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Judô

29/08/2019 05h28

Mundial de Judô 2019

Brasileiros se despedem na terceira rodada, mas 'brasileira de Portugal' fica com a prata

Maria Portela e Rafael Macedo não conseguiram avançar para o bloco dos finalistas. Surpresa do dia foi Barbara Timo, atleta carioca que passou a competir por Portugal e ficou em segundo

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A participação "convencional" do Brasil no quinto dia do Campeonato Mundial de Judô terminou de forma abreviada. Os dois representantes nacionais entre os médios não conseguiram avançar para a fase final nas chaves da competição. Maria Portela e Rafael Macedo se despediram do campeonato na terceira rodada. Uma outra brasileira, contudo, subiu ao pódio nesta quinta-feira (29.08). Barbara Timo fazia parte da seleção brasileira até o ciclo para os Jogos Rio 2016. Era a segunda colocada na disputa com Maria Portela pela vaga olímpica. Acabou fora dos Jogos no Brasil e resolveu tentar a sorte em Portugal para realizar o sonho de disputar os Jogos de 2020, em Tóquio. E a opção parece estar na trilha certa.

Brasileira que passou a lutar por Portugal, Barbara Timo celebra no pódio a prata conquistada na categoria -70kg. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

A atleta carioca de 28 anos fez história na Nippon Budokan. Na estreia, passou pela mongol Enkhchimeg Tserendulam com um waza-ari seguido de ippon. Na sequência, venceu a belga Roxane Taeymans por ippon. Na terceira rodada, fez a maior "desfeita" do dia com o país anfitrião. Derrotou a atual bicampeã mundial e líder do ranking, a japonesa Chizuri Arai, com um waza-ari conquistado com um minuto de luta e que ela soube manter como vantagem até o cronômetro zerar. 

Com a confiança em alta após o resultado diante de Arai, Barbara venceu a Chave A da competição ao derrotar a holandesa Sanne Van Djike, nona do mundo, numa luta travada, decidida com três punições para a adversária contra duas de Barbara. Na semifinal, bateu com um ippon a francesa Margaux Pinot, que eliminara na terceira rodada a brasileira Maria Portela. A luso-brasileira só caiu na decisão, diante da francesa Marie Eve Gahie, que tinha sido vice-campeã mundial em 2018 e agora subiu mais um degrau. A luta foi decidida aos 45 segundos de cronômetro por ippon por imobilização. 

Em 2016 fiquei fora. Não quero essa sensação de novo. Quero ser a número 1. Quero ser campeã olímpica. É um sonho que virou meta, um objetivo mais do que realizável"
Barbara Timo

"É minha primeira grande medalha. A que fica para a história. Estou muito feliz porque nem sabia se ia conseguir vir para cá. Há 15 dias tive uma lesão na costela. Minha equipe sabe o quanto foi difícil a recuperação. Não sabia nem se conseguiria embarcar. Agradeço a todos os fisioterapeutas que me ajudaram. No mesmo dia descobri também uma fissura no cotovelo. Foram os 15 dias mais tenebrosos para mim", comentou Barbara Timo.

"Eu sabia que tinha condições, mas não sabia se poderia lutar e fazer o que amo. Agradeço a todos os que confiaram em mim. A Portugal por ter me aceitado. Eu quero muito mais. Em 2016 fiquei fora da Olimpíada. Não quero essa sensação de novo. Quero ser a número 1. Quero ser campeã olímpica. É um sonho que virou uma meta, um objetivo mais do que realizável", completou. 

Portela foi eliminada em decisão controversa da arbitragem. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br
"Acho que consegui me entregar. Dei o melhor ali em cima, mas existem fatores externos que a gente não controla, como árbitro, adversária, punições"
Maria Portela

Frustração de Portela

Os brasileiros da delegação oficial tiveram um dia breve. A experiente Maria Portela, de 31 anos, estreou na segunda rodada e passou pelo primeiro combate, contra a croata Barbata Matic, 19ª do ranking. Portela venceu por ippon, com imobilização. 

Na sequência, na terceira rodada, a atleta gaúcha encarou uma adversária complicada. Margaux Pinot é a 11ª do mundo e venceu os Jogos Europeus de Minsk este ano. As duas foram para o Golden Score e Portela tinha duas punições contra uma da francesa. Tendo de buscar a iniciativa para não sofrer uma terceira punição que a desclassificaria, Portela acabou surpreendida com um golpe controverso, que só foi confirmado pela arbitragem na checagem de vídeo.

Quinta colocada no ranking mundial, a brasileira coleciona pódios em etapas do Grand Prix e do Grand Slam, mas nunca conseguiu a meta de chegar a um pódio de Mundial. Para mudar a sina em 2019, abriu mão dos Jogos Pan-Americanos e focou numa preparação que conjugou face técnica, física e um investimento na parte mental.

"Acho que consegui me entregar. Dei o melhor ali em cima, mas existem fatores externos que a gente não controla, como árbitro, adversária, punições. A croata é uma adversária bastante dura e passei tranquila por ser a primeira luta. A Pinot tem um jogo parecido com o meu. Tentei buscar iniciativa para sair vencedora. Não vi replay, talvez tenha caído mesmo. Obviamente não estou feliz. Sabia que podia andar. Tenho totais condições, mas enfim. É mais um aprendizado que fica. Mais um degrau. Tem outros ainda. O principal objetivo é a Olimpíada", disse Portela.

Queda de Rafael a 30 segundos do fim da luta determinou o waza-ari ao inglês. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

Resignação de Rafael

Rafael Macedo teve uma história semelhante à de Maria Portela na competição. O brasileiro estreou contra o chinês Hebilige Bu, já na segunda rodada da categoria -90kg, e fez uma luta consistente. Macedo evitou qualquer ação do adversário, conseguiu um golpe computado como waza-ari e na sequência administrou o resultado.

"Eu conhecia o adversário de treinos, mas foi uma luta difícil para os dois. A gente não conseguia se ajustar. O lance do waza-ari foi duvidoso, mas respeito a decisão dos árbitros. Agora é treinar mais"
Rafael Macedo

Na terceira rodada, contudo, o brasileiro foi surpreendido pelo britânico Max Stewart, 49º do ranking mundial. O atleta de 26 anos conseguiu um waza-ari no meio de luta que definiu o combate. Os dois nunca haviam lutado, mas Rafael já o conhecia de treinamentos de campo em conjunto.

"O Mundial tem sempre um negócio a mais. As pessoas treinam mais, se estudam mais. É uma competição em altíssimo nível. A minha última luta, claro, não teve o resultado que eu gostaria. Eu conhecia o adversário de treinos, mas foi uma luta difícil para os dois. A gente não conseguia se ajustar. De qualquer forma, o lance do waza-ari foi duvidoso, mas respeito a decisão dos árbitros. Agora é treinar mais. Tem outras competições do circuito até a Olimpíada", afirmou o atleta.

Mundial Judô Tóquio 2019

Investimentos federais

"Cada detalhe soma. Até na questão de alimentação. Quem faz dieta regrada sabe que é complicado. Os ingredientes são caros. A Bolsa nos dá sustentação para fazer tudo da melhor forma possível"
Maria Portela

Evento-teste para os Jogos Olímpicos de 2020, o Campeonato Mundial de Judô reúne 839 atletas, de 148 países, em sete categorias de peso no masculino e sete no feminino. Até 31 de agosto, a disputa é nas categorias individuais. No dia 1 de setembro, será a vez da competição por equipes mistas, formato que será adotado pela primeira vez no programa olímpico nos Jogos do Japão. Pelo sorteio da chave, o time brasileiro vai estrear contra a seleção alemã. Se vencer, terá pela frente o vencedor do confronto entre Portugal e Azerbaijão.

Na chave individual, o Brasil tem 18 atletas inscritos. Dezessete deles são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento anual do governo federal no grupo é de R$ 1,67 milhão.

Além disso, 12 dos 18 atletas, entre eles Portela e Macedo, estão incluídos na Bolsa Pódio, a categoria mais alta do programa, voltada para esportistas que se consolidam entre os 20 melhores do mundo. Eles recebem repasses mensais que variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. Numa outra frente de investimentos federais, 11 dos 18 atletas integram o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR).

"Faço parte da Bolsa Pódio. Ela é fundamental para um atleta de alto rendimento. A gente não tem muitos incentivos privados. A Bolsa nos ajuda em suplementação diária em várias frentes. Se eu precisar pagar um psicólogo por fora, pago. Se preciso de uma competição a mais para ganhar pontos no ranking olímpico, invisto nisso. Cada detalhe soma. Até na questão de alimentação. Quem faz dieta regrada sabe que é complicado. Os ingredientes são caros. A Bolsa nos dá sustentação para fazer tudo da melhor forma possível", afirma Maria Portela.

Infográfico - Mundial de Judô 2019

Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br