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Recorde mundial, título e reconhecimento: o dia perfeito de Snjezana Pejcic
A definição de um dia perfeito ganhou um novo significado para a croata Snjezana Pejcic. Aos 33 anos, a atleta dificilmente vai esquecer a data de 22 de abril de 2016. Em um espaço de poucas horas, Pejcic acumulou três conquistas impressionantes durante a Copa do Mundo de tiro esportivo, evento-teste da modalidade para os Jogos Rio 2016, disputado até domingo (24.04) no Centro Nacional da modalidade, em Deodoro.
A primeira veio pela manhã, na etapa classificatória da carabina três posições 50m. A prova levaria as oito melhores atiradoras para a final, marcada para 12h. A croata não só teve o melhor desempenho entre as 55 competidoras como quebrou o recorde mundial ao fazer 594 pontos, superando sua própria marca anterior, de 592.
Número um do ranking mundial, dona da recém-conquistada melhor marca da prova e favorita ao título, Snjezana Pejcic encarou a decisão sob muita pressão, mas novamente o dia se mostrou perfeito para ela. Com 458.8 pontos, ela faturou o título da Copa do Mundo e subiu ao pódio pela segunda vez consecutiva. Na etapa anterior, em Bangocok, ela havia conquistado a prata.
Para encerrar com chave de ouro, Pejcic ainda recebeu da Federação Internacional de Tiro Esportivo (ISSF, em inglês) o prêmio de melhor atiradora de 2015. “Não pode ficar melhor do que isso. O timing para me entregarem esse prêmio foi ótimo”, comemorou a campeã, sorrindo.
A sequência de conquistas atordoou até mesmo a própria atiradora croata, que não soube explicar como teve tanto sucesso. “Para dizer a verdade, não sei como atirei tão bem. Foi um daqueles dias perfeitos”, admitiu. “Foi estressante e com muito suor. Ontem (21.04), tive uma pontuação muito boa (589) e isso me colocou mais pressão para ter uma boa performance hoje. O calor deixou tudo ainda mais difícil”, contou.
A alta temperatura em Deodoro foi o maior desafio citado pela atiradora da Croácia no caminho rumo ao título. “O mais difícil é manter a concentração e o pensamento só em atirar. Você fica pensando ‘meu Deus, vou derreter’. É um desafio, mas torna os resultados ainda mais gratificantes”, explicou.
Além do calor carioca, Pejcic também revelou que ter batido o recorde mundial pela manhã foi outra coisa que desviou a concentração. “Não diria que aumentou a pressão, mas tirou um pouco da minha atenção das finais por um tempo. Não foi fácil voltar a me concentrar na decisão depois, mas no fim deu tudo certo.”
Evento-teste
Classificada para os Jogos Olímpicos Rio 2016, a croata já conhecia o Centro Nacional de Tiro Esportivo. Em 2011, participou dos Jogos Mundiais Militares no local. Familiarizada com a instalação, Pejcic até fez piada para descrever o centro. “É caloroso”, riu. “Mas não literalmente. Os estandes têm aquelas partes em madeira e tudo o mais, eu gosto bastante. Se eu mudaria algo para os Jogos? Não sei, talvez a temperatura. Mas acredito que até lá vai estar tudo bem”, divertiu-se.
O fato de a Copa do Mundo servir como evento-teste não mudou a forma como a croata encarou a competição, embora ela admita que tenha aproveitado para conhecer todos os detalhes do local onde vai buscar a segunda medalha olímpica. “Tentei olhar para a competição como mais uma etapa da Copa do Mundo. Claro que tentei prestar atenção em como o vento funciona, mas antes de qualquer coisa, é uma Copa do Mundo. Em quatro meses vai ser uma história diferente”, disse a medalhista de bronze em Pequim 2008 na carabina de ar 10m.
Elogios e reconhecimento
Além de receber o prêmio de melhor atiradora de 2015 da ISSF, Snjezana Pejcic também recebeu o reconhecimento de sua principal rival na final, a alemã Barbara Engleder, medalha de prata na competição com 455.6 pontos. A atiradora europeia rasgou elogios à campeã da Copa do Mundo.
“Ela é uma das grandes. Faz tudo pelo tiro esportivo. Abriu mão de muita coisa pelo esporte e faz muito por ele. A vida dela é o tiro esportivo. Se alguém faz tanto quanto ela, viajando pelo mundo por vários anos, realmente é a melhor pessoa para vencer hoje”, disse a alemã, logo após a cerimônia do pódio.
Informada sobre os elogios da rival na decisão, Pejcic aproveitou para fazer mais uma brincadeira. “Bela maneira de colocar pressão em mim”, riu mais uma vez. Em relação à vida dedicada ao tiro esportivo, ela reconheceu o fato e disse ser esse o caminho para quem quer ser um atleta profissional.
“É minha vida. Eu faço isso e nada mais. Estou 100% no tiro esportivo. Quando as pessoas perguntam do que abri mão, eu digo que não abri mão de nada. Eu me entreguei 100%. Você não pode competir em alto nível no esporte se doando 75%. É isso”, resumiu.
A prova
A final da carabina três posições 50m tem um formato diferente das outras decisões. Primeiro, as oito atletas disparam três séries de cinco tiros na posição de joelhos. Em seguida, passam para a posição deitado, na qual passam por mais três séries de cinco disparos.
A definição da campeã é na posição em pé. Depois de mais duas séries de cinco tiros em que todas as finalistas participam, vêm os cinco tiros eliminatórios. Após cada disparo, a última colocada vai sendo eliminada, até sobrarem apenas as duas finalistas.
O valor de cada tiro é igual ao das outras finais de pistola e carabina. O tiro perfeito, no centro do alvo, vale 10.9 pontos. Na última série de cinco disparos, Snjezana Pejcic conseguiu 9.4, 10.2, 10.7, 10.6 e 10.0., contra 9.8, 9.2, 9.3, 9.5 e 10.3 de Barbara Engleder. A medalha de bronze ficou com Nandinzaya Gankhuyag, da Mongólia, com 443.3 pontos. Foi a primeira medalha da carreira da mongol em Copas do Mundo. Ela nunca havia disputado uma final.
O dia do Brasil
Na pistola rápida 25m, Emerson Duarte foi o único representante do país. O brasileiro disputou a primeira etapa da fase eliminatória e terminou na 23ª posição. Ele somou 286 pontos. O melhor desempenho do dia foi do alemão Christian Reitz, com 297. Emerson volta a competir na segunda etapa neste sábado (23.04).
A prova do Skeet masculino e feminino também teve seu primeiro dia de classificação. Entre os homens, Lucio Gutierrez ficou em 58º, com 42 pontos, enquanto José Carlos Júnior foi o 62º com 37 e André Luís Serafini foi o 63º com 36. A melhor marca do dia foi do finlandês Timo Latinen, que não errou e somou 50 pontos.
Entre as mulheres, Georgia Bastos fez 39 e ficou em 26ª, enquanto Daniele ficou em 28ª com 27. A líder foi a russa Albina Shakirova, com 48, mesma pontuação da alemã Christine Wenzel. As duas provas seguem neste sábado.
Programação
Neste sábado (23.04), o penúltimo dia de competições da Copa do Mundo de tiro esportivo tem duas finais programadas. Às 14h será conhecida a campeã da prova feminina de Skeet. Já às 16h45 será a vez da decisão da pistola rápida 25m masculina.
Vagner Vargas – Brasil2016.gov.br