como se definiu em entrevista ao rededoesporte.gov.br no período de aclimatação para o Mundial, em Hamamatsu, Felipe Kitadai trouxe para o tatame do Nippon Budokan todo o arsenal que o levou ao bronze olímpico nos Jogos de Londres, em 2012, e ao título recente do Grand Slam de Baku, no Azerbaijão, em maio.
Na estreia no Mundial de Tóquio, no Japão, o brasileiro foi persistente, insistente, buscou a iniciativa da luta e chegou a jogar no tatame Gusman Kyrgyzbayev, do Cazaquistão, nos primeiros minutos. A vantagem do waza-ari sobre o número 11 do mundo, contudo, não durou. Num deslize na sequência, Kitadai também levou um waza-ari, o que conduziu o combate ao Golden Score. A diferença entre os dois foi que, ao longo dos quatro minutos regulamentares, o brasileiro sofreu duas punições por "falso ataque".
"Dentro do que eu queria de atitude, consegui. Fui combativo. Lutei. Não fiquei passivo. Não esperei ação. Mesmo assim, não veio o objetivo. É desgostoso tanto trabalho de uma preparação incrível para terminar assim"
Felipe Kitadai, categoria -60kg
Assim, o atleta paulista de 30 anos chegou à "morte súbita" sem margem para errar. Mesmo mantendo a intensidade, contudo, Kitadai acabou sofrendo uma terceira punição com um minuto de luta, dessa vez por uma razão de ordem disciplinar. Ele foi punido por não ajustar o quimono da forma adequada ("Untidy Judogi"), ou deixar o quimono fora da faixa mesmo após avisos da arbitragem em situações anteriores. Assim, acabou eliminado precocemente.
"Parece meio injusto perder por três punições sendo tão agressivo. Não devia ocorrer, mas acontece. Pode ser com qualquer um. Eu vim com uma motivação só. Uma estratégia única: ganhar todas as lutas. Não tem muito o que planejar nessas categorias mais leves. Não dá para estudar os 75 adversários. Você vai pegar sete no caminho, e olha que estudei muito esse", afirmou o brasileiro, momentos após a derrota.
Kitadai ficou ainda mais chateado porque já havia superado o adversário em ocasião recente e com uma história similar à da luta em Tóquio. "Foi do mesmo jeito, mas joguei ele no final mesmo com duas punições. Foi a mesma coisa agora, mas com resultado contrário", lamentou. "Dentro do que eu queria de atitude, consegui. Fui combativo. Lutei. Não fiquei passivo. Não esperei ação. Mesmo assim, não veio o objetivo. É desgostoso tanto trabalho de uma preparação incrível para isso".
Se serve de consolo para Kitadai, o adversário dele seguiu até o bloco final da competição. Gusman Kyrgyzbayev esteve muito perto da medalha, mas perdeu a semifinal e a decisão do bronze. O título ficou com o georgiano Lukhumi Chkhvimiani, que eliminou o outro brasileiro, Eric Takabatake, no início da caminhada rumo ao pódio. Na final, ele superou Sharafuddin Lutfillaev, do Uzbequistão. Os bronzes ficaram com o japonês Ryuju Nagayama e com Yeldos Smetov, do Cazaquistão.
Horizonte olímpico
Obviamente chateado com a perda da chance de crescer no ranking mundial e de se fixar entre os 18 melhores da categoria que vão aos Jogos Olímpicos, Kitadai não baixa a guarda. Avalia que tem uma trilha por seguir e mantém a mira nos Jogos de 2020. "Foi uma pedra no meio do caminho, dos planos, mas não muda minha perspectiva. Eu estava numa subida. Vou continuar essa escalada para o topo de novo", projetou o atleta, atualmente o 21° do mundo.
Números expressivos
Evento-teste para os Jogos Olímpicos de 2020, o Campeonato Mundial de Judô de 2019 reúne 839 atletas, de 148 países. São sete categorias no masculino e outras sete no feminino. Até 31 de agosto, a disputa é nas categorias individuais. No dia 1 de setembro, será a vez da competição por equipes mistas, formato que será adotado pela primeira vez no programa olímpico nos Jogos do Japão. Pelo sorteio da chave, o time brasileiro vai estrear contra a seleção alemã. Se vencer, terá pela frente o vencedor do confronto entre Portugal e Azerbaijão.
Na chave individual, o Brasil tem 18 atletas inscritos. Dezessete deles são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento anual do governo federal no grupo é de R$ 1,67 milhão.
Além disso, 12 dos 18 atletas estão incluídos na Bolsa Pódio, a categoria mais alta do programa, voltada para esportistas que se consolidam entre os 20 melhores do mundo. Eles recebem repasses mensais que variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. Numa outra frente de investimentos federais, 11 dos 18 atletas integram o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR).
Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br