Maratona aquática
Coreia do Sul
Tricampeã em uma prova que não é sua praia, Ana Marcela tenta chegar ao tetra nos 25km na despedida do Mundial de Gwangju
Basta olhar o currículo e a conclusão virá de forma óbvia: campeã dos 25km das maratonas aquáticas no Mundial de Xangai, na China, em 2011. Bicampeã mundial na mesma prova em Kazan, na Rússia, em 2015. E, finalmente, tricampeã mundial da distância mais longa da modalidade na edição de Budapeste, na Hungria, em 2017.
Quando partir para a disputa dos 25km no Mundial de Desportos Aquáticos de Gwangju nesta sexta-feira (19.07), às 8h05, no horário da Coreia do Sul, 20h05 de quinta-feira (18.07), em Brasília, Ana Marcela Cunha nadará como uma das favoritas para chegar ao tetracampeonato naquela que é, inquestionavelmente, a sua praia. Correto? Só que não!
Apesar de todo o sucesso de Ana Marcela na prova, o técnico dela, Fernando Possenti, é categórico: “Essa é uma afirmação que eu tento mudar há seis anos. Essa prova não é a praia dela. A Ana nunca treinou para os 25km. Ela treina para os 10km. Os 10km é a prova que vale, é a prova olímpica”, diz Possenti.
A disputa no feminino terá 21 atletas, de 14 países, em busca do pódio. No masculino, serão 24 atletas, de 16 países. O Brasil teria Victor Colonese no páreo, mas ele pediu para não participar (os motivos não foram revelados).
Ao ouvir a afirmação de Possenti sobre Ana Marcela e os 25km, a pergunta seguinte vem de bate-pronto: Então, como explicar o fato de a brasileira ter conquistado três ouros na distância em campeonatos Mundiais?
Para o treinador, a resposta combina uma série de fatores que fizeram com que a baiana, de 27 anos, se tornasse, independentemente do resultado dos 25km na Coreia, a maior campeã da história das maratonas aquáticas em mundiais.
“Ela ganha os 25km porque tem uma força mental e um controle do ambiente muito grandes. Mas dizer que ela foi treinada para os 25km, nunca”, reforça o técnico. “Se você pegar o programa francês, e vou citar só um exemplo, eles têm dois nadadores que não nadam nenhuma prova, nem os 5km e nem os 10km. Eles só treinam para os 25km. É o caso do Axel Reymond. O volume de treino dele é 50% ou 60% maior do que o da Ana, porque ele está treinando só para os 25km”, compara.
“Mas se você pegar a planificação da Ana, se levar para um estudante ou profissional de educação física, ele vai olhar e vai falar: 'Ela está treinando para os 10km, não para os 25km'. Ela ganha muito mais no psicológico, na força, na cadência e na leitura do ambiente. A Ana sabe tudo o que está rolando ao lado dela. Ela sabe quem está acelerando, quem não está... A leitura dela é excelente”, explica. Justamente por isso, Possenti confia em Ana Marcela e não foge da responsabilidade quando perguntado sobre a expectativa para a prova dos 25km na Coreia. “A gente espera ir ao pódio. Se vai ganhar, aí já não sei”.
Sem pressão
O fato de ser tricampeã mundial da distância não adiciona elementos de pressão sobre Ana Marcela. “Eu não fico pensando: 'Eu preciso ser tetra, preciso ser penta, preciso ser hexa'. Eu só quero dar o meu melhor e sair da água realizada. É isso que eu faço a cada prova”, diz a supercampeã.
Na verdade, desde o início foi assim. Dona de um dom para nadar longas distâncias que aprendeu a desenvolver cedo, Ana Marcela iniciou a carreira nas maratonas aquáticas de forma precoce, ainda criança, na Bahia. “Eu comecei a nadar com dois anos, quando meus pais me levaram. Na verdade, você só pode nadar essas provas mais longas, de 5km, 10km, a partir dos 14. Só que na Bahia a gente tem muita tradição nas maratonas aquáticas. E sempre tinha circuito do interior, estadual. Eu comecei a fazer essas provas desde os 10 anos, mais ou menos. Com essa idade eu já fazia essas provas, de 4 ou 5 quilômetros”, recorda.
O primeiro sinal de que Ana era diferente das demais veio em 2005. “Teve uma etapa do Brasileiro que foi em Juazeiro e outra em Ilhéus e aí eu participei. Nessa época, com 13 anos eu podia. E eu ganhei as duas etapas, ambas de cinco quilômetros”.
De certa forma, esse foi o início da carreira que a levou ao tricampeonato mundial na prova dos 25km e que poderá transformá-la em uma tetracampeã nesta sexta na Coreia do Sul. “Aí, no ano seguinte, com 14 anos, eu comecei a fazer o circuito e já passei a disputar as provas de 10km”, lembra a baiana, que em 2008, aos 16 anos, foi a mais jovem nadadora das maratonas aquáticas a disputar uma Olimpíada, em Pequim, quando terminou na quinta colocação.
“Na verdade, o tempo foi me colocando nas maratonas aquáticas. Quando a gente é novo, não dá para escolher se a gente vai nadar os 50m livre ou os 1.500m. A gente tem que nadar de tudo. Mas o meu perfil e como eu nadava bem nas provas longas fez com que eu me direcionasse dessa forma”, explica.
Era um tempo em que disputar uma Olimpíada ainda era algo impensável. “Quando comecei, não imaginava isso, apesar de a natação surgir das águas abertas, porque antigamente era disputado no mar e eles apenas colocavam as raias e faziam as provas. A gente veio de lá, mas nunca imaginei que a maratona poderia virar olímpica. Mas em 2007 a gente ficou sabendo que iria virar olímpica em 2008 e foi muito bom”, diz a nadadora, nascida em Salvador, em 23 de março de 1992.
Dona de dez medalhas – quatro de ouro, duas de prata e quatro de bronze – ela pode chegar à 11ª nas águas na baía do Yeosu Expo Ocean Park, na cidade de Yeosu, palco das provas das maratonas aquáticas no Mundial, distante uma hora e meia de ônibus de Gwangju.
Se chegar a mais um ouro na Coreia, o lugar se tornará inesquecível para Ana Marcela Cunha. Afinal, será a primeira vez que ela voltará para casa com dois ouros em uma mesma edição de Mundial.
Pódios desde Roma 2009
Os atletas das maratonas aquáticas têm contribuído para o sucesso do Brasil nos Mundiais de Desportos Aquáticos. Desde a edição de Roma 2009, quando Poliana Okimoto se tornou a primeira nadadora brasileira a subir ao pódio, com o bronze nos 5km, os representantes do país na modalidade faturaram medalhas em todas as edições seguintes: Xangai 2011, Barcelona 2013, Kazan 2015, Budapeste 2017 e, agora, em Gwangju 2019. No total, o Brasil tem 14 medalhas em Campeonatos Mundiais nas maratonas aquáticas: 5 de ouro, 3 de prata e 6 de bronze. Confira a lista de pódios do Brasil na competição:
Ouro
» Xangai 2011 – Ana Marcela Cunha – 25km
» Barcelona 2013 – Poliana Okimoto – 10km
» Kazan 2015 – Ana Marcela Cunha – 25km
» Budapeste 2017 – Ana Marcela Cunha – 25km
» Gwangju 2019 – Ana Marcela Cunha – 5km
Prata
» Barcelona 2013 – Poliana Okimoto – 5km
» Barcelona 2013 – Ana Marcela Cunha – 10km
» Kazan 2015 – Allan do Carmo, Ana Marcela Cunha e Diogo Villarinho – Equipe 5km
Bronze
» Roma 2009 – Poliana Okimoto – 5km
» Barcelona 2013 – Ana Marcela Cunha – 5km
» Barcelona 2013 – Allan do Carmo, Poliana Okimoto e Samuel de Bona – Equipe 5km
» Kazan 2015 – Ana Marcela Cunha – 10km
» Budapeste 2017 – Ana Marcela Cunha – 5km
» Budapeste 2017 – Ana Marcela Cunha – 10km
Investimento
Todos os seis atletas das maratonas aquáticas que defendem o Brasil no Mundial de Gwangju recebem a Bolsa Atleta do Governo Federal. Dos seis, apenas Victor Colonese não recebe a Bolsa Pódio, a mais alta categoria do programa, do qual fazem parte Diogo Vilarinho, Fernando Ponte, Allan do Carmo, Ana Marcela Cunha e Viviane Jungblut. O investimento anual nos atletas da Seleção Brasileira de maratonas aquáticas em Gwangju é de R$ 731,1 mil.
Os brasileiros e suas provas
» Diogo Andrade Vilarinho – 5km
» Fernando Estanislau Ponte – 5km
» Ana Marcela Cunha – 5km, 10km e 25km
» Viviane Jungblut – 5km e 10km
» Allan do Carmo – 10km
» Victor Colonese – 10km e 25km
Programação e resultados
Horários de Brasília
12.07 – Sexta-feira
5km masculino
1. Kristof Rasovszky (HUN) – 53min22s1
2. Logan Fontaine (FRA) – 53min32s2
3. Eric Hedlin (CAN) – 32min32s4
25. - Fernando Ponte (BRA) – 53min43s6
36. - Diogo Villarinho (BRA) – 53min55s4
13.07 – Sábado
10km feminino*
1. Xin Xin (CHI) – 1h54min47s2
2. Haley Anderson (EUA) – 1h54min48s1
3. Rachele Bruni (ITA) – 1h54min49s9
4. Lara Grangeon (FRA) – 1h54min50s.0
5. Ana Marcela Cunha (BRA) – 1h54min50s.5
6. Ashley Twichell (EUA) – 1h54min50s.5
7. Kareena Lee (AUS) – 1h54min50s.5
8. Finnia Wunram (ALE) – 1h54min50s.7
9. Leonie Beck (ALE) – 1h54min51s.0
10. Sharon van Rouwendall (HOL) – 1h54min51s.1
12. Viviane Jungblut (BRA) – 1h54min51s9
* As dez primeiras colocadas garantiram vaga para as Olimpíadas de Tóquio 2020
15.07 – Segunda-feira
10km masculino*
1. Florian Wellbrock (ALE) – 1h47min55s9
2. Marc-Antoine Olivier (FRA) – 1h47min56s1
3. Rob Muffls (ALE) – 1h47min57s4
4. Kristof Rasovszky (HUN) – 1h47min59s5
5. Jordan Wilimovsky (USA) – 1h48min01s0
6. Gregorio Paltriniery (ITA) – 1h48min01s0
7. Ferry Weertman (HOL) – 1h48min01s9
8. Alberto Martinez (ESP) – 1h48min02s2
9. Mario Sanzullo (ITA) – 1h48min04s7
10. David Aubry (FRA) – 1h48min05s1
33. Allan do Carmo (BRA) – 1h50min14s7
35. Victo Colonese (BRA) – 1h50min15s2
* Os dez primeiros colocados garantiram vaga para as Olimpíadas de Tóquio 2020
16.07 – Terça-feira
5km feminino
1. Ana Marcela Cunha (BRA) – 57min56s0
2. Aurelie Muller (FRA) – 57min57s0
3. Hannah Moore (EUA) – 57min58s0
21. Viviane Jungblut (BRA) – 58min17s4
17.07 – Quarta-feira
Revezamento por equipes 5km
1. Alemanha - 53min58s7
2. Italia - 53min58s9
3. Estados Unidos - 53min59s0
4. Brasil - 54min24s5
Equipe brasileira: Ana Marcela Cunha, Viviane Jungblut, Diogo Villarinho e Fernando Ponte
18.07 – Quinta-feira
20h/20h05 - 25km masculino e feminino
Ana Marcela Cunha
Luiz Roberto Magalhães, de Gwangju, na Coreia do Sul - rededoesporte.gov.br