Atletismo
Buenos Aires 2018
O salto de 2,11m que vai obrigar Elton Junio a atualizar as redes sociais
O primeiro pensamento que passou pela cabeça do pequeno Elton Junio dos Santos Petronilho quando uma caminhonete o atropelou aos sete anos, em uma rua de Bom Sucesso (MG), foi a preocupação com o que diria para o irmão, de quem havia pegado o tênis emprestado, e para a mãe, que, antes de ir trabalhar, havia dito ao menino para não brincar naquele dia, uma sexta-feira 13. Em sua inocência, ele jamais poderia imaginar que todos os esforços para superar aquele acidente o levariam, nove anos depois, aos Jogos Olímpicos da Juventude.
"Eu estava brincando com um colega meu e ele me empurrou na rua. Aí deu no que deu. A caminhonete passou e quebrou a minha perna direita. Na hora eu estava preocupado com o tênis do meu irmão, que era da moda", lembra o garoto tímido, que vai completar 17 anos em dezembro. A fratura exposta por pouco não lhe custou parte da perna. "O médico perguntou para a minha mãe se podia amputar ou se queria deixar assim. Ela falou para deixar", conta.
"Eu sofri muito bullying, mas tinha em mente que queria me superar cada vez mais. Agora quero chegar no quarto e agradecer todo mundo nas redes sociais e chegar na minha cidade e abraçar minha família"
Elton Junio
Com deficiência muscular e uma grande cicatriz, Elton se tornou um garoto retraído, com problemas de autoestima. Foi quando o treinador Fernando de Oliveira, que comanda o Centro Regional de Iniciação ao Atletismo (CRIA), projeto da Universidade Federal de Lavras, descobriu o menino na pequena Bom Sucesso, cidade do interior de Minas com pouco mais de 17 mil habitantes.
"Logo de primeira eu vi o salto em altura e peguei gosto. O Fernando e o Pablo Ramon, os dois técnicos, me ajudaram demais. Queria mandar um abraço para eles", disse Elton, ao terminar a prova do salto em altura dos Jogos da Juventude Buenos Aires 2018 em quinto lugar. Em seu perfil no Instagram, Elton colocou duas marcas que pretendia alcançar neste ano: 2.07 e 2.10m. Até chegar à Argentina, seu melhor salto havia sido de 2.03m. No primeiro dia do atletismo em Buenos Aires, na quinta-feira (11.10), Elton saltou 2.05m. Neste domingo, alcançou 2.11m.
"Passa um filme pela cabeça. Saber de onde a gente saiu, as dificuldades que a gente passou para chegar aqui hoje. Eu sofri muito bullying, brincadeiras de amigos. Mas tinha em mente que queria me superar cada vez mais. Queria que a minha equipe estivesse aqui hoje também", emocionou-se o jovem atleta, fazendo questão de mandar um abraço para a família. "Eu quero chegar no quarto e agradecer todo mundo nas redes sociais e chegar na minha cidade e dar um grande abraço na minha família".
Para o treinador Fernando de Oliveira, há uma frase que resume a trajetória de Elton: "É possível". "Ele é um guerreiro, que saiu do nada, aprendeu aos trancos e barrancos, passou a frequentar o cenário internacional e está crescendo também como pessoa", completou.
O salto de Elton não foi suficiente para lhe garantir uma medalha. O chinês Long Chen e o australiano Oscar Miers saltaram 2.22m, com o ouro indo para o asiático, e o ucraniano Oleh Doroshchuk levou o bronze ao conseguir atingir 2.14m -, mas ter melhorado a melhor marca em oito centímetros deixou o brasileiro extasiado. "Saio como um campeão", resumiu, fazendo questão de posar para a foto com as mãos unidas como asas de um pássaro. "Significa voar alto, sonhar alto. É o meu lema".
Exemplo para os jovens
Entre os outros quatro atletas brasileiros que competiram neste domingo, Vitor Motin, paranaense de 17 anos, terminou em quinto lugar no lançamento de disco. Ele somou 112.08 metros em dois lançamentos. O primeiro, no último dia 11, foi de 57.30 metros. Neste domingo, ele fez 54.78m. A medalha de ouro foi para Connor Bell, da Nova Zelândia, com a soma de 133.08. O segundo lugar foi para Jorge Luis, do Peru, com 115.06, e o terceiro com Gracjan Kozak, com 114.92.
“Quero agradecer ao Time Brasil pela oportunidade de participar desse campeonato. Na primeira parte eu fui bem e hoje não sei o que aconteceu que lancei 54 metros. Se tivesse repetido a marca do primeiro estágio, teria pego a medalha. Agora, é continuar batalhando forte para representar o país, quem sabe, nos Jogos de Paris 2024”, projetou.
Ter representado o Brasil em Buenos Aires foi uma experiência marcante, avaliou Vitor. “Eu venho de uma família humilde no município de Colombo, na região metropolitana de Curitiba. Eles sempre me apoiaram em tudo. É uma vivência gratificante na minha vida e na dos meus familiares, pois sou um exemplo para outros jovens onde moro”, revelou.
Salto em distância
Lissandra Maya, cuiabana de 16 anos, encerrou a sua participação em oitavo lugar no salto em distância. No primeiro dia de disputas, ela teve quatro oportunidades de saltar. A melhor marca da brasileira foi 5,68m, que a deixou em oitavo lugar. Lissandra melhorou sua marca neste domingo, ao saltar 5.98m, mas a soma dos dois saltos, de 11.66m, não foi suficiente para que a mato-grossense ganhasse posições.
“A chuva e o frio me atrapalharam no primeiro dia. Hoje, esperava fazer um salto melhor. Se eu tivesse mais atenção e um cuidado maior com os detalhes, poderia ter brigado por medalha. Agora é treinar para as próximas competições", disse.
A medalha de ouro ficou com a belga Maite Beernaert, com 12.32 metros. A prata ficou com Klaudia Endresz, na Hungria, com a soma de 12.31metros. O bronze foi para Ingeborg Gruenwald, da Áustria, com 12.31m.
400m livre
O Brasil também teve dois representantes nos 400m livre. O primeiro a correr foi Douglas Mendes, que fez 48s65 e terminou a classificação final em oitavo. "Fico feliz porque consegui chegar à Seleção depois de um ano de treinos. Agora é treinar ainda mais", falou o jovem de 17 anos, nascido em Capão Bonito (SP).
Depois, foi a vez de Érica Geni Barbosa, paranaense de 15 anos. Ela teve como melhor marca 55s43 e terminou em quarto, menos de dois décimos de segundo acima da medalha de bronze. "Saio feliz pela marca que fiz. Queria melhorar ainda mais, mas saio contente com o resultado. Levo daqui um grande aprendizado e agora é treinar bastante para continuar melhorando", disse.
Galeria de fotos (imagens em alta resolução disponíveis para download e uso editorial gratuito)
Mateus Baeta e Breno Barros, de Buenos Aires, na Argentina - rededoesporte.gov.br