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Triatlo paralímpico

29/07/2015 11h16

Eventos-teste

Paratriatlo tem “pré-estreia” em evento-teste na Praia de Copacabana

Modalidade será disputada pela primeira vez nos Jogos Paralímpicos de 2016. Brasileiros encaram disputa no sábado (1.08) como chance de conhecer em detalhes o percurso e somar pontos no ranking que define as vagas para o Rio

Estreia: setembro de 2016. Palco: Copacabana. Tempo: o menor possível.  O paratriatlo fará parte do programa paralímpico pela primeira vez no Rio de Janeiro e o próximo sábado (01.08) será a prévia da estreia.  A capital fluminense receberá a etapa do Circuito Mundial de Paratriatlo que também será evento-teste para os Jogos Paralímpicos Rio 2016. Estarão na disputa cerca de 60 atletas, de mais de 15 países, e eles terão a oportunidade de conhecer o primeiro circuito paralímpico do esporte. Ao mesmo tempo, a prova vale preciosos pontos no ranking, a principal ferramenta de classificação para a competição do ano que vem.

“Serão 60 atletas nos Jogos, considerando todas as classes funcionais paralímpicas. Seis vagas – três no feminino e três no masculino – serão distribuídas na grande final do Circuito Mundial, em Chicago, em setembro. O Brasil tem direito a uma vaga em cada gênero por ser sede. As outras serão definidas pelo ranking de junho de 2016. O campeão do evento-teste junta 350 pontos nessa corrida olímpica”, explicou o coordenador de Paratriatlo da Confederação Brasileira de Triatlo (CBTri), Rivaldo Martins.

» Conheça o Plano Operacional do evento

Os atletas brasileiros estão de olho nesses pontos. As Paralimpíadas de 2016 serão um momento histórico que eles querem agregar às suas histórias de vida que reúnem, como o triatlo, vários esportes e muita persistência. Conheça alguns deles:

Marcelo Collet esteve no Parapan de 2007 na natação, mas é experiente nas técnicas do triatlo. Fotos: Instituto Superar

Do Canal da Mancha a Copacabana

Marcelo Collet, 34 anos,  acorda 3h30 da manhã para fazer o treino de ciclismo pelas ruas de Salvador e pratica as outras duas modalidades (ciclismo e natação) diariamente. O foco é 100% na busca pela classificação.

“Já tive noção do que é disputar uma competição em casa quando participei do Parapan do Rio na natação, e foi de arrepiar: o (Parque Aquático) Maria Lenk lotado, a torcida gritando meu nome, gritando ´Vai Brasil´. Estou na maior expectativa, ainda mais que o paratriatlo vai ser em Copacabana, onde já nadei muitas vezes e fui tricampeão da  Travessia dos Fortes. Estou confiante de que vou conseguir a vaga”, disse Collet.

Triatleta até os 17 anos, quando um atropelamento lhe tirou os movimentos da perna esquerda do joelho para baixo, Marcelo investiu na natação. Foram nove medalhas parapan-americanas, duas participações em Paralimpíadas (Atenas-2004 e Pequim-2008) e uma histórica travessia do Canal da Mancha em 2010, tornando-se o primeiro atleta paralímpico a realizar o percurso.

“Já vivia do esporte há muito tempo, tinha experiência de maratonas aquáticas e queria fazer algo para me dar mais motivação. Fiz dois treinos para a travessia e fui. O atleta tem uma semana para conseguir fazer a prova, porque os ventos precisam estar abaixo dos 20km/h. E eu fiz o percurso exatamente no dia do meu aniversário, em 17 de setembro, quando  completei 30 anos. Foi uma superação muito grande, ali é cabeça e experiência que contam, mas mais a cabeça”, disse o atleta.

No fim daquele ano, uma novidade mexeu com Marcelo: o paratriatlo foi oficialmente incluído no programa paralímpico de 2016. Ele ainda tentou a classificação para Londres-2012 pela natação, mas os três segundos que o afastaram do índice encurtaram a distância até o retorno ao triatlo. A partir de 2012, iniciou um trabalho de fortalecimento da perna esquerda, com auxílio de uma órtese (aparelho externo que ajuda nos movimentos do membro acidentado), sobretudo para corrida e ciclismo. No Mundial de 2012, conseguiu um 7º lugar. Em 2013, foi vice-campeão mundial na então classe TRI5. Era o sinal de que estava no caminho certo, mas um obstáculo surgiria logo depois.

“Houve uma mudança de classes. A minha, que era para quem tem comprometimento da perna do joelho pra baixo, juntou com a outra de amputados de membros superiores. Isso tudo está na PT 4, que é a minha classe atual. No triatlo, faz muita diferença você ter limitação na perna ou no braço, imagine na corrida, por exemplo. Mas se vai ser assim nos Jogos, eu não posso ficar reclamando e tenho que correr atrás”, disse o atleta, que vive do esporte contando com patrocínios e com o apoio da Bolsa-Atleta na categoria Internacional.

“O evento-teste vai reunir os melhores do mundo e isso é desafiador. Mas o mais importante é sair de lá com o percurso já colorido na minha cabeça e trabalhar em cima disso. Quero voltar a Copacabana para os Jogos”, acrescentou.

Polivalente, Fernando Aranha disputou o esqui em Socchi e compete com desenvoltura no paratriatlo. Fotos: CPB/Divulgação e Arquivo Pessoal

De inverno e de verão

Fernando Aranha, 37, está contando os dias – ou melhor, os pontos – para conseguir a vaga no paratriatlo dos Jogos Rio 2016. E de estreia ele entende bem. Fernando foi um dos dois atletas brasileiros que formaram a primeira delegação em Jogos Paralímpicos de Inverno, em Sochi-2014, ao disputar o esqui cross-country adaptado.

“A experiência amplificou o que já imaginava: os atletas de alto nível levam tudo com muita seriedade. Pude observar como eles se comportam, como trabalham para ser campeões, vi várias delegações. Foi sensacional “, contou o atleta, que usa cadeira de rodas desde os primeiros anos de vida em função de uma poliomelite.

Atualmente, mesmo se dedicando ao triatlo, ele também pratica o esqui, mas o treinamento passa longe da neve, já que é feito na Universidade de São Paulo (USP).  Um esporte ajuda o outro, e foi pela experiência que já tinha no triatlo que surgiu a oportunidade no esqui.

“Fiz contato com a Confederação Brasileira de Desportos de Neve para ter mais informações sobre os bastões, porque via os treinos dos atletas do esqui na USP e acreditava que os bastões poderiam me ajudar no treino da natação. Foi coincidência. A confederação estava buscando um atleta para indicar aos Jogos de Sochi. Como eu tinha a polivalência, a experiência com vários esportes, e como o triatlo é uma modalidade de resistência, meu perfil encaixou”, contou.

A polivalência a que Fernando se refere não tem a ver só com o triatlo. Ele conheceu o basquete em cadeira de rodas na adolescência e desafiava as regras do internato onde vivia para jogar. Ao basquete, foram mais de dez anos de dedicação. Mas, com a dificuldade de juntar trabalho, estudo e esporte, buscou uma modalidade individual e migrou para o atletismo, tendo ganhado vários títulos de corrida de rua, incluindo cinco São Silvestres.

Quando conheceu a handbike (bicicleta pedalada com as mãos), o ciclismo virou outra paixão e mais conquistas vieram. Mas o triatlo chegaria ao programa paralímpico e Fernando decidiu abraçar a oportunidade.  Para o tricampeão brasileiro na classe para cadeirantes (PT 1), duas vezes campeão e atual vice pan-americano, além de medalhista de bronze no Mundial de 2011, cada ponto no ranking é sagrado rumo a Copacabana.

“No evento-teste, vamos saber como vão ser as transições, as dificuldades na transposição mar/terra. Ninguém conhece o percurso e vai ser a possibilidade de ver os detalhes. A transição é crucial”, explicou o atleta, que treina diariamente em dois ou três períodos, e conta com auxílio da Bolsa Atleta na categoria Internacional e com o apoio de uma academia.

“Quero ter a oportunidade de competir diante dos meus amigos, no lugar que é um cartão postal. Quero ver todo mundo torcendo, gritando, e quero corresponder. Eu não utilizo mais a expressão ´eu posso´, eu  falo `eu vou`.  No triatlo, tem que manter  consistência e pontuar bem.  Estou treinando para isso”, disse.

Tamires ainda vai completar 16 anos, mas tem performances suficientes para alimentar o sonho paralímpico. Foto: Arquivo pessoal

“Não queria uma vida monótona”

A voz não engana: Tamiris Hintz é uma adolescente animada, cheia de energia, mas, sobretudo, focada.  Antes de pensar no aniversário de 16 anos, em 3 de agosto, Tamiris tem um grande desafio pela frente: o evento-teste do paratriatlo, esporte que escolheu há menos de um ano e que já pode dar a ela a chance de realizar um sonho que nutre desde pequena.

“Eu fazia natação e sempre quis participar dos Jogos Paralímpicos. Sabia que, pelo alto nível da natação no Brasil, isso iria demorar. Mas meu atual técnico (Ivan Razeira) me convidou para o triatlo no fim do ano passado e aceitei. Achava que nunca conseguiria correr, mas começamos aos poucos e deu certo. A bicicleta peguei rapidinho. No primeiro campeonato brasileiro, no começo de 2015, já fiquei em primeiro na minha classe”, contou a atleta, que mora e treina em Joinvile (SC).  Tamiris está na classe PT4 porque não tem uma das mãos.

No Pan-americano de Monterrey, no México, em maio, Tamiris ficou em quarto. Um resultado considerado bom para quem entrou na modalidade há alguns meses e já disputou de igual para igual com atletas experientes. A competição de sábado será a primeira etapa de Mundial da vida dela, e um passo fundamental rumo à classificação olímpica.

“Fico até assustada quando penso em uma competição tão importante, mas acredito na classificação olímpica, mas vai ser bem apertado, especialmente porque as outras meninas já estão com dois ou três eventos (que contam pontos) na frente. A possibilidade de estar nos Jogos ficou mais perto e não vou deixar passar. Estou me esforçando ao máximo, mesmo com pouco tempo na modalidade. Tudo o que faço hoje gira em torno do sonho olímpico, ainda mais no Brasil, naquele visual de Copacabana, naquele mar maravilhoso”.

Tamiris se desdobra com a rotina para dar conta de estudar de manhã e dividir o tempo restante entre treinos das três modalidades, além do trabalho funcional. Mas não tem dúvidas de que vale a pena. “É pesado, cansativo, mas também muito mais divertido viver treinando e me dedicando. Não queria ter uma vida monótona”, garantiu.

Percurso e classes

O percurso paralímpico é composto por 750 metros de natação, 20 quilômetros de ciclismo e outros cinco de corrida. Assim como no triatlo tradicional, o tempo gasto nas transições conta no tempo total de prova, e vence quem terminar mais rápido.

O paratriatlo atualmente é dividido em cinco classes, definidas pela União Internacional de Triathlon, tanto no feminino quanto no masculino: PT 1 a PT 5. Elas englobam diversos tipos de deficiência, desde cadeirantes (PT 1), atletas com deficiência nos membros (PT 2 até a PT 4),até deficientes visuais (PT 5). Os atletas podem utilizar equipamentos adaptados à locomoção. Cadeirantes, por exemplo, podem usar a handbike para o ciclismo e realizar a corrida em uma cadeira de rodas.

As classes paralímpicas para o Rio 2016, entretanto, são apenas três por gênero: PT 1, PT2 e PT4 para os homens, e PT2, PT4 e PT5 para as mulheres.

Na disputa

Estão inscritos na etapa do Rio de Janeiro do Circuito Mundial de Paratriatlo:

Fernando Aranha (PT 1 M) – classe paralímpica
André Barbieri e Tiago Mattes (PT 2 M) -  classe paralímpica
Roberto Carlos Silva, Jorge Luis Fonseca e Edson Dantas (PT 3 M)
Marcelo Collet (PT 4 M) – classe paralímpica
Yasmin Martins (PT 2 F) – classe paralímpica
Tamiris Hintz (PT 4 F) – classe paralímpica
Ana Tércia Soares (PT 5 F) – classe paralímpica
* Mirian Tavares, da PT 2, está na lista de espera

Carol Delmazo, brasil2016.gov.br