Judô
Mundial de Judô 2019
Tri de bronze deixa Mayra Aguiar com gosto de 'quero mais' no Mundial de Judô
Uma trilha contada em cinco ippons. A história de Mayra Aguiar no Campeonato Mundial de Tóquio, no Japão, não teve meio termo. Não houve Golden Score. Não houve luta definida em punições. Não houve espaço para contestação. Bicampeã mundial e líder do ranking da categoria -78kg, a gaúcha de 28 anos saiu do tatame da Nippon Budokan premiada, mas com um sorriso contido. Dos cinco ippons registrados, quatro foram a favor dela. Um, na semifinal, pendeu para o lado da francesa Madeleine Malonga, de 25 anos, que terminaria o dia como campeã mundial ao superar na decisão a japonesa e então detentora do título, Shori Hamada.
"Qualquer competição, independentemente do resultado, eu saio fortalecida. A gente aprende muito com tudo. Acho que mais ainda quando a gente sente essa dor de derrota. Eu estava muito preparada. Estava me sentindo bem no dia. Infelizmente é esporte. Acontece. Errei, entrei num golpe na hora errada. Poderia ter continuado em pé e tomei a reversão", afirmou Mayra Aguiar.
"Qualquer competição, independentemente do resultado, eu saio fortalecida. A gente aprende muito com tudo. Acho que mais ainda quando a gente sente essa dor de derrota. Eu estava muito preparada. Estava me sentindo bem no dia. Infelizmente é esporte. Acontece. Errei, entrei num golpe na hora errada"
Mayra Aguiar
Depois de ver se esvair a chance de chegar ao tricampeonato mundial, a brasileira voltou para a disputa do bronze com a mesma disposição dos combates anteriores, e superou a portuguesa Patricia Sampaio com uma projeção em 1min17s de luta. "Ainda estou remoendo, mas daqui a pouco sei que vou ficar feliz. Uma medalha em Mundial é muito importante. Não foi a cor que eu queria, mas isso me dá energia para outras competições", completou a brasileira, que deu um longo abraço na adversária após o fim da luta.
"Ela é uma fofa. A gente treina bastante junto. É de Portugal. A comunicação é fácil. Temos muita troca. Ela já me falou que se inspirava em mim. Tenho carinho por ela. Fez uma baita competição. Eu disse a ela que ela estava de parabéns. Judô é um esporte individual, mas é muito coletivo. Você precisa de pessoas para crescer. Cada adversário não é inimigo. É um colega que te fortalece", disse a brasileira. O outro bronze na categoria -78kg ficou com Loriana Kuka, de Kosovo.
O resultado na capital japonesa consolida Mayra Aguiar como uma das grandes do judô internacional. Ela soma seis pódios em mundiais, com dois ouros, uma prata e, agora, três bronzes. Tornou-se a brasileira mais premiada na competição. Superou Erika Miranda, que tinha cinco. Mayra conta, ainda, com dois bronzes em Jogos Olímpicos, conquistados nas edições de 2012, em Londres, e 2016, no Rio de Janeiro. Mesmo com essa bagagem, ela não nega que quer mais, em especial nos Jogos Olímpicos de 2020.
"Ainda tem muito a percorrer. Bastante competição no caminho. Este ano mesmo tem um Grand Slam em Brasília. Poder lutar no Brasil é gostoso, ao lado da família e dos amigos. Temos uma torcida calorosa. Ano que vem pretendo fazer mais umas três ou quatro competições para garantir a vaga olímpica, mas claro que o coração e a cabeça estão sempre nas Olimpíadas, ainda mais aqui, na casa do judô", adiantou.
O caminho de Mayra
Yahima Ramirez (Portugal)
A brasileira precisou de 26 segundos, na luta de estreia, para superar com um ippon a portuguesa Yahima Ramirez, de 38 anos. A adversária ocupa a 29ª posição no ranking mundial e tinha como melhores resultados em 2019 chegar às quartas de final em três etapas do Grand Prix, em Antalya (Turquia), Marrakech (Marrocos) e Tel Aviv (Israel).
Sarah-Myriam Mazouz (Gabão)
A segunda luta foi diante de Sarah-Myriam Mazouz. A atleta do Gabão, de 32 anos, ocupa a 45ª posição no ranking mundial, e chegava a Tóquio com o status de campeã dos Jogos Africanos de 2019 e pódios no Campeonato Africano e no Aberto do Chile. Mayra não tomou conhecimento. Precisou de apenas 17 segundos para desequilibrar a adversária e aplicar mais um golpe perfeito para encerrar o confronto.
Loriana Kuka (Kosovo)
O terceiro duelo foi mais tenso. Mayra enfrentou Loriana Kuka, de Kosovo. A jovem de 22 anos é a 13ª do ranking. Na temporada, subiu ao pódio três vezes em competições importantes. Foi ouro na etapa do Grand Prix de Tbilisi, na Geórgia, prata em Marrakech, no Marrocos, e bronze nos Jogos Europeus de Minsk. Ainda que Mayra tentasse comandar as ações, a luta se arrastou sem golpes durante quase todo o tempo regular, mas a brasileira tomou duas punições ao longo do combate, contra uma da adversária. Sem margem para errar, Mayra encaixou um golpe perfeito 22 segundos antes de o cronômetro zerar.
Semifinal - Madeleine Malonga
Quando entraram no tatame para a disputa de uma vaga na decisão do Mundial de Tóquio, Mayra Aguiar e Madeleine Malonga tinham no passado uma vitória para cada lado em competições internacionais. Com uma envergadura mais alta que a de Mayra, a francesa impôs dificuldades à brasileira na pegada. Ainda assim, Mayra era a responsável pelas ações, pela condução da luta. Com 2min42s de combate, contudo, Mayra achou que tinha espaço para uma entrada. Malonga antecipou a ação da brasileira, reverteu o golpe e jogou Mayra no tatame com um ippon que definiu a luta. Malonga terminaria com o ouro, o terceiro conquistado pela França em Tóquio.
Decisão do bronze - Patricia Sampaio
Com apenas 20 anos, Patricia Sampaio é uma jovem atleta que fez uma competição muito consistente. No histórico anterior entre as duas, havia lutado duas vezes contra Mayra, e perdera as duas disputas por ippon. Na Nippon Budokan não foi diferente. Mayra não deu qualquer brecha para a oponente. Provocou rapidamente uma punição e, com 1min17s, achou a posição para encaixar o golpe que definiria a terceira medalha de bronze de Mayra na história dos mundiais.
Buzacarini para nas oitavas
Outros dois brasileiros disputaram a chave entre os meio-pesados nesta sexta-feira, em Tóquio, ambos estreantes na competição. Leonardo Gonçalves fez um bom combate, mas acabou surpreendido com um ippon na primeira luta, diante de Zelym Kotsoiev, do Azerbaijão.
Rafael Buzacarini avançou mais na chave. Ele passou por Ivan Remarenco, dos Emirados Árabes, ao fazer o adversário sofrer três punições, e superou Karl-Richard Frey, da Alemanha, com uma vitória por ippon, aos 2min23s do Golden Score.
Na sequência, contudo, o brasileiro de 27 anos, 25º do ranking mundial, teve pela frente um páreo duro. Enfrentou Elmar Gasimov, do Azerbaijão, medalhista de prata nos Jogos Olímpicos Rio 2016.
Os dois já haviam se enfrentado três vezes, e a vantagem era do brasileiro, com duas vitórias e uma derrota no currículo. Em Tóquio, contudo, Gasimov travou o jogo do brasileiro e encaixou um ippon com 1min35s de luta.
Investimentos federais
Evento-teste para os Jogos Olímpicos, o Campeonato Mundial de Judô reúne 839 atletas, de 148 países, em sete categorias de peso no masculino e sete no feminino. Até 31 de agosto, a disputa é nas categorias individuais. No dia 1 de setembro será a vez da competição por equipes mistas, formato que será adotado pela primeira vez no programa de Tóquio em 2020. Pelo sorteio da chave, o time brasileiro vai estrear contra a seleção alemã. Se vencer, terá pela frente o vencedor do confronto entre Portugal e Azerbaijão.
Na chave individual, o Brasil tem 18 atletas inscritos. Dezessete deles são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento anual do governo federal no grupo é de R$ 1,67 milhão.
Além disso, 12 dos 18 atletas estão incluídos na Bolsa Pódio, a categoria mais alta do programa, voltada para esportistas que se consolidam entre os 20 melhores do mundo. Eles recebem repasses mensais que variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. Numa outra frente de investimentos federais, 11 dos 18 atletas integram o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR).
Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br