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Geral

08/11/2018 09h40

Madri 2018

Quinteto do caratê paralímpico estreia no Mundial com pretensão de pódios

Brasileiros competem nas categorias voltadas para deficientes visuais e cadeirantes. Competição reúne mais de 120 atletas na Espanha

Com mais de 120 inscritos entre os 1.400 atletas do Mundial da Espanha, o caratê paralímpico terá sua primeira janela de apresentação nesta quinta-feira (08.11), a partir das 16h, em Madri (13h de Brasília). A modalidade, que tem no horizonte o sonho de integrar o programa paralímpico, é disputada na versão kata (demonstrações) e terá três vertentes na Espanha: para deficientes visuais, cadeirantes e atletas com deficiência intelectual.

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Paula Gomes, de 23 anos, pratica o caratê desde os nove. Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br

"O paracaratê foi incluído no Mundial para enxergar a demanda que existia. Com esse número recorde de inscritos em Madri, ficou clara a possibilidade de crescimento"
Ariel Longo, técnico

"O paracaratê foi incluído no Mundial para enxergar a demanda que existia. Com esse número recorde de inscritos em Madri, ficou clara a possibilidade de crescimento", afirmou o técnico Ariel Longo, responsável pela equipe nacional. O Brasil levou à Europa cinco representantes. Dois competem entre os cadeirantes e três entre os deficientes visuais.

Débora Knihs, de 33 anos, chega com o histórico de um bronze no primeiro Mundial da história do esporte, disputado na Áustria, em 2016. Ela também traz no currículo o título Pan-Americano recentemente obtido no Chile, em junho. Com glaucoma congênito, ela sempre teve problemas de visão e perdeu completamente esse sentido aos 12 anos. Catarinense de Brusque, Débora teve passagens por atletismo e natação antes de chegar ao caratê, que treina de forma mais consistente há quatro anos.

"O grande sonho é chegar ao ápice, numa medalha paralímpica um dia", afirma a atleta, que treina numa academia em Campinas (SP). Um dos desafios para ela e para os treinadores é executar movimentos que ela nunca chegou a ver "com os olhos". A compensação vem no tato e no que escuta dos técnicos.

Outra atleta que vai competir na classe para deficientes visuais é Paula Gomes, de 23 anos. Natural de Carmo do Paranaíba, pequeno município mineiro de 30 mil habitantes, ela pratica o caratê desde os nove anos. Conheceu a modalidade por meio de um amigo que a convidou para participar de um treino. Aceitou e se apaixonou. Veio a Madri sem meias palavras. Quer estar na foto do pódio.

"É uma honra estar na seleção pela primeira vez. Um sonho de qualquer atleta. Estou vivendo aqui as melhores expectativas. Treinei muito, me dediquei muito. Estou em busca do ouro", disse. Paula tem uma condição conhecida informalmente como "doença dos pontos brancos". Num jargão mais médico, Fundus Flavimaculatus, uma doença na retina que é degenerativa. No caso de Paula, segundo a atleta, a condição se estabilizou, mas ela tem apenas 8% de visão em um olho e 15% no outro.

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Júlio Pereira compete entre os deficientes visuais. Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br
"Almejo ser inspiração para crianças, jovens e adultos. Mostrar que o esporte ajuda a superar deficiências e a viver de forma totalmente independente"
Júlio Pereira, atleta

O terceiro integrante do time dos deficientes visuais é o pernambucano Júlio Pereira, de São Lourenço da Mata. Ele é um dos mais experientes do quinteto. Aos 28 anos, acumula 18 anos de caratê, mas apenas recentemente adotou a versão paralímpica, quando viu no site da Confederação da Modalidade uma chance de participar do Pan-Americano adaptado.

"Estou confiante em uma medalha para minha categoria em meu primeiro mundial. A expectativa pessoal é conseguir patrocínios de pessoas e empresas interessados em promover o crescimento do esporte. Almejo ser inspiração para crianças, jovens e adultos. Mostrar que o esporte ajuda a superar deficiências e a viver de forma totalmente independente", afirmou Júlio.

Flickr do Ministério do Esporte: imagens disponíveis em alta resolução para uso editorial gratuito (crédito obrigatório: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br)

Mundial de Caratê Madri 2018

Cadeirantes

Entre os cadeirantes, os representantes brasileiros são os paulistas Jonas Rocha e Jaime Ruiz. Jonas perdeu a perna esquerda numa brincadeira de adolescente que terminou de forma trágica. Ele e amigos brincavam de jogar pedras em carretas de caminhão que passavam em uma das rodovias que atravessam a região de Embu das Artes, dez anos atrás.

"Um dos amigos acertou um carro. O carro voltou depois com duas motos. Começaram a atirar na gente. Eu tomei oito tiros. Deu trombose e gangrena na perna esquerda e, consequentemente, perdi a perna", explicou. De lá para cá, ele descobriu o caratê, adaptou movimentos do kata e está pronto para o Mundial.

"É uma sensação muito boa estar entre os melhores do mundo. Vamos competir forte. Temos chances de vencer na categoria. Vou disputar na modalidade cadeirante. Estou com um kata forte. Treinamos firme", afirmou Jonas. "O maior desafio dele é se adaptar à cadeira de rodas. Ele está acostumado a lutar em competições normais, mesmo sem uma perna", afirmou Ariel Longo.

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Jaime Ruiz durante treinamento em Madri. Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br

Forma de disputa

No kata, existe uma sequência pré-determinada de movimentos que o atleta precisa exibir, que em média dura dois minutos. As disputas são sempre em dupla. Um júri de cinco árbitros define o melhor em cada duelo, que segue adiante na competição. Os critérios levados em consideração são a técnica, o posicionamento, os movimentos de transição, a sincronização, a respiração, o foco e o grau de dificuldade. E cada atleta tem de ter previstas várias possibilidades de kata, porque eles não podem repetir o mesmo duas vezes. 

Infográfico - Mundial de Caratê Madri 2018

Gustavo Cunha, de Madri, na Espanha - rededoesporte.gov.br