Halterofilismo paralímpico
Toronto 2015
O bicho-papão no halterofilismo é do México, mas o Brasil também já assusta
A torcida orgulhosa diante do hino era um sinal. A forte presença de imprensa para os padrões do Parapan, o sinal de uma quase certeza. A Arena de Mississauga, no Canadá, comportava nesta terça-feira (11.08) um público mexicano que sabia estar em território favorável no último dia do halterofilismo. A atração, para eles, era um atleta tratado sempre por superlativos. "Aquele é o bicho-papão", disse Joseano dos Santos, brasileiro que conquistou nesta terça (11.08) o ouro na categoria para atletas de até 97kg. "É uma potência da Américas, entre os três melhores do mundo e cotado para pódio no Rio", completou um dos técnicos da equipe brasileira, Valdecir Lopes.
José Castillo Castillo não decepcionou. Ainda que tenha dado um susto em si e na audiência ao não concluir o primeiro levantamento a que se propôs (215kg) na forma apropriada, conseguiu se recompor com sobras. Levantou os 215kg na segunda tentativa e, mesmo com o ouro já garantido na terceira e última, encerrou a participação no Parapan referendando um novo recorde do torneio, com 225kg. Para se ter ideia do quanto ele sobra na categoria para atletas com mais de 97kg, o segundo lugar, o colombiano Fabio Torres, levantou 192kg.
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"Foi um pouco tenso. O primeiro não se falha, este é o meu lema, mas infelizmente não funcionou assim hoje. Mesmo assim, eu tinha toda uma preparação e não poderia sair sem apresentar o resultado que sabia que poderia render", disse Castillo Castillo, lisonjeado com os elogios dos brasileiros. "Saio daqui com muita alegria por contribuir para que o México tenha ainda mais medalhas, principalmente com o recorde continental", completou. De fato, o México fechou a modalidade na dianteira do quadro de medalhas específico, com três ouros, quatro pratas e dois bronzes, um total de nove medalhas.
O Brasil, contudo, há tempos deixou de ser coadjuvante. O país sai da competição com oito medalhas, sendo três ouros, uma prata e quatro bronzes, em segundo na classificação geral e com a melhor campanha na história do torneio. Antes, o resultado mais expressivo tinha sido no Rio, em 2007, com cinco medalhas (um ouro). "Ele é o cara das Américas, mas a gente está chegando", avisou Joseano, que levantou 200kg para ouvir o hino em Toronto. Com os treinos supervisionados em Natal e períodos de concentração com a Seleção em Uberlândia, ele tem a meta de chegar ao Rio levantando 220kg.
"É o peso para que ele possa, de fato, ter chances de brigar por medalhas", afirmou Valdecir Lopes. "Nos treinos já estou em 205kg, 210kg. Espero fechar o ano com 215kg e correr atrás da meta", disse Joseano.
Baleado
Policial militar baleado numa troca de tiros numa fuga de penitenciária em 4 de novembro de 2000, ele ficou sem os movimentos das pernas. Durante a reabilitação, encontrou a natação num clube em Natal, mas, com o porte físico apropriado, foi convidado em 2005 para testar o halterofilismo. Gostou e em 2007 já estava no Parapan do Rio. "Lá ainda era inexperiente. Queimei os três levantamentos e fui eliminado. Cheguei a pensar em largar, mas valeu a insistência", celebrou, com o ouro e o mascote Patchi em mãos.
Outro brasileiro que subiu ao pódio no último dia de competições foi Rodrigo Rosa de Carvalho, bronze na categoria até 88kg. O ouro ficou com com o cubano Jesus Drake Vega e a prata com o venezuelano Cesar Campo.
Outros monstros
Para os Jogos Rio 2016, as grandes potências a serem batidas, tanto por brasileiros quanto por mexicanos, são o atletas da China, da Nigéria e do Egito. "Eles têm caras de ponta em praticamente todas as categorias. Mas nós estamos na cola", afirmou Valdecir. Um dos caminhos para possibilitar um pódio que seria inédito no Rio, segundo o treinador, tem sido a consolidação de uma rede de treinamento em vários pontos do Brasil. "Temos estruturas no Rio Grande do Norte, no Amazonas, em Santa Catarina, em Minas Gerais e três em São Paulo. São locais montados para recrutamento e formação de atletas, da base ao profissional", explicou Valdecir.
O modelo mexicano, por sua vez, é de intensidade variável de acordo com os eventos no horizonte, explica Castillo Castillo. "Às vezes treinamos de segunda a sábado, às vezes de segunda a sexta. Em algumas ocasiões é necessário treinar em sábados e domingos. São sessões extenuantes de duas, três horas", conta o atleta, orgulhoso da trilha que percorreu. "Veja só: há 15 anos eu estava em casa quando vi pela televisão atletas do México se destacando nessa modalidade nos Jogos de Sydney, na Austrália. Vi e pensei. Quero fazer igual", disse. Hoje, tricampeão dos Jogos Parapan-Americanos, ele cumpre esse papel de referência e já pensa no Brasil. "O Rio me encanta. Estive três vezes lá e ganhei competições. Gosto demais. Espero que vá bem em 2016 e consiga trazer um melhor resultado nos Jogos Paralímpicos".
Investimentos e regras
O Ministério do Esporte tem dois convênios vigentes com o Comitê Paralímpico Brasileiros. Juntos, eles somam R$ 40 milhões e têm impacto tanto na viabilização da preparação da delegação brasileira para o Parapan como na estruturação das modalidades, com equipamentos e locais de treinamento. Individualmente, entre os 15 convocados do halterofilismo em Toronto, 11 são contemplados com a Bolsa Atleta e uma, Márcia Menezes, é beneficiada pela Bolsa Pódio.
A modalidade reúne diferentes tipos de deficiência em uma mesma disputa. O halterofilismo é o único esporte do programa em que os atletas são categorizados pelo peso corporal. Podem competir atletas com nanismo (anões), amputação, deficiência em membros inferiores, lesão na medula espinhal ou paralisia cerebral.
Deitados em um banco, eles precisam realizar o movimento do supino: primeiro, devem segurar a barra, com os braços esticados. Então, precisam flexionar os braços e descer a barra até a altura do peito, antes de erguê-la novamente para a posição inicial. Há três chances para executar o movimento, sendo validado o maior dos pesos.
Gustavo Cunha, de Toronto - brasil2016.gov.br