Atletismo
Buenos Aires 2018
Voo de Adrian Vieira deixa atleta entre os seis melhores no salto em distância
Para quem vê da arquibancada, parece simples. O atleta bate palmas, convoca o público para incentivar, se concentra, corre e salta. O mais longe que pode. O paulista de Mogi Guaçu Adrian Henrique Vieira, por exemplo, registrou 7,44m na melhor de suas quatro tentativas no primeiro dia da modalidade nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Buenos Aires. Ficou em sexto entre os 16 atletas. O australiano Joshua Cowley foi quem voou mais distante. Conseguiu na prova sua melhor marca pessoal. Cravou 7,71m. Todos eles voltam ao Parque Olímpico para mais quatro saltos na segunda-feira (15.10). Quem tiver a maior soma levando em conta o melhor salto dos dois dias, leva o ouro.
A simplicidade acima, contudo, é só para leigos. O salto em distância é uma das provas mais complexas do atletismo. Antes de competir, por exemplo, Adrian conta exatas 114 medidas, pé ante pé, desde a barra branca que delimita o limite da área de salto. Quando termina a contagem coloca ali, ao lado, uma plaquinha de referência. É a partir dali que começa a acelerar.
"Na verdade, tudo depende. Quando você é iniciante, são 25 passadas normais, andando. Na medida em que evolui, muda. O meu já teve 102 pés. Hoje, são 114. Tem gente que usa trena para medir. O importante é ter a referência no lado da pista. A corrida precisa ter aceleração, manutenção e sprint para o salto ter qualidade. Tudo começa com o pé certo no lugar certo, envolve encaixar o quadril na faixa intermediária e a passada maior para passar pela tábua", explicou Adrian, de 17 anos, que iniciou no atletismo aos dez, na escola onde estudava. Hoje vive em Santo André e representa o Sesi-SP.
"Consegui crescer na competição e me manter bem posicionado. Agora vamos para a final tentar uma medalhinha. Não importa a cor"
Adrian Vieira
A receita de Adrian foi bem aplicada em Buenos Aires. Em seu melhor salto, ficou a um centímetro da melhor marca da carreira, de 7,45m. O bom início e a proximidade em relação aos adversários que ficaram à frente deixaram o atleta motivado. "O clima estava bom e há vários adversários fortes aqui. Há líder do ranking, segundo, terceiro. Consegui crescer na competição e me manter bem posicionado. Agora vamos para a final tentar uma medalhinha. Não importa a cor. Vou conseguir encaixar um bom salto e dá para desbancar de três a quatro rivais", avaliou o atleta.
Para transformar em ação suas palavras, Adrian precisa superar, além do australiano Joshua Cowley, os adversários que vieram na sequência: o cubano Lester Lescay, com 7,65m, o sul-africano Donavan Tito (7,59m), o japonês Koki Wada (7,46m) e o americano Malcolm Clemons (7,46m).
"O mais importante é que ele fez três saltos bons, com média boa. Isso dá confiança para vir bem no segundo estágio, buscar a melhor marca dele e um possível pódio. Certamente vai ser uma disputa boa", afirmou Alexandre Moratto, coordenador técnico da Seleção Brasileira de Atletismo na Argentina.
"O mais importante é que ele fez três saltos bons, com média boa. Isso dá confiança para vir bem no segundo estágio, buscar a melhor marca dele e um possível pódio"
Alexandre Moratto, técnico
Herdeiro de uma tradição
Antes de se fixar no atletismo, Adrian teve passagens pelo basquete, como ala-pivô, e é dono do tricampeonato sul-americano do salto em distância e de um ouro na Gymnasiade no salto triplo. Nos meses mais recentes, fixou as atenções no salto em distância com a perspectiva dos Jogos Olímpicos da Juventude de Buenos Aires.
O adolescente se considera herdeiro de uma tradição nacional nas provas de salto, que já rendeu medalhistas em mundiais e Jogos Olímpicos, casos de Adhemar Ferreira da Silva, Nelson Prudêncio, João do Pulo, Maurren Maggi. Mais recentemente, entraram na lista as pratas conquistadas no Mundial Indoor por Almir Júnior, em março, e por Mirieli Santos no Mundial Sub-20, em julho.
"O Brasil tem uma certa tradição mesmo. São vários caras que me inspiram, tanto no distância como no triplo. Quero ajudar a manter essa tradição do Brasil. A gente tem potencial, só basta ir e fazer o nosso dever como atleta. A nossa geração está vindo forte, então estou contente com isso", afirmou Adrian.
No caminho para lapidar o talento, um dos desafios que ele vem trabalhando é a parte aérea do salto, quase tão complexa quanto a fase inicial em termos de movimentos e técnicas. "Tem um termo que a gente usa muito que é 'segurar o salto', ou seja, conseguir manter uma posição quando está no ar para ganhar altura, ir longe e finalizar com o corpo para frente. É difícil. Você tem que fazer muitos abdominais para trabalhar essa resistência e conquistar uma simplicidade no movimento", explicou o atleta.
Em busca dessa simplicidade, ele treina de segunda a sexta no período alternado ao dos estudos. "Em dois dias faço trabalho de academia e, em três, faço pistas, técnica, saltos. Numa tarde a gente chega a fazer seis, dez saltos completos, mas há muitos momentos de técnicas específicas de determinados movimentos, de entrada, de fechamento, da parte intermediária", detalhou o caçula de três irmãos, e o único da casa que se envolveu de forma mais profissional com o esporte.
Velocistas
"Quero continuar nos 100m e bater aqui mesmo, na Argentina, o recorde brasileiro e sul-americano do Paulo André, de 10s30"
Lucas Rodrigues da Silva
O segundo dia de competições do atletismo trouxe, ainda, cinco baterias dos 100m rasos entre as mulheres e outras cinco entre os homens. O Brasil teve dois representantes na prova mais rápida da modalidade.
No feminino, Vitória Jardim foi a segunda colocada na terceira bateria, com 12s28. Rosemary Chukuma, da Nigéria, fez 12s03. Levando em conta as cinco parciais de qualificação, Vitória fez o nono melhor tempo. A mais rápida foi Gabriela Anahi Suarez, do Equador, com 11s97. "Eu vim preparada, estava empolgada desde ontem, quando estava assistindo, já queria correr logo. Estava ansiosa. Acho que foi bom. Não foi o meu melhor tempo, mas tem outra corrida. Estou confiante", afirmou a brasileira, quarta colocada no Mundial Sub-18. A segunda chance será na segunda-feira. A melhor média de tempos dos dois dias determinará os medalhistas.
No masculino, Lucas Rodrigues da Silva foi o mais rápido em sua bateria, a primeira das cinco disputadas, mas já saiu da pista com um olhar de desaprovação para o placar. "O tempo foi alto, 11s04. Acho que tem um pouco do frio daqui. Como sou do Rio de Janeiro, sou mais acostumado ao calor. Mas enfim. Tem outra série. Na próxima vou estar bem melhor", afirmou o atleta.
Lucas começou a treinar na Vila Olímpica da Mangueira, e passou pelo basquete e por várias provas do atletismo, incluindo os 110m com barreiras, até fazer a opção pelos 100m livre há pouco mais de um ano. E já sonha alto. "Quero continuar nos 100m le bater aqui mesmo, na Argentina, o recorde brasileiro e sul-americano do Paulo André Camilo, de 10s30. Correndo do lado dos garotos daqui, vai dar", afirmou.
Até hoje, a melhor marca de Lucas é 10s58. Se tivesse repetido ela em Buenos Aires, teria terminado o dia com o segundo tempo. Na soma das cinco séries, ficaria atrás apenas do mais rápido do dia, o sul-africano Luke Davids, que fez 10s56. Com os 11s04 da vida real, Lucas ficou em décimo segundo.
Intermediário
Outros três brasileiros tiveram participação no atletismo nesta sexta. Nos 1.500m, Lucas Pinho Leite fechou a primeira etapa da classificatória dos 1.500m masculino em terceiro lugar da bateria, com 3min56s29, e nono no geral. Lucas é natural da Chapada dos Guimarães, em Mato Grosso, e foi campeão dos Jogos Sul-Americanos da Juventude. O regulamento da competição prevê que a segunda prova para fundistas, que definirá os medalhistas, será de cross-country.
Nos 2.000m metros com obstáculos, Letícia Belo terminou na décima sexta posição, entre 18 competidoras. Ela fez 7min14s83. A mais rápida foi Fancy Cherono, do Quênia, que fechou a prova em 6min26s08. A segunda prova da modalidade será de cross-country.
A outra brasileira que competiu nesta tarde foi Rafaela Cristine de Sousa, que ficou em sétimo lugar na primeira etapa do no arremesso de peso, com a marca de 15,38m. A primeira posição parcial ficou com a com a chinesa Li Xinhui, com 18,42m, seguida pela bielorussa Yelizaveta Dort, com 17,60m, e pela sul-africana Dane Roets (17,30m).
Galeria de fotos (imagens disponíveis em alta resolução. Uso editorial gratuito)
Gustavo Cunha, de Buenos Aires, na Argentina - rededoesporte.gov.br