Atletismo
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Um salto de cinco metros para o bicampeonato de Silvânia Costa
“Estou aqui pelos meus filhos”, disse Silvânia Costa de Oliveira, numa fala acompanhada de um choro emocionado logo após conquistar o ouro e o bicampeonato paralímpico do salto em distância da classe T11, para cegos. Depois de queimar os dois primeiros saltos e de ficar em terceiro durante boa parte da prova com 4,84, ela alçou um voo de cinco metros cravados no quinto da série de seis e decretou o segundo título. A prata ficou com Asila Mirzayorova, do Uzbequistão, com 4.91m, e o terceiro lugar com a ucraniana Yuliia Pavlenko, com 4m86. Lorena Spoladore, que também competiu essa prova, fechou a participação em quarto lugar, à beira do pódio, com 4.77m.
“Entrei com muita garra, determinação e foco. Eu sabia o quanto tinha batalhado. Na hora do quinto salto, meu treinador disse que era tudo ou nada, e fui pra cima. Quando caí na areia, eu já sabia, mas esperamos a contagem dos metros. Aí não aguentei e comemorei”
Silvânia Costa
“Entrei com muita garra, muita determinação e foco. Eu sabia o quanto tinha batalhado, o quanto tinha lutado e me esforcei para chegar nesse momento. Na hora do quinto salto, meu treinador disse que era tudo ou nada, e fui pra cima. Quando caí na areia, eu já sabia, mas esperamos a contagem dos metros. Aí não aguentei e comemorei”, disse Silvânia, que também competiu nos 400m, mas não conseguiu finalizar a prova por causa de uma dor muscular.
Para ela, cada competição traz uma emoção diferente. Nos Jogos Rio 2016, trabalhou quatro anos até competição. Supensa por doping em 2019, ficou mais insegura em Tóquio porque não teve o mesmo tempo para se preparar. A suspensão só foi encerrada em fevereiro de 2021. “A minhas adversárias treinaram cinco anos. Eu treinei cinco meses, mas sabia que a minha capacidade mental e a minha garra fariam diferença. Então essa medalha para mim veio com um sabor especial. Em nenhum momento achei que ia ficar de fora”, conta.
A atleta retornou aos treinos com 19% de gordura corporal, sendo que o normal é 12%. Com muito esforço, retornou à antiga taxa. Porém, o pior foi ficar longe do filho, João Guilherme, de quatro anos. “Ele é minha paixão, minha vida. Tive que ficar hospedada no centro de treinamento por quatro meses longe dele. Foi bem difícil de superar porque tudo o que faço é para eles. Nos Jogos do Rio eu só pensava no futuro da minha filha, Letícia Gabriela, que está com 15 anos hoje. Essa medalha também significa para eles, porque eles torcem, vibram, se emocionam. Minha filha também segue no esporte, foi medalhista escolar”, celebra.
Aos 11 anos, Silvânia foi diagnosticada com a doença de Stargardt, que faz com que a visão regrida de forma progressiva. Encontrou o esporte apenas aos 18 anos, como ferramenta de inserção social, mas rapidamente conseguiu grande destaque nas provas de salto em distância. Os dois irmãos dela possuem a mesma deficiência. O irmão Ricardo Costa também está em Tóquio para competir no salto à distância paralímpico T11 masculino.
“Minha mãe recebeu a notícia que os três filhos seriam deficientes visuais, então foi um choque muito grande. Comecei minha luta na pré-adolescência. Enfrentei barreiras e preconceitos. Sofri muito. A sociedade não aceitava. Aos 18 anos fui mãe, mas o atletismo mudou a minha história. E foi mais do que títulos e medalhas. O atletismo me formou como um ser humano que luta e batalha por todos os sonhos. E hoje chego aos 34 anos com todas as metas alcançadas graças ao esporte”, ressalta.
A atleta tem planos para o futuro: pelo menos mais três medalhas paralímpicas. “Quero ir à Paris 2024 focada em mais provas porque acho que tenho capacidade. O que me dá coragem são novos desafios. Se depender da minha força de vontade e da minha capacidade física, essas medalhas já estão ganhas”, conclui.
Investimento
Dos 65 convocados para a seleção brasileira em Tóquio, 64 são atualmente contemplados pelo Bolsa Atleta, programa de patrocínio individual do Governo Federal Brasileiro. O investimento direto nesse grupo, no ciclo entre os Jogos Rio 2016 e Tóquio 2021, foi de R$ 30,96 milhões, garantido via Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania.
Dos 64 bolsistas, 55 integram a categoria Pódio, a principal do programa, voltada para quem se qualifica entre os 20 melhores do mundo em sua modalidade. A categoria Pódio prevê repasses que variam de R$ 5 mil a R$ 15 mil mensais de acordo com os resultados esportivos dos atletas.
No atletismo paralímpico como um todo, foram 2.083 bolsas concedidas no ciclo entre Rio de Janeiro e Tóquio (2017 a 2021), num investimento federal de R$ 61,67 milhões.
Cristiane Rosa, de Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br