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Atletismo

01/04/2016 12h17

Atletismo

Com novos guias, Terezinha Guilhermina acerta o passo para o Rio 2016

Evento-teste do atletismo, em maio, será chance de avaliar sincronia com o time renovado. Velocista defenderá na Paralimpíada os títulos dos 100m e 200m na T11

Terezinha Guilhermina é prova de que sempre há o que aprender. A carreira vitoriosa – que inclui seis medalhas paralímpicas, 17 pódios em Mundiais, vários recordes e a inscrição no Guinness Book como a cega mais rápida do mundo – não fez a velocista se acomodar. Aos 37 anos, ela vive uma adaptação técnica que tem como principal meta os Jogos Paralímpicos Rio 2016, em setembro.

A atleta encerrou, no fim do ano, uma parceria de cinco anos com Guilherme Santana, com quem conquistou três medalhas em Paralimpíadas, nove em Mundiais e sete em Jogos Parapan-Americanos. Atualmente, treina com os atletas-guia Rafael Lazarini e Rodrigo Chieregatto.

“Foi uma mudança necessária com foco na melhora de performance. Como eu já tinha feito esse tipo de mudança quatro meses antes do Mundial de 2011, julguei fundamental agora. É sangue novo no time, uma motivação diferente”, diz  a atual campeã paralímpica dos 100m e 200m na classe T11.

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Terezinha Guilhermina e o guia Rafael Lazarini: sincronia é o maior desafio. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB

Desde dezembro do ano passado, ela busca a sincronia com a equipe. “Para que esse sincronismo aconteça de forma ideal, é importante a minha mudança de técnica. Os meus dois guias, em especial o Rafael, são muito técnicos, o que exige de mim uma perfeição na execução dos movimentos. E é exatamente por isso que aumentamos o volume de treino, pra que essa melhora aconteça e possamos acertar detalhes”.

Rafael dá exemplos de alterações que estão sendo feitas na forma de correr da atleta. “É importante estar com o abdome contraído para ter boa postura e conseguir manter essa postura do começo ao fim. Isso está mudando. A questão da pisada também. A Terezinha procura o chão mais à frente, na ponta do pé, bloqueando a corrida, que tem que ser mais horizontalizada. Agora ela já conseguiu mudar a pisada e isso me favorece muito”.

De Doha para o Rio

Rafael e Terezinha correram juntos pela primeira vez no Mundial de 2015, em Doha, no Catar. Guilherme, o então atleta-guia da velocista, sofreu uma lesão na coxa que o impediu de disputar os 100m. Rafael, então, foi chamado e aceitou a missão, sobretudo porque estava bem preparado fisicamente. Mas o desafio era grande.

“O único treinamento que tive com a Terezinha foi o aquecimento. Conseguimos passar da eliminatória para a semifinal, mas não deu para ir à final. Foi a primeira vez que guiei uma mulher e é totalmente diferente, a altura, a proximidade. Você guia o homem com uma cordinha, fica a 30, 40cm dele, e com a mulher você fica do lado, braço a braço”, explica.

Pela primeira vez em dez anos, Terezinha ficou fora da final dos 100m, mas o parceiro da prova foi eleito para a preparação paralímpica. E ela está satisfeita com a evolução. “Até onde poderia chegar na minha força eu cheguei, agora preciso de uma adaptação técnica. É um trabalho intenso e diferente do que fiz em outras Paralimpíadas. Nunca estive tão bem condicionada fisicamente. E psicologicamente estou bem preparada”.

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Ao lado de Guilherme Santana, Terezinha conquistou três medalhas paralímpicas e nove em mundiais. Foto: Daniel Zappe/MPIX/CPB

Evento-teste

O torneio Open, marcado para 18 a 21 de maio, será o evento-teste do atletismo paralímpico. Além de mostrar os ajustes que devem ser feitos no Engenhão até os Jogos, a competição vai mostrar se a preparação de Terezinha, Rafael e Rodrigo (que é o atleta-guia de apoio) está no rumo certo.

“Vai ser um evento singular, com mídia, adversários fortes e no Brasil. Eu participei do evento-teste de Londres e pude usufruir dessa informação de ter um teste no local da competição. Para mim, é um privilégio. Vou enfrentar bem essa competição”, afirma Terezinha, que recebe a Bolsa Pódio do Ministério do Esporte.

“O evento-teste vai ser importante. Acho que ela ainda não vai estar no pico, porque a mudança foi grande, para assimilar ainda é pouco tempo. Estamos calculando o pico nas Paralímpíadas. Mas vai ser uma competição forte e vamos ver se estamos no caminho certo”, completa Rafael Lazarini.

Psicologia e pressão

O guia conta que está adorando o trabalho. Eles treinam no Clube de Atletismo BM&F Bovespa, em São Caetano do Sul (SP), onde também estão outros 11 velocistas da seleção e mais sete atletas-guia. A pista externa do local foi reformada com investimento de R$ 6,5 milhões do Ministério do Esporte. Uma equipe multidisciplinar composta por dois técnicos, um nutricionista, um psicólogo, dois fisiologistas, três fisioterapeutas e dois massoterapeutas dão o suporte necessário.

“Ela é muito focada dentro e fora da pista. Dorme certinho, alimenta certinho, e acaba me motivando mais ainda. É muito inteligente e, além de tudo, é psicóloga formada, o que ajuda muito também”, conta Rafael.

Se Terezinha se encaminha para a quarta edição de Paralimpíada, o Rio 2016 será a primeira de Rafael. “Procuro não ficar pensando no que vai acontecer, nessa pressão de defender o titulo (dos 100m e 200m), de ser no Brasil. Procuro focar nos treinos e melhorar o que tem melhorar e colher os frutos lá”, diz o atleta-guia de 29 anos.

Terezinha vai disputar os 100m, 200m, 400m e o revezamento 4x100m. “Pretendo chegar 110%, 120% pronta. Acredito que o trabalho necessário eu tenho feito e, nesta Paralimpíada, vou poder desfrutar do meu talento físico, com reconhecimento pelo público. Competir uma Paralimpíada no Brasil é singular e merecia um trabalho diferenciado, como estou fazendo”, conta, e convoca o apoio da torcida.

“Sempre considerei que toda a torcida era pra mim, a vantagem de não enxergar é isso. Sempre ouvi muita gente gritando e considerava que era pra mim. Agora vou ter certeza de que é. Quero gritos altos, quero ouvir um por um. Eu corro, vocês torcem e a gente vibra e comemora juntos”.

Carol Delmazo, brasil2016.gov.br