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Um novo Hugo mira vaga olímpica no Pan
Entre os asiáticos, dominantes nos pódios de tênis de mesa, um carioca. Ainda com 18 anos, Hugo Calderano conquistou um bronze inédito para o Brasil nos Jogos Olímpicos da Juventude em Nanquim, na China, no ano passado. Desde então, o brasileiro já deu trabalho a tradicionais jogadores em diversos torneios internacionais.
A pouca idade – completou 19 anos nesta semana – contrasta com grande experiência. São mais de dez anos dedicados ao esporte, que fizeram dele o atual 10º mesatenista do mundo entre atletas de até 21 anos e o 63º do ranking mundial. Agora, ele se prepara para o início de uma nova jornada. O objetivo é deixar a marca nos Jogos Pan-Americanos e trilhar um caminho de sucesso, como o percorrido pelo ídolo de mesmo nome: Hugo Hoyama, dono de 15 medalhas em sete edições de Pan, sendo dez de ouro, além de ter participado de seis Olimpíadas.
“É sempre muito bom ter ídolos como ele. Entrar no lugar do Hoyama é uma experiência incrível, ainda mais com a minha idade. Espero corresponder às expectativas, pois sei que conto com chances reais de medalha”, disse Calderano, que fará a sua estreia no Pan de Toronto, no Canadá, em 19 de julho.
O ídolo também aposta no novo talento. “Eu me mantive jogando no alto rendimento por tanto tempo, até a Olimpíada de Londres, exatamente para ser exemplo para outros jogadores. Saber que ele me menciona como ídolo é muito gratificante. Ele (Calderano) tem se dedicado bastante, saiu de casa cedo, vou torcer muito por ele. As chances (de medalha) são grandes, especialmente por equipe, assim como foi o meu início. Minha primeira medalha foi por equipes”, disse Hugo Hoyama.
O Pan de Toronto será a primeira oportunidade de classificação para os Jogos Olímpicos Rio 2016. Estarão em jogo duas vagas, que ficarão com os campeões individuais no masculino e no feminino. Além de Calderano, o Brasil será representado no Pan por Gustavo Tsuboi (49º colocado do ranking mundial) e Thiago Monteiro (139º), no masculino, além de Lin Gui (124ª), Caroline Kumahara (133ª) e Ligia Silva (163ª), no feminino.
“Os Jogos Pan-Americanos são mais importantes para os brasileiros porque são disputados de quatro em quatro anos e temos grandes chances de medalhas. No Mundial as chances de pódio ainda não são reais. Conseguimos brigar com jogadores top 10, mas não temos chance de avançar”, explicou o atleta.
A oportunidade de conquistar a vaga olímpica dá ainda mais peso à competição continental. “Os atletas asiáticos e europeus são mais fortes, mas na América também tem jogadores muito bons, como os outros brasileiros, e tem até um chinês naturalizado canadense (Eugene Wang, 74º do ranking mundial), que é o maior adversário brasileiro nesse Pan. É a primeira classificatória para a Olimpíada e acredito que posso conquistar essa vaga”, disse.
Revelação nos Jogos Escolares
Hugo Calderano faz parte de uma geração de atletas que despontou nacionalmente nos Jogos Escolares da Juventude, competição organizada pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) com o apoio do Ministério do Esporte. O mesatenista foi medalhista nas edições de 2008 e 2009, quando ganhou o Prêmio Brasil Olímpico de melhor atleta escolar e passou a receber o benefício do Bolsa-Atleta.
O carioca treina e mora na Alemanha. Defende o clube Ochsenhausen. Com a experiência de disputar a liga mais forte da Europa em 2014/2015, o atleta renovou o contrato por mais duas temporadas. No velho continente, Hugo faz o que mais gosta: treinar em alto nível e competir. “Vou continuar na Alemanha por mais dois anos. Penso que estou no caminho certo porque o treinamento é bom e conto com técnicos e adversários fortes”, analisou.
Em 2012, Calderano conquistou o título da etapa do Circuito Mundial na Argentina, quando passou a liderar o ranking de entradas sub-18 - posição nunca ocupada por um brasileiro. Na ocasião, tornou-se o primeiro colocado no Circuito da Federação Internacional de Tênis de Mesa (ITTF, na sigla em inglês) juvenil masculino. Dois anos depois, o bronze em Nanquim levou o nome do atleta para todo o mundo.
Investimentos e evolução
Hugo é destaque de uma modalidade em ascensão no país. Intercâmbios, participação em torneios internacionais e suporte técnico de profissionais estrangeiros são exemplos do que vem sendo realizado. O planejamento da modalidade é de longo prazo, com investimentos que vão da base ao alto rendimento.
Atualmente, há 256 mesatenistas contemplados com a Bolsa-Atleta, o que significa um investimento anual de mais de R$ 3,9 milhões. Entre 2010 e 2013, convênios firmados com o Ministério do Esporte repassaram R$ 11 milhões à Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM), que vêm sendo usados na compra de equipamentos, viagens, pagamento a atletas, técnicos e equipes multidisciplinares. Além disso, entre 2007 e 2013, foram captados R$ 2,15 milhões em projetos via Lei de Incentivo ao Esporte. Em 2014, foram repassados R$ 2,6 milhões via Lei Agnelo/Piva.
O crescimento do tênis de mesa é constatado em competições como o Pan. Os maiores confrontos nos jogos individuais serão entre os compatriotas. “Nós somos cabeça de chave um por equipe e no individual o Gustavo Tsuboi é o primeiro e eu sou o segundo. Então, o foco dos adversários é vencer os brasileiros”, analisou Calderano. De outras nações, além do chinês naturalizado canadense, o brasileiro destaca os argentinos e os portorriquenhos.
Preparação para o Pan
A Seleção Brasileira de tênis de mesa iniciou, nesta quinta-feira (25.06), no Centro de Treinamento de São Caetano do Sul (SP), a reta final de preparação para o Pan. Os torneios da modalidade durante a competição serão realizados de 19 a 25 de julho.
As atividades serão comandadas por uma equipe de peso. Além dos técnicos Jean-René Mounie, Hugo Hoyama e Francisco Arado, e do coordenador Lincon Yasuda, os jogadores terão o apoio do preparador físico Mikael Simon e do consultor François Ducasse, especialista em psicologia do esporte, ambos franceses. O terceiro reforço é o chinês naturalizado austríaco Chen Weixeng, jogador de estilo defensivo que teve seu auge em 2006, quando chegou à nona posição do ranking mundial.
Em São Caetano, o foco estará no aprimoramento técnico dos atletas. Eles voltarão a se reunir para mais uma semana de treinamentos a partir de 6 de julho, no Rio de Janeiro. “Durante o primeiro training camp, vamos trabalhar a parte técnica e encarar os pontos mais fracos de cada um. Temos tempo para mudar pequenos detalhes. E, com certeza, iremos propor um trabalho físico importante de pernas. O ritmo de jogo será prioridade nesse período. Teremos mais tempo para a parte de saque/recepção no segundo, mais perto do evento”, disse Jean-René Mounie.
Para Calderano, o Pan é uma experiência que ajudará a fortalecer a equipe brasileira, já pensando nos Jogos Olímpicos do ano que vem, o grande sonho do atleta de 19 anos. “A gente já tenta organizar a equipe para as Olimpíadas porque o sistema do Pan é o mesmo (equipe e individual). Tem também a Vila Pan-Americana. É um campeonato diferente dos que estamos acostumados. A expectativa é alta de jogar minha primeira Olimpíada em casa. Estou treinando para jogar com os melhores do mundo. Mas antes é preciso conquistar a vaga”, disse Calderano.
A meta do tênis de mesa brasileiro nos Jogos 2016 é ficar entre os oito melhores no masculino e entre os 12 no feminino. Se alcançar esses objetivos, o país terá a melhor campanha de sua história da modalidade.
Breno Barros e Carol Delmazo