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Judô

28/08/2019 03h15

Mundial de Judô 2019

"Raçudinha", Maria Portela aposta alto para colher o inédito pódio em Mundial

Aos 31 anos, representante brasileira na categoria dos médios muda foco mental, opta por deixar o Pan de lado e joga as fichas em boa performance na capital japonesa

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Pode até ter quem faça igual, mas difícil encontrar quem se dedique mais intensamente a cada treino que Maria Portela, representante brasileira na categoria dos médios no Campeonato Mundial de judô de Tóquio. Em cada sessão técnica, tática ou de abordagem física, a "raçudinha", como ela mesma se define, se destaca. Vibra, se cobra, repete, pergunta, busca o detalhe e o refino possível de golpes, posturas e pegadas.

"Eu me entrego mesmo. É aqui no treino que vou vencer. Aqui tenho de me preocupar. Não lá, na hora do campeonato. Lá tenho de me divertir, porque é isso que amo. Aqui tenho de ir ao limite. Tenho de me forçar a situações em que tenho dificuldade. Tenho de pensar, buscar o mínimo detalhe. Depois é o psicológico", afirmou a judoca gaúcha, de 31 anos.

Portela durante a fase de aclimatação em Hamamatsu: intensidade máxima em todos os treinos. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br
"Este ano decidi fazer diferente. Decidi me tranquilizar mais. Eu quero me divertir no tatame. Eu treino muito forte. Sempre me dediquei. Há uma parte mais psicológica, mais de cabeça, de querer muito e acabar cometendo erro, que preciso superar"
Maria Portela

A face mental, aliás, tem sido um investimento forte da atleta. Quinta do ranking mundial e acostumada a frequentar os pódios no circuito internacional, Portela tem um caso de amor mal resolvido com o Mundial. Uma história que ela resolveu mudar o enredo para que o desfecho tenha outra conotação.

"O Mundial é uma das principais competições do circuito e uma das que eu ainda não conquistei medalha. Venho trabalhando bastante em prol disso. Há alguns anos tenho me pressionado por esse resultado e acabo não conseguindo chegar na medalha, sempre cometo algum erro, alguma falha na competição e caio fora", comentou.

"Este ano decidi fazer diferente. Decidi me tranquilizar mais. Eu quero me divertir no tatame. Eu treino muito forte. Sempre me dediquei. Há uma parte mais psicológica, mais de cabeça, de querer muito e acabar cometendo erro. Assim, o objetivo dessa vez é lutar tranquila, fazer o judô de que gosto. Forte, agressivo, indo para cima. O resultado vai ser consequência", completou a atleta.

Para reforçar esse foco, Portela até abriu mão de disputar os Jogos Pan-Americanos de Lima. "Eu estava convocada, mas aos 45 minutos do segundo tempo pedi para sair. Tenho 31 anos. Não sei se vou seguir pós Olimpíada. Quero 2020. E pensei: o Mundial é uma medalha muito importante para mim neste momento, para o ranking. O Pan não conta pontos. Aí fui um pouquinho egoísta e pensei nos meus objetivos de momento", afirmou a atleta.

Brasileira conquistou três medalhas de prata no circuito internacional em 2019. Foto: Roberto Castro/rededoesporte.gov.br

Em 2019, os principais resultados de Portela são três medalhas de prata, conquistadas no Campeonato Pan-Americano, no Peru, no Grand Prix de Antalya, na Turquia, e no Grand Slam de Ecaterimburgo, na Rússia. Na categoria da brasileira, o nome de maior destaque é o da japonesa Arai Chizuru. Depois de viver a frustração de não conseguir a vaga na seleção para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, a judoca resolveu provar a seu país que merece estar em Tóquio 2020. Para enfatizar o argumento, venceu os mundiais de 2017 e 2018 e se fixou como a número 1 do mundo.

Outra atleta de grande consistência é a francesa Marie Eve Gahie, segunda colocada no ranking mundial, vice-campeã mundial em 2018 e vencedora do Grand Slam de Ecaterimburgo em 2019, com uma vitória por ippon sobre Portela na decisão.

"Gosto de lutar no Japão. Sei que é uma competição dura, disputada. Todo mundo quer chegar, todo mundo está preparado, mas muitas vezes aqui as coisas são no detalhe. Quem quer mais leva vantagem. É a terra do judô. Toda a torcida lota o ginásio e faz uma pressão gigante em cima dos japoneses. Eu gosto de brincar que a japonesa foi ao Rio saiu com o ouro olímpico. Quem sabe eu não venho agora ao Japão buscar a medalha delas", brincou a atleta, que aguarda na segunda rodada a vencedora do confronto entre a alemã Alina Boehm, de 21 anos, e a croata Barbara Matic, de 24. Barbara vem de uma medalha de bronze nos Jogos Europeus de Minsk, em 2019.

A francesa Marie Eve Gahie é a vice-campeã mundial e do ranking. A japonesa Arai Chizuru venceu as duas últimas edições do Mundial e lidera o ranking. Fotos: IJF

Temporada consistente

O outro representante brasileiro na quinta-feira será o paulista Rafael Macedo, de 25 anos. Número 15 do mundo, ele vai disputar a categoria -90kg, que conta com 69 judocas inscritos. Rafael vem em uma temporada consistente, com pódios em três competições do circuito internacional. Foi prata no Campeonato Pan-Americano de Lima, no Peru, além de conquistar os bronzes no Grand Prix de Montreal, no Canadá, e no Grand Slam de Ecaterimburgo, na Rússia.

"Se eu precisar pagar um psicólogo por fora, pago. Se preciso de uma competição a mais para ganhar pontos no ranking olímpico, invisto. Até na questão de alimentação. Quem faz dieta regrada sabe que os ingredientes são caros. A Bolsa Pódio nos dá sustentação para fazer tudo da melhor forma possível"
Maria Portela

Números expressivos

Evento-teste para os Jogos Olímpicos de 2020, o Campeonato Mundial de Judô reúne 839 atletas, de 148 países, em sete categorias de peso no masculino e sete no feminino. Até 31 de agosto, a disputa é nas categorias individuais. No dia 1 de setembro, será a vez da competição por equipes mistas, formato que será adotado pela primeira vez no programa olímpico nos Jogos do Japão. Pelo sorteio da chave, o time brasileiro vai estrear contra a seleção alemã. Se vencer, terá pela frente o vencedor do confronto entre Portugal e Azerbaijão.

Na chave individual, o Brasil tem 18 atletas inscritos. Dezessete deles, como Maria Portela e Rafael Macedo, são integrantes do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento anual do governo federal no grupo é de R$ 1,67 milhão.

Além disso, 12 dos 18 atletas estão incluídos na Bolsa Pódio, a categoria mais alta do programa, voltada para esportistas que se consolidam entre os 20 melhores do mundo. Eles recebem repasses mensais que variam entre R$ 5 mil e R$ 15 mil. Numa outra frente de investimentos federais, 11 dos 18 atletas integram o Programa de Alto Rendimento das Forças Armadas (PAAR).

"Faço parte da Bolsa Pódio. Ela é fundamental para um atleta de alto rendimento. A gente não tem muitos incentivos privados. A Bolsa nos ajuda em suplementação diária em várias frentes. Se eu precisar pagar um psicólogo por fora, pago. Se preciso de uma competição a mais para ganhar pontos no ranking olímpico, invisto nisso. Cada detalhe soma. Até na questão de alimentação. Quem faz dieta regrada sabe que é complicado. Os ingredientes são caros. A Bolsa nos dá sustentação para fazer tudo da melhor forma possível", afirma Maria Portela.

Infográfico - Mundial de Judô 2019

Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoesporte.gov.br