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Geral

06/11/2018 20h55

Madri 2018

Estreias tímidas apontam para caminho a trilhar no kata e nos pesados do kumite

Dos seis brasileiros que se apresentaram no primeiro dia do Mundial de Caratê, quatro caíram na rodada inicial e dois chegaram até a terceira fase

 

Assim que saiu a tabela do kata masculino, na noite da segunda-feira (5.11), Williames Santos já tinha mapeado que seu caminho no Mundial de Caratê de Madri seria complexo. O baiano caiu no mesmo lado da chave do japonês Ryo Kiyuna, atual campeão mundial, e do italiano Mattia Busatto, outra fera na versão mais estética do esporte. "Eu peguei uma chave complicada. Caí no lado do japonês, que é o cara a ser batido, e do italiano, que é um grande amigo, mas um adversário bem duro", afirmou o atleta.

Assim, para chegar próximo à sua meta pessoal de terminar entre os cinco melhores do mundo, Williames precisava vencer quatro combates. Ficou no meio do caminho. Venceu os dois primeiros com autoridade. Passou por Michael Nakapandi, da Namíbia, e por Alasmari Mesfer, da Arábia Saudita, por 5 x 0, ou decisão unânime dos árbitros que avaliam as performances técnicas em cerca de dois minutos de apresentação.

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Williames: chave complicada e deslize na terceira rodada. Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br
"Eu escolhi um kata em que podia impor um pouco mais de vigor físico, potência, explosão, mas logo no início tive um pequeno deslize. Não foi algo tão perceptível para o público, mas o desenrolar do kata"
Williames Souza, atleta

Na terceira rodada, contudo, o brasileiro foi superado pelo malaio Lim Chee Wei, também por decisão unificada da arbitragem, e teve abreviada sua participação. A derrota na chave só se transformaria em repescagem se o vencedor chegasse à final da competição. Como o malaio perdeu na sequência para Busatto, Williames ficou nas oitavas de final em sua quarta participação em Mundiais. O japonês, como esperado, garantiu a vaga na decisão. 

"Eu escolhi um kata em que podia impor um pouco mais de vigor físico, potência, explosão, que é uma característica minha, mas logo no início tive um pequeno deslize no tatame. Não foi algo tão perceptível para o público, mas para mim atrapalhou o desenrolar do kata", avaliou o atleta. "Saio feliz. Não satisfeito. O objetivo era ficar entre os cinco melhores, mas sei exatamente o que falta, o que pode ser ajustado".

No feminino, Nicole Yonamine Mota perdeu na primeira rodada, para a francesa Alexandra Feracci, por 4 x 1 na avaliação da arbitragem. Como a francesa perdeu a segunda luta, Nicole não teve como seguir na chave. "É mais um mundial disputado e mais experiência adquirida. O resultado esperado não veio. Isso significa só uma coisa: mais trabalho", disse a atleta, em seu perfil no Instagram.

O kata tem caráter de apresentação, de reunião de uma sequência de movimentos técnicos, sincronizados, feitos com fluidez e precisão. Cada apresentação dura em torno de dois minutos e meio e é um duelo entre dois atletas em que há uma série de critérios. São fatores técnicos, como posições, movimentos de transição, sincronização, foco e grau de dificuldade, mas também de caráter estratégico. Ao longo da competição, um atleta não pode repetir a "coreografia". Tem de ter treinadas pelo menos sete sequências. Algumas mais complexas. Assim, tem de saber a hora cerca para escolher cada uma.

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Um dedo no olho tirou de Alberto Azevedo as chances de seguir adiante na chave dos pesados. Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br
"É claro que gostaríamos que nossos atletas tivessem caminhado mais, mas sabíamos que seria um dia difícil. Precisamos trabalhar para que melhores resultados venham num futuro próximo nessas categorias"
Diego Spigolon, técnico da seleção brasileira

Dedo no olho

Além da participação no kata, o Brasil teve quatro representantes nas categorias mais pesadas do kumite (lutas) no masculino e no feminino. O primeiro a entrar no tatame foi Alberto Azevedo, na categoria +84kg. O brasileiro perdeu na estreia para o palestino Mohammed Owda, por 5 x 2. A luta foi marcada por uma fatalidade. No início, numa tentativa de soco, o palestino acertou o dedo no olho esquerdo do brasileiro.

"Inchou muito. Quando tentava focar, doía bastante. Ficou complicado porque enxergar com os dois olhos ajuda você a medir a distância para o adversário. Depois disso, eu tinha de lutar meio que com um olho fechado. Tentei entrar mais embaixo, fiz alguns golpes, mas não saíram pontos. Aí acabei tomando dois chutes na barriga", lamentou o brasileiro, que disputou na Espanha o seu segundo Mundial sênior e ficou bastante chateado com a forma como acabou eliminado.

"Era uma luta que dava para passar tranquilamente, mas não aconteceu. São dois anos de dedicação. É complicado, mas quando você entra para lutar, está sujeito a isso. É ruim. O pior cenário possível. Você chega bem preparado, treina, ganha de todo mundo onde você treina, luta bem com todo mundo, e aí chega aqui e acontece isso. É terrível, mas se luto me exponho a esse tipo de coisa", lamentou.

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A carioca Isabela Rodrigues fez luta parelha na categoria +68kg, mas foi eliminada pela italiana Clio Ferracuti. Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br

Adversidades normais

Na categoria pesado feminina, a carioca Isabela Rodrigues também foi eliminada na primeira luta. Num combate parelho na categoria +68kg, ela acabou derrotada pela italiana Clio Ferracuti por 3 x 1. Isabela ainda integrará a equipe feminina, que atua na sexta-feira (9.11).

"A gente tinha uma estratégia montada. Tentei seguir à risca. Foi exatamente como a gente planejou, com exceção de adversidades normais de luta. Eu sabia do jogo ofensivo forte dela, mas estava segura. Só não contava levar o primeiro ponto da forma que foi. Eu senti que bloqueei, mas a arbitragem pontuou. E depois cruzamos um golpe, mas a arbitragem não considerou o meu. Faz parte".

Duas boas rodadas

Na categoria -84kg, Kaique Rodrigues avançou bem nas duas primeiras rodadas. Bateu o jordaniano Mahmoud Sajan por 2 x 0, na estreia, e virou de 3 x 0 para 7 x 3 contra Kader Traore, de Burkina Faso, na segunda rodada. Na terceira, contudo, reencontrou o francês Kenji Grillon, de quem tinha perdido este ano numa etapa da Premier League, em Berlim, por 3 x 0. Desta vez, fez uma luta parelha, mas acabou vencido por diferença mínima: 2 x 1.

"Estou feliz com o desempenho. É meu primeiro Mundial sênior e perdi para um francês que tem bom currículo. Senti que dava desta vez, mas sofri um wazari e não consegui recuperar. Foi uma luta justinha, de placar apertado, eu estava bem, mas não deu. O importante é que me senti bem, descontraído, leve, não respeitei adversários, fui para cima mesmo", avaliou.

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Kaique Rodrigues avançou bem até a terceira rodada. Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br

A outra brasileira que se apresentou no dia foi a jovem Gabrielle Sepe, de 21 anos, que perdeu na primeira rodada da categoria -68kg para a espanhola Cristina Vizcaino por 2 x 0. Foi a estreia dela num Mundial pela Seleção Brasileira.

Para Diego Spigolon, um dos técnicos da seleção brasileira, os resultados refletem o atual momento dessas categorias. "É claro que gostaríamos que nossos atletas tivessem caminhado mais, que chegassem próximo de uma disputa de medalha, mas sabíamos que seria um dia difícil", afirmou. "Precisamos trabalhar para que melhores resultados venham num futuro bem próximo nessas categorias. Tivemos o apoio do Comitê Olímpico do Brasil. Filmamos aqui toda a competição. Vamos ver depois detalhes não só dos adversários, mas nossas falhas. Vamos colher coisas boas no futuro", afirmou.

Nesta quarta-feira (7.11), outros seis atletas brasileiros entram no tatame, com destaque especial para Douglas Brose, que soma quatro medalhas em Mundiais, além de Vinicius Figueira, bronze em 2014, e Valéria Kumizaki, atual vice-campeã mundial.

Infográfico - Mundial de Caratê Madri 2018

 

Flickr do Ministério do Esporte: imagens disponíveis em alta resolução para uso editorial gratuito (crédito obrigatório: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br)

Mundial de Caratê Madri 2018

 

Gustavo Cunha, de Madri, na Espanha - rededoesporte.gov.br