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Atletismo

15/11/2018 08h00

INCENTIVE SONHOS

Via Lei de Incentivo, instituição usa o esporte de alto rendimento como resgate de vida

Projeto Magic Hands, da Associação Desportiva para Deficientes (ADD), formou atletas que defenderam o Brasil nas Paralimpíadas Rio 2016 e que, hoje, treinam para Tóquio 2020

"No sábado, a gente cortou grama, deixou tudo bonitinho para o domingo. Como a chácara estava cheia, peguei o carro para tomar banho na casa de uma tia. Uns dois ou três quilômetros. No caminho, o colega que estava dirigindo capotou o carro e fiquei paraplégico".

O feriado de 7 de setembro de 2006 mudou a vida de Amauri Alves Viana. O que seria um torneio de futebol para arrecadar fundos para melhorias na propriedade do tio, em Planaltina-DF, virou um novo começo para o jovem, que jogava nas categorias de base do Gama, de Brasília.

Depois do acidente, foi o esporte que novamente mudou a vida dele, quando teve contato com o basquete em cadeira de rodas. Hoje, é um dos integrantes do projeto Magic Hands, da Associação Desportiva para Deficientes (ADD), que utiliza recursos da Lei de Incentivo ao Esporte (LIE) para financiar um time de alto rendimento da modalidade.

Atletas da equipe Magic Hands, mantida pela ADD desde 1997 via Lei de Incentivo ao Esporte. Foto: Rafael Brais/rededoesporte.gov.br
"Há 23 anos desenvolvemos esse trabalho, que é totalmente gratuito e é voltado para pessoas com deficiências física, intelectual ou visual. Estamos colhendo muitos resultados com esse projeto"
Eliane Miada, presidente e fundadora da ADD

A Magic Hands é mantida pela ADD desde 1997. A equipe é tricampeã brasileira, (2010, 2011 e 2014), bicampeã paulista e primeira no ranking brasileiro. Os atuais integrantes do time estão entre os melhores atletas do basquete em cadeira de rodas do Brasil e o treinamento da ADD visa preparar atletas para reforçar a seleção brasileira.

Nos Jogos de Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres 2012, atletas e comissão técnica do time integraram a seleção brasileira de basquetebol em cadeira de rodas. A equipe técnica especializada garante as melhores condições para o atleta desempenhar sua função. "O esporte entrou na minha vida em maio de 2007. Um amigo me chamou para jogar o basquete em cadeira de rodas. Eu fui, gostei, mas às vezes não ia treinar. Tive apoio do meu técnico, que ia me busca em casa quando eu estava depressivo", relembra Viana.

Desde então, a carreira esportiva do jogador só cresce, assim como sua confiança. "Em 2009, após disputar a primeira competição, passei a levar a sério e minha autoestima aumentou muito. Tive outra vida depois do esporte", afirma o jogador, cuja carreira chegou ao ápice quando disputou os Jogos Paralímpicos Rio 2016.

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Antes de chegar ao nível paraolímpico, porém, Viana enfrentou vários desafios em sua recuperação, desde o momento que entrou no hospital, após o acidente, até o início da reabilitação. "Fiz cirurgia de coluna, porque eu quebrei a coluna e atingiu a medula. Esperei um mês da cirurgia e fui para casa, onde fiquei por dois meses. Depois, conheci o Sarah Kubitschek", lembra, citando o hospital referência no país para reabilitação física.

Emoção no Rio 2016

Quando disputou os Jogos Rio 2016, Amauri Viana viveu um misto de sentimentos. "A gente sempre sonha, né? A Paralimpíada é o topo, ainda mais sendo no Brasil", ressalta. A emoção de falar sobre a experiência paralímpica em casa aumenta quando ele lembra os momentos em que ouvia a vibração do ginásio, ainda dentro do vestiário.

"O mundo todo vendo, você chega na quadra e está a torcida toda gritando. Dava aquela emoção de estar ali, de ter chegado longe, desde quando comecei até chegar a disputar as Paralimpíadas. É muito gratificante trabalhar duro e chegar lá".

Amauri Alves Viana. Foto: Rafael Brais/rededoesporte.gov.br
"A Lei de incentivo é perfeita para a gente, que pratica um esporte que não é muito conhecido. Sempre treinamos muito forte para estarmos entre os primeiros. A gente almeja sempre ser campeão"
Amauri Viana, atleta do basquete em cadeira de rodas

Em agosto, Viana viveu outra experiência em grandes competições quando disputou em Hamburgo, na Alemanha, o Mundial de Basquete em Cadeira de Rodas. Agora, a trilha nas quadras tem como paradas os Jogos Parapan-Americanos de Lima, em 2019, e, finalmente, os Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020.

Amauri Viana destacou a importância do projeto Magic Hands e ressaltou o papel fundamental que a Lei de Incentivo tem para sua equipe seguir no esporte. "A cadeira é cara e o projeto ajuda muito a manter o material e o nosso trabalho. A Lei de incentivo é perfeita para a gente, que pratica um esporte que não é muito conhecido", explica, descrevendo a rotina diária de treinos na quadra e na academia. "Sempre treinamos muito forte para estarmos entre os primeiros. A gente almeja sempre ser campeão".

LIE tem papel fundamental

A Associação Desportiva para Deficientes utiliza a Lei de Incentivo ao Esporte há dez anos. De acordo com Eliane Miada, presidente e fundadora da ADD, a instituição tem o objetivo de ajudar no desenvolvimento de pessoas com deficiência, sejam elas crianças, adolescentes ou atletas, usando o esporte como uma das principais ferramentas.

"Há 23 anos desenvolvemos esse trabalho, que é totalmente gratuito e é voltado para pessoas com deficiências física, intelectual ou visual. Estamos colhendo muitos resultados com esse projeto", destaca Eliane.

Para ela, os recursos da LIE são fundamentais para preparação de infraestrutura necessária para o desenvolvimento esportivo. "Se não fosse esse projeto via Lei de Incentivo ao Esporte, muitos desses jovens iam perder a oportunidade de estar dentro de um projeto para se desenvolverem por meio do esporte", ressalta.

Fotos: Rafael Brais/rededoesporte.gov.br
"Se não fosse esse projeto via Lei de Incentivo ao Esporte, muitos desses jovens iam perder a oportunidade de estar dentro de um projeto para se desenvolverem por meio do esporte"
Eliane Miada

Realização de sonhos

Para Eliana, a Lei de Incentivo ao Esporte permite que as pessoas que participam dos projetos realizem seus sonhos e, posteriormente, consigam levar o esporte como profissão.

"Uma pessoa em casa, com deficiência, que vê pela televisão e é chamada para um projeto, entra aqui e coloca todos os seus sonhos e emoções", diz. "São sonhos que muitos atletas têm: de chegar a uma equipe de alto rendimento e conseguir se dedicar plenamente para isso", prossegue, ao destacar que muitos atletas do projeto estão sendo preparados para os Jogos Paralímpicos Tóquio 2020.

Lei de Incentivo ao Esporte

Tramita no Congresso Nacional uma proposta que altera a Lei de Incentivo ao Esporte, que prevê que o teto de investimento de pessoas jurídicas passe de 1% para 3% e o de pessoas físicas de 6% para 9%. Desde o início de sua vigência, a LIE já destinou R$ 2 bilhões para projetos esportivos. Em 2017, R$ 241 milhões foram captados pela Lei e mais de 1,5 milhão de pessoas foram beneficiadas diretamente.

Para Eliana Miada, a aprovação do projeto é importante para alcançar um potencial ainda maior pela Lei de Incentivo. "Vai aumentar muito o volume de investimento das empresas e, com isso, a qualidade e quantidade de projetos incentivados", diz. "Porque, muitas vezes, como instituição, temos que optar por projetos, porque não conseguimos recursos para dois ou três projetos no ano. Então, com esse aumento, teremos mais chance para que esses projetos sejam atendidos", concluiu.

Rafael Brais - rededoesporte.gov.br