Tenis de mesa paralímpico
Toronto 2015
Tênis de mesa garante dois ouros no feminino e vagas no Rio 2016
Os suspiros em tom de alívio e as mãos trêmulas ao segurar a raquete para conversar com jornalistas não escondiam: Catia Cristina da Silva Oliveira, de 24 anos, estava com a adrenalina em alta. "Não dá para negar. Eu estava super ansiosa, eufórica. Cheguei a errar bolas inacreditáveis, que jamais perderia em treinos. Mas no fim consegui baixar a tensão e deu super certo", sorriu, ciente de que o ouro conquistado no Parapan de Toronto tinha sabor de passaporte para a Rio 2016.
Passaporte compartilhado entre ela, na Classe 2, voltada para cadeirantes, e a caçula da equipe Danielle Rauen, ouro na Classe 9, para andantes. "Não tenho nem o que falar. De tanto que lutei, de tanto esforço que fiz, nada foi inválido", disse a atleta de 17 anos, que tem artrite reumatoide, que causa atrofia nos músculos e degenera articulações. "O tênis de mesa é como se fosse meu remédio. Tenho de me mexer sempre. Se parar, atrofia. E o tênis de mesa exige o uso de toda a musculatura", explicou.
Danielle teve campanha impecável, com três vitórias por 3 sets a 0, uma delas sobre a companheira de equipe Jennyfer Parinos, que ficou com a prata. O jogo que confirmou o ouro foi diante da argentina Analía Longui. As parciais foram 11/7, 11/2 e 11/6.
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Os planos até os Jogos Paralímpicos são subir o máximo que puder no ranking mundial para evitar, na definição da chave no Rio, um encontro precoce com chinesas e polonesas, rivais muito qualificadas. "Hoje ela é a sétima do mundo. Queremos chegar, até a época do chaveamento, ao quinto lugar. Se fizermos isso, temos chances de um bom chaveamento e daria para sonhar, de fato, com medalha", afirmou Paulo César de Camargo, técnico dos atletas andantes da Seleção Brasileira.
Catia, por sua vez, prefere não pensar muito em quem vai estar do outro lado da mesa. A receita, segundo ela, é seguir treinando firme, colocar na mesa o que vem praticando e sonhar, sim, com o pódio no Rio. Ex-meia-atacante de futebol feminino, ela chegou a ser convocada para a Seleção, mas teve o destino mudado em função de um acidente de carro. A vivência nos gramados, contudo, manteve nela o faro de atacante. "Eu gostava de estar com a bola no pé, de fazer um gol de vez em quando. Agora, no tênis de mesa, trago um pouco disso. Tenho um quê de atacante, que gosta de bola rápida, forte", brincou.
Estrutura
As duas recebem a Bolsa Atleta do Ministério do Esporte e são beneficiários de um convênio entre a pasta e a Confederação Brasileira de Tênis de Mesa, que propiciou R$ 2,37 milhões em investimentos no tênis de mesa paralímpico. Os valores foram utilizados para equipar os CTs de Brasília (cadeirantes) e Piracicaba (andantes), e abrangem ajuda de custo e contratação de comissão técnica e consultor estrangeiro para preparação de 15 atletas, além da compra de equipamentos específicos. Há ainda um outro convênio, de cerca de R$ 1,49 milhão, para viagens. Além disso, os seis mesatenistas da equipe paralímpica permanente de Brasília recebem Bolsa-Atleta ou Bolsa-Pódio do Governo Federal.
Categorias
No tênis de mesa paralímpico, os atletas são divididos em 11 classes distintas: das classes 1 a 5 são cadeirantes, das classes 6 a 10 são andantes e na classe 11 são andantes com deficiência intelectual. Quanto maior o número da classe, menor o comprometimento físico-motor do atleta. A classificação é realizada a partir da mensuração do alcance de movimentos de cada um, da força muscular, de restrições locomotoras, do equilíbrio na cadeira de rodas e da habilidade de segurar a raquete.
Gustavo Cunha, de Toronto - Brasil2016.gov.br