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Judô

01/09/2019 09h51

Mundial de Judô 2019

Equipe mista conquista o bronze e Brasil sai de Tóquio com três terceiros lugares no Mundial

Formato que reúne atletas do time masculino e feminino será usado pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de 2020. Título ficou com os donos da casa, que superaram a França na final

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A equipe mista de judô do Brasil é a terceira melhor do mundo. O time conquistou o bronze no último dia de competições do Mundial de Tóquio. O formato misto será adotado pela primeira vez nos Jogos Olímpicos em 2020, também no Japão. Na campanha, o Brasil venceu a Alemanha por 4 x 3, passou pelo Azerbaijão por 4 x 1, foi superado pelo Japão na semifinal por 4 x 0 e, na disputa do bronze, bateu a Mongólia por 4 x 2. O título ficou com o Japão, com 4 x 2 sobre a França na decisão. O outro bronze ficou com a Rússia. 

"A gente merecia sair daqui com essa medalha e estou feliz por poder ajudar"
Rafaela Silva

"É uma competição forte, muito importante. Acho que todo mundo deu o máximo. A gente merecia sair daqui com essa medalha e estou feliz por poder ajudar", afirmou Rafaela Silva, que também conquistou o bronze na categoria -57kg no individual. "O bronze por equipe tem sabor diferente. Aqui luta um por todos. Ganha a equipe toda. Perdi a disputa do bronze no individual, mas consegui estar focada para ajudar o time no dia seguinte", celebrou Maria Suelen Altheman, que terminou em quinto entre os pesados no dia anterior e foi a responsável pela luta que selou o bronze brasileiro na equipe, no duelo contra a Mongólia.

Equipe premiada no pódio em Tóquio. Foto: Roberto Castro/ rededoesporte.gov.br

Em cada um dos quatro duelos da campanha nacional, a comissão técnica escolheu seis atletas para representar o país nas categorias designadas pela Federação Internacional de Judô (IJF, na sigla em inglês). No feminino, -57kg, -70kg e +70kg. No masculino, -73kg, -90kg e +90kg. Quinze seleções se inscreveram. Pelo regulamento, passava adiante quem vencesse quatro dos seis confrontos. Quando havia empate em 3 x 3, uma das categorias era sorteada para uma nova luta, que já começava no Golden Score.

"Temos uma boa energia de time. Foi um bom dia e todos lutaram bem. No individual, vejo que a gente tem de rever. Não é só resultado, mas render. Eles têm mais potencial. Precisam soltar na hora certa"
Yuko Fujii, técnica da seleção masculina

Com o resultado por equipes, o Brasil sai de Tóquio com três medalhas de bronze. Na chave individual, duas atletas subiram ao pódio. Campeã olímpica, mundial e dos Jogos Pan-Americanos, Rafaela Silva chegou à terceira medalha em mundiais, uma de cada cor, com o bronze obtido em Tóquio na categoria -57kg. Dona de dois bronzes olímpicos, a bicampeã mundial e líder do ranking Mayra Aguiar chegou à sexta medalha no torneio, com o bronze na categoria -78kg. A delegação nacional contabilizou ainda três quintos lugares e um sétimo, todos entre os pesados. No Mundial de 2018, em Baku, no Azerbaijão, a campanha foi de um bronze, com Erika Miranda na categoria -52kg. 

"A gente teve um bom dia hoje com a equipe. Temos uma boa energia de time. Acho que todos lutaram bem, mas vejo que há uma distância grande da equipe japonesa e tem muitas coisas que a gente tem de replanejar e rever para crescer mais, porque acho que no individual não é só resultado, mas render mais. Eles têm mais potencial. Precisam estar mais preparados para soltar o potencial na hora certa. Vou pensar mais para preparar os atletas melhor", afirmou Yuko Fujii, técnica da seleção masculina. Pelo segundo ano seguido, o time masculino saiu sem pódios no individual. 

"Mudanças vão ocorrer para evoluir com a equipe masculina. Ainda é cedo para dizer como exatamente será feito, mas há um processo de discussão para termos neste ano um trabalho mais próximo dos atletas"
Ney Wilson, gestor de Alto Rendimento da CBJ

Resultado satisfatório

Assim como Yuko, o gestor de Alto Rendimento da Confederação Brasileira de Judô, Ney Wilson, avalia que os três bronzes conquistados em Tóquio e o fato de a seleção ter levado seis atletas ao bloco final dos oito melhores é um indicador do potencial brasileiro. Potencial, que segundo ele, não foi completamente aproveitado.  

"Avalio como uma participação não boa, mas satisfatória. Temos potencial para melhores resultados. Temos de avaliar fatos como o de ontem, quando chegamos com quatro atletas no bloco final e saímos sem medalha. Temos de entender o que aconteceu, de que forma a gente, como comissão técnica, pode contribuir", afirmou Wilson. "O judô hoje está muito equilibrado. Foram 25 países que medalharam. Tirando o Japão, que já era esperado, e a França, que foi surpreendente, com um resultado espetacular, todas as outras equipes ficaram com duas ou três medalhas. Ser bronze, prata ou ouro é o detalhe", completou.

Sem citar nomes, Ney Wilson avaliou que houve atletas que não tiveram a atitude mais desejável em cima do tatame. "Atleta precisa ter espírito, vontade de ganhar. De brigar pela vaga olímpica. A atitude que tivemos na equipe é a ideal. Por isso era importante essa medalha, para a gente sair fortalecido para a Olimpíada do ano que vem", comentou. O gestor adiantou, ainda, que haverá um processo de revisão da preparação do time masculino. "O que posso dizer é que vamos replanejar. Mudanças vão ocorrer para evoluir com a equipe masculina. Ainda é cedo para dizer como exatamente será feito, mas há um processo de discussão para termos neste ano um trabalho intenso e próximo dos atletas". 

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Formato em equipe permite a união do time de uma forma que nem sempre é possível nas disputas individuais. Foto: Roberto Castro/ rededoesporte.gov.br

CAMINHO DO BRONZE

Brasil 4 x 3 Alemanha

No primeiro confronto, o Brasil conseguiu uma virada heroica. A equipe nacional chegou a estar perdendo por 3 x 0 para a Alemanha, após as derrotas de Maria Portela, Rafael Macedo e Maria Suelen, mas a equipe conseguiu a virada com direito a uma dose de sorte.

Primeiro, o pesado Rafael Silva superou Johannes Frey e fez o primeiro ponto brasileiro. Na sequência, a campeã olímpica, mundial e medalhista de bronze em Tóquio, Rafaela Silva, superou Theresa Stoll. Na sequência, Eduardo Barbosa nem precisou de muito tempo para vencer Anthony Zingg na categoria -73kg. O alemão adotou um golpe proibido e foi eliminado.

Pelo regulamento do torneio, quando há um empate em 3 x 3 há um sorteio de uma das seis categorias para a repetição da luta, com o detalhe de que o combate começa no Golden Score. A categoria sorteada foi exatamente a -73kg. Como a desqualificação do alemão valia para todo o confronto, não houve luta. O Brasil foi beneficiado e venceu por 4 x 3.

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Foto: Roberto Castro/ rededoesporte.gov.br

Brasil 4 x 1 Azerbaijão (Quartas de final)

No segundo confronto, a equipe nacional teve uma performance quase perfeita diante do time do Azerbaijão, que havia eliminado Portugal por 4 x 3 na estreia. Eduardo Yudy abriu o caminho na categoria -90kg com um ippon sobre Mammadali Mehdiyev.

Na sequência, uma repetição das quartas de final da chave individual dos pesados. Maria Suelen reencontrou Iryna Kindzerska. Assim como no sábado, a brasileira conseguiu dominar a adversária de envergadura bem maior e conquistar o ippon.

Ainda numa fase de recuperação de uma lesão no pulso esquerdo, Rafael Silva, que foi o quinto colocado na chave dos pesados, acabou superado nas punições por Ushangi Kokauri. Foi o único tropeço nacional. Os dois pontos seguintes vieram em ippons. Primeiro, Rafaela Silva superou Gultaj Mammadaliyeva. Depois, Eduardo Barbosa conseguiu um golpe perfeito diante de Nijat Shikhalizada.

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Rafaela Silva foi um dos destaques da equipe brasileira em Tóquio. Foto: Roberto Castro/ rededoesporte.gov.br

Brasil 0 x 4 Japão (Semifinal)

Na semifinal, deu a lógica. Com 15 medalhas conquistadas na disputa individual e o complemento de atletas preservados só para a competição por equipes, o Japão venceu o Brasil por 4 x 0. A pesada Maria Suelen foi derrotada por Shori Hamada, vice-campeã mundial da categoria -78kg, por imobilização. Número 3 do mundo, David Moura perdeu por ippon para Kokoro Kageura, 14º na listagem.

Numa repetição da semifinal individual da categoria -57kg, o clássico entre a campeã olímpica Rafaela Silva e a campeã mundial de 2018, Tsukasa Yoshida, novamente pendeu para a japonesa. Rafaela foi intensamente agressiva e procurou brechas o tempo inteiro, mas acabou surpreendida com uma imobilização no solo no Golden Score pela medalhista de prata no Mundial de 2019. Na sequência, o número dois do mundo, Soichi Hashimoto, aplicou um waza-ari e um ippon em Eduardo Barbosa na disputa entre os atletas da categoria -73kg.

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Foto: Roberto Castro/ rededoesporte.gov.br

Brasil 4 x 2 Mongólia (decisão do bronze)

Quinto colocado no Mundial de Tóquio e com dois bronzes olímpicos no currículo, Rafael Silva venceu Duurenbayar Ulziibayar, da Mongólia, por ippon no Golden Score e abriu o placar para o Brasil. Logo em seguida, Rafaela Silva usou toda a experiência de campeã olímpica e mundial para fazer uma luta estudada. Deixou a adversária, Enkh-Otgon Losol, com uma punição a mais e passou a "cozinhar" a luta. As duas foram recebendo punições por falta de combatividade e, no fim, Rafaela levou a melhor. O Brasil abriu 2 x 0. O terceiro combate foi na categoria -73kg. Eduardo Barbosa sofreu uma invertida num golpe que tentou aplicar e levou um ippon de Tsogtbaatar Tsend-Ochir: 2 x 1.

"A gente passou a primeira rodada com muito sufoco, mas precisávamos dessa medalha. Nosso time é muito forte. A gente tem condições de brigar sempre com os grandes"
Maria Portela

Quinta do ranking mundial na categoria -70kg, Maria Portela foi a quarta atleta a entrar no tatame da Nippon Budokan para a disputa do bronze. Diante de Gankhaich Bold, ela tomou a iniciativa, anulou gola e manga da adversária e conseguiu um golpe perfeito para selar a vantagem brasileira em 3 x 1. 

Faltava uma vitória. Rafael Macedo até tentou resolver logo a questão, mas, diante de Altanbagana Gantulga, acabou imobilizado e o placar foi para 3 x 2. Coube, então, a Maria Suelen definir o resultado. A brasileira, que terminou em quinto nas duas últimas edições do Mundial e tem no currículo duas pratas na competição, teve pela frente Munkhtsetseg Otgon. Sem dar chances para a adversária, Suelen encaixou um waza-ari seguido de uma imobilização que definiram a luta e a medalha para o Brasil.   

"Confesso que fiquei aliviada. A gente passou a primeira rodada com muito sufoco, mas nós precisávamos dessa medalha. Nosso time é muito forte. A gente tem condições de brigar sempre com os grandes. Demorou um pouquinho para a gente entrar na competição, mas foi dando tudo certo e a gente conseguiu chegar no pódio, o que a gente não tinha conseguido ano passado. Tem de continuar trabalhando para que a gente consiga não só chegar na equipe, mas no individual também", afirmou Portela, quinta do mundo, que perdeu na terceira rodada na categoria -70kg

Sorriso de Maria Suelen ao finalizar a mongol Munkhtsetseg Otgon e decretar o bronze da equipe brasileira. Foto: Roberto Castro/ rededoesporte.gov.br

Investimentos federais

Evento-teste para os Jogos Olímpicos de 2020, o Campeonato Mundial de Judô reuniu 839 atletas, de 148 países, em sete categorias de peso no masculino e sete no feminino. Na chave individual, o Brasil teve 18 atletas inscritos. Dezessete deles são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento anual do governo federal no grupo é de R$ 1,67 milhão.

Além disso, 12 dos 18 atletas estão incluídos na Bolsa Pódio, a categoria mais alta do programa, voltada para esportistas que se consolidam entre os 20 melhores do mundo. Eles recebem repasses mensais que variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. Numa outra frente de investimentos federais, 11 dos 18 atletas integram o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR).

Infográfico - Mundial de Judô 2019

Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br