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Geral

06/11/2018 16h44

Madri 2018

Dois medalhistas em mundial numa corrida olímpica por apenas uma vaga em 2020

Douglas Brose e Vinicius Figueira pertencem a categorias diferentes e estreiam em Madri nesta quarta de olho no ranking para Tóquio. Lá, apenas um deles poderá estar presente

Eles são parceiros de treino na seleção. Nutrem grande respeito um pelo outro. Não entram no tatame para se enfrentar. Estreiam no Mundial de Caratê no mesmo dia, nesta quarta-feira (7.11). No plano simbólico, contudo, disputam um combate paralelo em que só um deles tem chance de conseguir a vaga olímpica. Essa é a sina de Douglas Brose e Vinicius Figueira. Bronze no Mundial de 2014, Vinicius compete na categoria até 67kg. Com dois ouros, uma prata e um bronze em Mundiais, Douglas atua na até 60kg. Em Tóquio 2020, contudo, as categorias serão unificadas. E só um atleta por país pode chegar lá.

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Vinicius durante treino da seleção: temporada consistente. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

"A realidade é que Vinícius e Douglas disputam, sem lutar, a mesma vaga. A briga pelo ranking ocorre separadamente. Quando chegar em 2020, em abril, o ranking é paralisado e se verifica quem está melhor. O primeiro e o segundo do mundo na categoria até 60kg e o primeiro e o segundo até 67kg garantem vaga em Tóquio. Vale o de maior pontuação", explica William Cardoso, diretor técnico da Confederação Brasileira de Karate (CBK).

"Em momento algum eles vão lutar, mas é uma luta muito pior do que um combate"
William Cardoso, diretor técnico da CBK

"Caso nenhum dos dois chegue via ranking, haverá um torneio classificatório no início de 2020, em Paris. Lá, haverá um só representante do país na categoria unificada. Apenas um vai poder disputar e a definição é por pontuação no ranking. Assim, em momento algum eles vão lutar, mas é uma luta muito pior do que um combate", completou o dirigente.

A corrida olímpica também prevê critérios continentais de ocupação das vagas e pontuações especiais para eventos regionais, como os Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019. O programa de Tóquio não uniu apenas a categoria de -60kg com a de -67kg. As cinco categorias do masculino e as cinco do feminino foram reduzidas para três em cada gênero, em nome de manter o número de atletas no megaevento esportivo. No masculino, por exemplo, haverá união também das categorias mais pesadas (+84kg e -84kg). A de -75kg permanece como está. 

Nesse instante, Vinicius leva vantagem na corrida. O atleta soma 4.355 pontos no ranking da categoria -67kg, em segundo lugar do mundo. A liderança momentânea pertence a Burak Uygur, da Turquia, com 4.972,50. O terceiro colocado é o japonê Hiroto Shinohara, com 3.430. O Mundial de Madri, contudo, pode mexer bastante com a listagem, pois tem peso 12 e é o evento de maior projeção na corrida até 2020.

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Douglas: retomada depois de grave lesão. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br
"Fiz tudo o que eu e minha equipe julgamos necessário para chegar da melhor forma. Não tem nada que sinto que faltou"
Vinicius Figueira, segundo do ranking -67kg

O paranaense de Londrina vem de temporada consistente. Ele venceu o Pan-Americano no Chile, foi vice-campeão na etapa de Berlim da Premier League, prata na Série A de Santiago e quinto na Premier League de Tóquio, no Japão. "Sei que fiz tudo o que eu e minha equipe julgamos necessário para chegar da melhor forma nessa competição. Não tem nada que eu sinto que faltou na preparação", afirmou o atleta.

Douglas Brose chegou a ocupar, no início de 2018, o topo do ranking mundial, mas sofreu uma lesão inesperada no tendão calcâneo da perna esquerda na semifinal dos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia, em maio. Precisou de cirurgia. Experimentou três meses afastado. Fez fisioterapia e fortalecimento. Treinou forte nos últimos dois meses e meio e chega a Madri em quinto na listagem, mas empolgado por considerar ter vencido uma luta contra o tempo.

"Por serem categorias de ranking diferente, o que penso é que a disputa não é entre os dois, mas, sim, de nós dois contra nós mesmos"
Douglas Brose, quinto no ranking -60kg

"Dentro das condições adversas que tive, está tudo pronto. A verdade é que, por serem categorias de ranking diferentes, o que penso é que a disputa não é entre os dois, mas, sim, de nós dois contra nós mesmos", afirmou.

"São dois atletas muito fortes, com toda a condição de estar numa Olimpíada, mas só um poderá. O ranking é dinâmico. São muitas competições. Quem estiver mais constante leva a melhor", afirmou Lucélia Brose, tetracampeã dos Jogos Pan-Americanos, integrante da comissão técnica da seleção brasileira e esposa de Douglas. O brasileiro soma 3.685 pontos. O segundo colocado é Sadriddin Saymatov, do Uzbequistão, com 5.077, e o primeiro é Eray Samdan, da Turquia, com 4.972.

No Mundial de Madri, Douglas Brose estreia contra o chinês An Boxiang, enquanto Vinicius Figueira encara o belga Jess Rosielllo em seu primeiro confronto. As lutas duram três minutos e são eliminatórias. A repescagem só existe para os atletas que perdem para quem chegar na final.

Difícil prognóstico

Tecnicamente, segundo William Cardoso, a união de categorias tem efeitos ainda imprevisíveis na performance. Na prática, a diferença entre atletas das categorias -60kg e -67kg tem a ver com a envergadura dos atletas. Os da categoria mais pesada costumam ser um pouco maiores, com alcance mais extenso nos golpes. Em contrapartida, os mais leves costumam precisar de menos espaço para trabalhar. 

"Só quando juntarmos saberemos a real diferença. Teremos um parecer na Olimpíada. O que é fato é que o de maior envergadura não necessariamente se sobressai, porque precisa de longo espaço para trabalhar sua técnica. O outro tem tempo bem menor. Essas adaptações de distância só vamos conseguir ver em Tóquio. Não existe hoje esse confronto no mundo real", afirmou William.

O que é positivo, segundo ele, é que o Brasil sai na frente nesse quesito. Ao treinarem juntos na seleção, Vinicius e Douglas acabam simulando e experimentando características do peso acima e do peso abaixo. Assim, ganham adaptabilidade importante para quem quer que se saia melhor na busca pela vaga em Tóquio. 

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Valéria Kumizaki é a atual vice-campeã mundial. Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

Kumizaki na briga

Além de Vinicius, outros quatro atletas entram no tatame nesta quarta-feira no Wizink Center, em Madri. Atual vice-campeã mundial, quarta do ranking da WKF e forte candidata a vaga olímpica, Valéria Kumizaki é um dos destaques da categoria até 55kg. Ela estreia diante da sérvia Dina Durmis. "Estou me sentindo bem e preparada em todos os aspectos", afirmou a atleta, que veio para a Espanha há três semanas, depois de disputar a Premiere League no Japão.

» Acompanhe a cobertura completa do Mundial de Caratê Madri 2018

"Fui para todas as etapas do circuito mundial e ficamos aqui bem focados e treinando forte. Passam muitas coisas na cabeça quando chega perto de um campeonato tão importante, mas estamos prontos para competir", disse Valéria, que ostenta em 2018 um título pan-americano no Chile, foi ouro nos Jogos Sul-Americanos, venceu a Premier League no Marrocos, terminou em terceiro na etapa série A na Áustria e foi sétima na premier league do Japão.

Na opinião do técnico Diego Spigolon, o trio composto por Vinicius, Douglas e Valéria é uma espécie de força motriz da delegação nacional. "A nossa equipe é de fato alavancada por essas peças. São atletas consagrados", afirmou Spigolon, que tem grande confiança na preparação, que contou com análise de desempenho dos adversários de cada categoria com auxílio de ferramentas do Comitê Olímpico do Brasil (COB). "Antes, fazíamos isso de forma arcaica, na mão. Agora recebemos o material para que pudéssemos fazer isso de forma mais profissional", explicou o treinador.

Completam o sexteto de atletas que estreiam nesta quarta Willians Quirino (-75kg), Jéssica Linhares (-50kg) e Stéphani Trevisan (61kg). Williams passou direto pela primeira fase e espera o vencedor do duelo entre Walid Guezmil, da Tunísia, e o mexicano Luis Alonso Calvillo Gonzalez. Jéssica terá pela frente Shiau-Shuang Gu, de Taiwan, enquanto Stéphany encara a finlandesa Emma Aronen. "A Stephani foi medalhista no Mundial Sub-21 de 2015 e está chegando muito bem na categoria adulta", ressaltou Spigolon. As disputas nesta quarta-feira têm início às 7h (de Brasília). Confira a programação abaixo

 

Flickr do Ministério do Esporte: imagens disponíveis em alta resolução para uso editorial gratuito (crédito obrigatório: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br)

Mundial de Caratê Madri 2018

 

 

Infográfico - Mundial de Caratê Madri 2018

Programação (horário de Brasília)

Quarta-feira (7.11)

Kumite (lutas)
7h - Masculino (-75kg) - Willians Quirino
9h - Feminino (-61kg) - Stéphani Trevisan
10h15 - Masculino (67kg) - Vinicius Figueira
12h - Feminino (-55kg) - Valéria Kumizaki
13h15 - Masculino (-60kg) - Douglas Brose
14h45 - Feminino (-50kg) - Jéssica Linhares

Gustavo Cunha, de Madri, na Espanha - rededoesporte.gov.br