Atletismo paralímpico
No Engenhão
Inspirado por Yohansson e Alan, Petrúcio quer fazer história na Paralimpíada
O dia 2 de setembro de 2012 entrou para a história do atletismo paralímpico e acabou marcando também a trajetória de três velocistas brasileiros. Nos Jogos Paralímpicos de Londres, diante de um Estádio Olímpico lotado, o jovem Alan Fonteles, então com 20 anos, surpreendeu o mundo ao vencer, nos 200m, o favoritíssimo Oscar Pistorius, sul-africano que vinha da disputa dos Jogos Olímpicos correndo com próteses. Cerca de 20 minutos antes, o também brasileiro Yohansson Nascimento também tinha levado o ouro. E a milhares de quilômetros dali, na pequena cidade de São José do Brejo da Cruz, interior da Paraíba, o adolescente Petrúcio Ferreira ganhava dois ídolos, sem saber que em breve teria também dois conselheiros.
Nesta quinta-feira (19.05), no segundo dia do Open Internacional de Atletismo Paralímpico, evento-teste da modalidade para o Rio 2016, os três mostraram que podem brilhar juntos nos Jogos Paralímpicos, em setembro. Logo após ganhar o ouro nos 100m em sua classe, a T43, com a marca de 11s49, Alan Fonteles parou as entrevistas para assistir a disputa de Yohansson e Petrúcio nos 100m da T47.
A vitória de Petrúcio - que fez 10s85, melhor marca dele em 2016, impressionou Alan. Yohansson correu para 10s95 e ficou com a prata. “O Petrúcio é um moleque novo, que corre bem para caramba, corre fácil. É um cara que está aí junto comigo, jovem também, e sem dúvida a gente vai dar muita alegria para o Brasil”, previu o campeão paralímpico dos 200m.
Para Petrúcio, a relação é aprendizagem e inspiração. “Um dos primeiros atletas paralímpicos que eu assisti correr, vendo as reportagens, foi o Alan Fonteles. Até me deu motivação quando iniciei no esporte. Eu brincava: ‘Se ele não tem as duas pernas e corre deste jeito, eu também consigo'”, lembrou. Aos 19 anos, ele vai disputar os Jogos Paralímpicos pela primeira vez. E dois companheiros de seleção brasileira são fundamentais para espantar o nervosismo. “Tanto o Alan quanto o Yohansson me dão um pouco de experiência, porque sou novato. Eles me ajudam a descontrair, porque às vezes eu fico tenso, e eles começam a brincar comigo e fica bem legal essa interação”, explicou.
Mais velho do grupo, Yohansson Nascimento, hoje com 28 anos, compete na mesma categoria que Petrúcio, mas diz que não trata o colega como rival. “É uma relação de amizade. Eu sou de Maceió, ele da Paraíba. Eu passo a experiência que tenho nesses 11 anos de atletismo. A gente já competiu em várias provas juntos. Isso aqui hoje é uma amostra do que vai ser a final nas Paralimpiadas. Eu me considero um dos favoritos para ganhar a medalha e ele também é um dos favoritos. Mas que a medalha de ouro fique em casa. Independentemente de ser comigo ou com ele, vou ficar feliz”, contou.
Para fazer história em casa
Os Jogos Rio 2016 podem acabar marcando de vez a vida dos três velocistas. Competindo em casa, diante da torcida brasileira, todos eles têm a oportunidade de fazer história mais uma vez, assim como Alan e Yohansson fizeram em Londres. Os dois ganharam a mesma prova, os 200m, mas em categorias diferentes. Alan venceu na T44 e Yohansson, na T47.
Além das disputas individuais, os três podem conquistar uma medalha no revezamento 4 x 100m, que reúne atletas das classes T42 a T47. Entre os quatro escolhidos para a prova, dois precisam obrigatoriamente ser atletas com deficiência nos braços e dois com deficiência nas pernas. Assim, Petrúcio e Yohansson devem ser os escolhidos, ao lado de Alan Fonteles e um nome ainda não definido. “Um se apoia no outro, um ajuda o outro. A gente vai correr o revezamento junto, então está todo mundo junto”, afirmou Alan. “Na hora do revezamento, somos ainda mais parceiros. E quando a gente ganha uma medalha, ela é dividida por quatro”, resumiu Yohansson.
Recordistas mundiais reconhecem terreno
Entre as mulheres, duas recordistas mundiais venceram os 100m em suas classes e começam a se familiarizar com a nova pista do Engenhão, palco de possíveis quebras de recordes em setembro. Na classe T12 (baixa visão), a cubana Omara Durand ganhou o ouro do evento-teste com a marca de 11s85. O estádio agradou a velocista, e a expectativa é grande para o megaevento.
“Estou me preparando muito para os Jogos Paralímpicos, acho que serão fabulosos, adoro o Brasil, o Rio me encanta, é uma cidade acolhedora. Todas as vezes em que estive aqui me senti bem. A pista está muito boa. E, se acontecer de chover nos Jogos Paralímpicos, já sei como vai ser”.
Na classe T11 (totalmente cegos), Terezinha Guilhermina, correndo com o novo guia, Rafael Lazarini, venceu a prova no photo finish (recurso de imagem que reproduz a linha de chegada), já que empatou com a compatriota Lorena Spoladore, ambas com 12s25. Para a recordista mundial, em setembro, a coincidência não vai se repetir.
“Estou treinando muito, estou assimilando coisas novas, para que em setembro possa fazer o melhor da minha vida. Rafael é um anjo, tem nome de anjo. Quero voar com ele, e não mais correr. Este empate técnico veio porque ainda estou trabalhando para meu foco. Em setembro, não terá empate”, apostou.
Neste segundo dia de competições no Open, o Brasil conquistou mais 43 medalhas, sendo 16 de ouro, 12 de prata e 15 de bronze. O país tem, ao todo, até o momento, 60 medalhas (24 ouros, 16 pratas e 20 bronzes). Confira todos os resultados do dia aqui.
Carol Delmazo e Mateus Baeta, brasil2016.gov.br