Badminton
Entrevista
Marco Vasconcelos: o português que redescobriu o badminton brasileiro
Os Jogos Olímpicos Rio 2016 são um marco na história do badminton de alto rendimento do Brasil. Ygor Coelho e Lohaynny Vicente foram os primeiros brasileiros a defenderem o Time Brasil em um evento olímpico. Durante o período de preparação, os atletas contaram com o auxílio do técnico português Marco Paulo Pereira Vasconcelos. Ele foi contratado em 2012 para lapidar a equipe. Em cerca de sete anos, o treinador presenciou a evolução e a consolidação da modalidade.
Quando chegou ao Brasil, Vasconcelos encontrou a Seleção com a média de idade de 27 anos. Para o ciclo de Tóquio 2020, o desafio foi focar na renovação. Atualmente, a média de jogadores baixou para 20 anos. "Estou convicto de que esse é o grupo ideal para trabalhar até os Jogos de Paris 2024, mas deixando em aberto para novos atletas que podem surgir no meio do caminho", analisou o técnico.
"A evolução da equipe tem sido boa. Desde 2012 que a gente vem colhendo resultados de excelência, mas ainda podemos melhorar muito os nossos atletas"
Marco Vasconcelos, técnico da seleção brasileira de badminton
Durante o período em que atuou no país, o treinador acompanhou a consolidação da modalidade. No plano da infraestrutura, o principal avanço foi a construção do Centro de Excelência de Badminton, dentro da Universidade Federal do Piauí (UFPI), em Teresina. Lá, o Governo Federal investiu R$ 4,9 milhões na instalação esportiva. São seis quadras nas dimensões oficiais, arquibancada para 500 pessoas, academia, departamento médico, alojamento, refeitório, cabines para imprensa e espaço administrativo.
A climatização, importante para receber eventos internacionais e para amenizar o calor numa capital como Teresina, foi viabilizada por um Termo de Execução Descentralizada (TED) entre o então Ministério do Esporte e a Universidade Federal do Piauí, no valor de R$ 1,125 milhão. A implementação completa do sistema de ar-condicionado está em fase de instalação, com previsão de conclusão em cinco meses.
Na face esportiva, o treinador celebrou a primeira medalha olímpica do país no esporte, conquistada por Jaqueline Lima durante os Jogos da Juventude de Buenos Aires 2018. Viu, ainda, a seleção se mostrar hegemônica no continente nos Jogos Sul-Americanos de Cochabamba, na Bolívia, em 2018. Na ocasião, o Brasil teve representantes nas seis finais possíveis (uma delas, a individual masculina, disputada entre dois brasileiros) e voltou para casa com quatro ouros e três pratas.
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Por meio de Vasconcelos, o badminton brasileiro conta ainda com o auxílio de dois dos principais técnicos europeus: o sueco Asger Madsen e o dinamarquês Kenneth Larsen trocam informações com o treinador e mantêm o português informado sobre as principais práticas da modalidade no velho continente.
A meta do badminton brasileiro é classificar o maior número de atletas para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos de Tóquio 2020. Essa temporada será importante na busca pela vaga. Os Jogos Pan-Americanos de Lima, no Peru, entre 26 de julho e 11 de agosto, serão o principal desafio. Antes, os jogadores encaram dois torneios Pan-Americanos da modalidade: por equipe e individual. As competições servirão de preparação e para ter um termômetro dos adversários diretos do Pan em Lima.
A partir da próxima quinta-feira (14.02) e até o domingo (17.02), os brasileiros encaram o Pan por equipes, em Lima, nas mesmas instalações em que os Jogos Pan-Americanos serão disputados. O torneio terá disputas de duplas, feminina e masculina, além das duplas mistas. Já no mês de abril, será disputado o Pan individual, no México.
O rededoesporte.gov.br conversou com Marco Paulo Pereira no Centro de Excelência de Badminton, no Piauí, e ouviu dele sobre metas, o trabalho de renovação e a estrutura atual do badminton brasileiro.
RenovaçãoPré-temporada 2019
Ficamos um período de um mês de treinamento no Centro de Excelência de Teresina. Tivemos as avaliações médicas e físicas na primeira semana. Depois, passamos para o trabalho dentro de quadra. A preparação está indo bem. Foram dias intensos, com seis horas diárias de treinamento dentro de quadra. Trabalhamos a parte física, técnica e tática. Já estamos preparados para os desafios da temporada. A evolução da equipe tem sido boa. Desde de 2012 a gente vem colhendo resultados de excelência. Mas ainda falta muito para melhorar os nossos atletas.
Seleção principal
O trabalho com a Seleção teve várias fases. Hoje, a equipe adulta conta com 12 atletas, três deles da equipe júnior. Começamos o no fim de 2012. O primeiro ciclo terminou em 2016. Depois do Rio de Janeiro, os atletas voltaram a treinar nos clubes. Agora, intensificamos o trabalho visando a Tóquio 2020. Espero que continue para o ciclo de 2024. Trabalhamos atualmente com uma equipe jovem. No ciclo passado (2012/2016), tínhamos uma média de idade de 27 anos. Atualmente, temos jogadores com média de 20. Assim, podemos trabalhar com dois ciclos a mais com esses atletas. Estou convicto de que esse é o grupo ideal. O meu objetivo é, sempre que possível, ter atletas juniores na equipe adulta, pensando na renovação. Esse é um diferencial em relação ao ciclo olímpico passado. Temos muitos talentos no Brasil. Se tivéssemos a capacidade financeira de acolher mais atletas, poderíamos ter 20 jogadores na equipe principal.
"As instalações em Teresina, no Piauí, são excelentes. É a melhor instalação que temos no Brasil para a prática do badminton"
Diferentes escolas
Os asiáticos estão no topo da modalidade. Porém, gosto muito do estilo europeu. Os asiáticos jogam na base da parte física e na força. Os europeus são mais técnicos. Sou assessorado por dois dos melhores técnicos mundiais da modalidade: Asger Madsen e Kenneth Larsen. Eles são bem relacionados no badminton mundial. Tenho uma grande confiança e respeito por eles. Esse contato é importante para o Brasil porque tenho acesso, por meio deles, a informações relevantes da evolução do badminton europeu.
Centro de Excelência
As instalações em Teresina são excelentes. É a melhor que temos no Brasil para a prática do badminton. O clima da cidade ajuda muito também os atletas, porque a maioria das competições importantes do Brasil ocorre em temperatura alta, na área do Caribe e das Américas. Esse espaço é muito importante. Já viajei por todo o Brasil e vi a carência de infraestrutura esportiva para a prática do badminton aqui no Nordeste e no Norte. Além disso, quase todas as estruturas são adaptações, com áreas abertas, com entrada de vento, o que prejudica muito a prática da modalidade. Aqui na universidade temos seis quadras à nossa disposição, além de alojamento, academia e tudo para melhor atender aos atletas.
O badminton brasileiro necessitava de uma estrutura para ser a casa da modalidade, para poder trabalhar na hora que a gente quiser, tanto em termos de quadras quanto de preparação física. Hoje é um prêmio para o badminton ter essa estrutura. É importante não só para a seleção, mas para a realização de campeonatos internacionais e para a promoção de clínicas para treinadores e para atletas.
Paralímpicos
A novidade no ciclo de Tóquio 2020 é a inclusão do parabadminton. A seleção paralímpica necessita de treino específico, por conta das limitações físicas de cada atleta. Entretanto, vamos a fazer um trabalho com um grupo só. Eles vieram para trabalhar com a seleção adulta para treinar comigo a parte técnica e tática. Temos três atletas que irão buscar vaga para Tóquio 2020. Estamos confiantes na participação deles nos Jogos.
Galeria de fotos (imagens disponíveis em alta resolução)
Breno Barros, de Teresina (PI) - rededoesporte.gov.br