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Geral

10/05/2016 23h37

Tour da Tocha

Vesperata enche de som e emociona na passagem da tocha por Diamantina

Cidade dividiu a beleza dos seus casarões seculares e ruelas de pedra com o símbolo dos Jogos Rio 2016

 

Sinuosa, a ladeira de calçamento de pedra serpenteia, até virar um beco estreito e, por fim, desemboca em uma pracinha. Por onde a vista alcança, as igrejas exibem seus campanários e, quando a noite cai, o casario de portas e janelas coloridas reflete a meia-luz dos postes de antigamente. Assim é Diamantina, pitoresca cidade mineira que, acostumada ao título de relíquia do tempo, viu passar, nesta terça-feira (10.05), por suas ruas seculares, um símbolo ainda mais antigo: a chama olímpica acesa na Grécia, em 21 de abril. Depois de percorrer Bocaiúva e Couto de Magalhães de Minas – e antes de chegar a Curvelo –, a tocha dos Jogos Rio 2016 e a cidade se cruzaram, em um encontro emocionante na terra de Chica da Silva e Juscelino Kubitscheck.

E se tem uma característica que mineiro se orgulha é a hospitalidade. Em Diamantina, isso era ainda mais latente com a presença das pessoas nas ruelas estreitas e calçadas de pedras irregulares. Ao receber a chama como visitante na própria casa, a cidade lembrou um dos seus dias de Carnaval ou de suas festas religiosas, onde a presença de gente circulando e festejando por todo o centro histórico é maciça. "Se você vai receber uma visita, tem que receber bem. E é assim que a gente tem que acolher essa passagem da tocha, de forma hospitaleira", já avisava a professora aposentada Salete Maria Souza Azevedo.

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Vesperata deu o tom da passagem da tocha pelas ruelas de Diamantina. Foto: Ivo Lima/Brasil2016.gov.br/ME

Nos primeiros metros do trajeto, os moradores já exibiam orgulho com a ocasião. Educadoras infantis, Rosângela de Paula Neves, de 35 anos, e Viviane Aparecida Guedes, de 34, se destacavam na multidão. Afinal, estavam fantasiadas de mascotes dos Jogos Rio 2016, Tom e Vinicius, trajes feitos pelos alunos. Do outro lado da rua, os estudantes vibravam com a animação das professoras. "Trabalhamos o tema do esporte e da competição, mas de forma lúdica, porque são meninos e meninas de até 5 anos", disse Viviane.

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Tiago Araújo, de 37 anos, participou de campeonatos regionais de handebol e tênis de mesa representando o município. Para ele, as chances de estar de novo em um evento desse porte nas mesmas circunstâncias são quase nulas. "Nunca mais poderei participar disso no meu país e na minha cidade como agora, portanto sinto como algo único que me enche de emoção", afirmava o condutor, antes de começar a descer o Morro do Capeta – apelido de uma ladeira íngreme, de tirar o fôlego.

Estudantes que debateram o esporte em sala, ex-jogador de handebol, a receptividade mineira e a religiosidade. Cenas do tour por Diamantina. Fotos: Ivo Lima/Brasil2016.gov.br/ME

Haydn Saraiva Filho, de 52 anos, e Helga Espigão, de 44, levaram os filhos para assistir à passagem da tocha na porta de casa. Vivendo na cidade há quase seis anos, o casal de policial aposentado e administradora entendia a cerimônia como um legado para Isaac e Sofia, de 7 e 9 anos, respectivamente. "Participar se torna mais emocionante com a presença deles, a quem podemos demonstrar a importância do esporte na formação das pessoas", explicou o pai. "E para a gente, que praticou esportes, competiu, ganhou medalha e sabe o esforço da dedicação, assistir a isso é sentir um pouco da olimpíada pertinho da gente", completou a mãe.

Vesperata

Um dos pontos altos da condução do fogo que simboliza a união esportiva das nações ocorreu na Rua da Quitanda. Ao virar a esquina, a multidão se deparou com um espetáculo velho conhecido do lugar: a apresentação da Banda de Música da Polícia Militar nas sacadas dos casarões seculares. Ali acontece a Vesperata de Diamantina, temporada de serenatas realizada entre abril e outubro, em edições quinzenais.

Posicionados de todos os lados, músicos tocavam canções que exibem a tradição seresteira da região. Bolhas de sabão dançavam no ar enquanto era executada a canção Carruagens de Fogo, de Vangelis.

No ponto final, um palco foi montado para receber as duas estrelas máximas da celebração diamantinense: a ex-jogadora de vôlei da Seleção Brasileira Hilma Caldeira, e o ex-corredor João da Mata, ganhador de uma edição da São Silvestre, em 1983. Elétrico após sua participação, da Mata demonstrava o quanto o esporte ainda o empolga: enquanto esperava pelo começo da cerimônia, ele dava pequenos trotes pelo palco. O atleta começou a correr ainda na década de 1970 e nunca mais parou. Aos 64 anos, leva 50 minutos para cumprir 12 km. Os 200 metros de cidade que atravessou com o símbolo olímpico nas mãos tiveram sabor nostálgico. "Me senti como quando ganhava as competições e todo mundo me aplaudia."

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Campeão da São Silvestre em 1983, João da Mata, aos 64 anos, voltou a sentir o gostinho de ter os holofotes voltados para ele. Foto: Ivo Lima/Brasil2016.gov.br/ME

Ilustres

Personagens inesquecíveis, cujas trajetórias se misturam à biografia da cidade, surgiram no percurso. Do alto de seu pedestal, a estátua de Juscelino Kubitschek indicava a direção da casa onde viveu o ex-presidente do Brasil, autor intelectual da construção de Brasília. Também célebre é Chica da Silva, escrava liberta conhecida pela beleza e pela pujança financeira que conquistou. Sua residência foi transformada em museu e, sempre que há Vesperata, uma atriz representa seu papel e sai pelas ruas de braços dados com outro personagem: João Fernandes, mais famoso amor de Chica. Durante a passagem do revezamento da tocha, lá estava a Chica de plantão na porta do museu, vestida com traje de época, pó de arroz e sombrinha, atraindo as câmeras de turistas e moradores.

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Personagens icônicos da biografia da cidade, Chica da Silva e seu maior amor, João Fernandes, são frequentemente lembrados em Diamantina. Foto: Ivo Lima/Brasil2016.gov.br/ME

No entanto, quem deixou eufóricos os conterrâneos foi a ex-jogadora de vôlei Hilma Caldeira. Ganhadora do bronze nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, ela teve tratamento de celebridade, com direito a escolta policial. "Ganhei minha segunda medalha. Sou da terra de JK, de Chica da Silva, uma mulher negra e única medalhista olímpica da cidade", comemorava. Hilma estava tão hipnotizada por seu exemplar da tocha que não permitiu que um dos organizadores o tirasse das suas mãos para eliminar o gás do reservatório. "Ninguém tira essa tocha de mim!", disse, entre gargalhadas.

A chama foi acesa em 21 de abril, na cidade de Olímpia e, em seguida, visitou mais 28 cidades gregas, além de duas localidades na Suíça (Genebra e Lausanne). Em solo brasileiro, iniciou seu périplo em 3 de maio por Brasília, percorreu 16 cidades goianas e, até o momento, 14 mineiras. Nesta quarta-feira (11.05), a rota inclui os municípios de Datas, Serro e Guanhães, até encerrar o dia em Governador Valadares.

Mariana Moreira e Hédio Ferreira Júnior, de Diamantina (MG)