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Taekwondo

06/02/2019 15h53

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Débora Menezes conquista ouro inédito no Mundial de taekwondo paralímpico

Paulista venceu as quatro lutas que disputou em Antalya, na Turquia, três delas contra atletas do Top 5 mundial. Modalidade estreia no programa paralímpico na edição de Tóquio, em 2020

"Se lutei? Lutei demais, com muita garra e foco". Assim, com objetividade e orgulho do próprio feito, a paulista Débora Menezes descreveu a conquista que obteve nesta quarta feira (06.02), em Antalya, na Turquia. A brasileira de 28 anos venceu as quatro lutas que disputou na Classe K44 no Campeonato Mundial. Três dos combates contra rivais do Top 5 mundial. Como resultado, conquistou um inédito ouro para o Brasil na modalidade, que estreia em Jogos Paralímpicos na edição de 2020, em Tóquio.

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Débora com a medalha na categoria +58kg: ouro inédito para o Brasil. Foto: Arquivo pessoal
"Se lutei? Lutei demais, com muita garra e foco"
Débora Menezes, campeã mundial

No caminho para o título, Débora foi consistente diante de rivais de currículo expressivo. Na estreia, nas oitavas de final, superou Palesha Goverdhan, do Nepal, por um placar apertado: 15 x 13. Na sequência, derrotou a marroquina Rajae Akermach, segunda colocada no ranking mundial, por 5 x 3. Na semifinal, outra adversária com histórico destacado: a francesa Laura Schiel é a terceira do ranking internacional, e Débora venceu com autoridade, por 16 x 5. Na final, mediu forças com Guljonoy Naimova, do Uzbequistão, quarta no ranking mundial. A vitória do título foi com um placar de 7 x 3.

Nos Jogos Paralímpicos do Japão, serão 12 classificadas na categoria +58kg, a mais pesada. "Tanto no masculino quanto no feminino são três categorias. Acaba que nessa minha existem discrepâncias. Tem gente com mais de 100kg e dois metros de altura. Eu tenho cerca de 75kg e 1,60m. Faz diferença", explicou Débora, que buscou nos treinos formas de driblar essa adversidade.

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Resultado na Turquia somou pontos preciosos no ranking paralímpico. Foto: Arquivo pessoal

"Quanto mais leve o atleta, maior a facilidade de se movimentar no tatame. Os mais pesados demoram para levantar a perna, e 90% do taekwondo é chute", disse. Na versão paralímpica do esporte, a pontuação só vale com chutes no tronco.

Em dezembro, em entrevista ao rededoesporte.gov.br, Débora já indicava que a sua prioridade seria abrir 2019 com uma performance de qualidade na Turquia. "Nem terei recesso. Seguirei direto nos treinamentos. O Mundial vale muitos pontos no ranking para Tóquio. Estou atualmente na oitava colocação. Tenho como meta chegar em sexto ou quinto no meio do ano", afirmou à época, no dia em que recebeu o prêmio de melhor atleta do taekwondo paralímpico na temporada 2018.

Além do Mundial, o calendário de 2019 também reserva atenção especial para os Jogos Parapan-Americanos de Lima, no Peru, no segundo semestre, e etapas do circuito mundial. "O Parapan é bem favorável. Vale 40 pontos no ranking. E não existem muitas atletas fortes na minha categoria aqui no continente", avaliou.

Aceitação de longo prazo

Caçula de uma família com outros três irmãos, Débora nasceu sem a mão e o antebraço direito, resultado de má formação congênita. Ela atua na Classe K44, para atletas com deficiência em pelo menos um dos membros superiores. A diferença física foi um desafio de longo prazo em sua história.

"Para ser sincera, eu não sabia muito como agir com a minha deficiência. Meus pais também não, mas me colocavam sempre para frente. Repetiam que a vida não podia parar. Isso foi importante, principalmente quando eu não quis mais ir à escola, na primeira série. Porque criança fala mesmo: vê o diferente e aponta".

Na época, a mãe dela, Maria Barbosa Menezes, tomou uma decisão. "Ela falou: 'Você vai e vou com você'. Ela passou um ano indo à escola comigo para me proteger. Essa firmeza foi importante para me transformar em quem sou", contou Débora.

Débora com o prêmio de melhor do taekwondo em 2018: forte candidata a repetir a dose. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

Esporte como diferencial

Além da presença materna, o esporte foi outro componente estratégico na receita que moldou o caráter da atleta. "Foi transformador. Quebrou tabus e preconceitos. Inclusive o meu preconceito, de me aceitar como sou. Até os 18 anos eu não conseguia me olhar no espelho", contou Débora, que se tornou a primeira filha de Maria Barbosa a concluir uma faculdade, a de educação física.

"O esporte foi um divisor de águas na minha vida. Foi transformador. Quebrou tabus e preconceitos. Inclusive o meu preconceito, de me aceitar como sou"
Débora Menezes

Antes de adotar o taekwondo, a atleta competiu em alto rendimento em várias modalidades. Primeiro, dedicou-se por 12 anos ao futsal, em clubes como São Paulo e São Caetano. Experimentou o lançamento de dardo no atletismo e bateu o recorde brasileiro. Encarou também o vôlei sentado e, há quatro anos, conheceu o taekwondo. Em 2015, recebeu um convite para se dedicar de forma mais profissional.

A adaptabilidade, aliás, foi expressão frequente na trajetória da atleta. Naturalmente destra, ela teve de se ajustar para usar a mão esquerda para quase tudo. "Sempre fui destra. Assim, precisei aprender na marra a ser "canhota" na mão. Mas, embora tenha trabalhado com as duas pernas no futebol, o direito é o lado natural. No taekwondo a minha base é de destra. Tudo é adaptação de acordo com a nossa realidade".

Bolsa Pódio

Em 2018, Débora passou a fazer parte da categoria Pódio, a mais alta do programa Bolsa Atleta, da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Com isso, ganhou a chance de se dedicar integralmente ao taekwondo.

"Antes eu me dividia entre o trabalho com educação física escolar e os treinos. De manhã, trabalhava. À tarde e à noite, treinava. Hoje, estou 100% dedicada ao esporte. Tenho uma equipe multidisciplinar fantástica. Posso dormir melhor e ter a recuperação adequada", comparou. "Veio no momento certo. Tóquio está aí. É uma aposta para chegar bem afiada lá", projetou.

Bronze de Cristhiane

Ao todo, o Mundial durou dois dias. O Brasil conquistou, além do ouro de Débora, o bronze com Cristhiane Neves na categoria -58kg. O Brasil foi representado por seis atletas. Os demais foram Alexandre dos Santos, Bruno Motta, Fabrício Marques e Nathan Torquato.

Gustavo Cunha, rededoesporte.gov.br, com informações do Comitê Paralímpico Brasileiro