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Atletismo

28/02/2016 16h09

Atletismo

No "resta um" do evento-teste da marcha, sobraram os equatorianos

Percurso e aparatos tecnológicos tiveram aprovação de atletas e organizadores. Calor beirou os 40º graus e fez com que só sete dos 18 que largaram chegassem ao fim dos 50km. Pódio foi 100% do Equador

Se o olhar do espanhol Luis Saladie pudesse se restringir ao que ele viu neste domingo no âmbito técnico e estético do evento-teste da marcha atlética, o relatório dele como delegado-chefe da Federação Internacional de Atletismo seria estritamente racional. O gradeamento poderia sair de dentro do circuito por onde correm os atletas para cima dos paralelepípedos. Assim, árbitros e atletas teriam mais espaço e os jornalistas, uma vista mais limpa para fotos e vídeo. Em outra frente, o espaço de técnicos, profissionais de imprensa e convidados seria melhor definido. 

A impressão final dele, contudo, tem como ingrediente um componente medido em umidade e graus Célsius: o calor do Verão do Rio de Janeiro fez com que 11 dos 18 atletas que largaram para os 50km abandonassem a prova. "Estamos no verão. Em agosto, na época dos Jogos, vai ser muito menor a temperatura. Tem de ser menor”, afirmou, em tom de brincadeira, Saladie. 

Neste domingo, o pódio foi integralmente equatoriano, com Claudio Flores em primeiro, seguido por Rolando Pani e Jonnathan Cabrera. “Cumpri o objetivo, que era ganhar a prova, mas realmente o calor foi um adversário importante. Já tenho a marca para a Olimpíada e quero estar aqui de novo nos Jogos”, disse Flores, que treina ao lado dos colegas na altitude de 2.550m de Cuenca.

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Uma dimensão da influência do clima na modalidade se reflete no tempo. Flores tem como melhor marca pessoal 3h50min25s. No Rio, venceu com 4h23min37s. Segundo ele, mesmo estando na fase batizada de base, em que não se espera performances significativas, meia hora acima do melhor atingido é "significativo". E isso porque a prova teve início cedinho, às 6h30. Nas Olimpíadas Rio 2016, o horário definido pela organização é 8h30 para a largada dos 50km e 14h30 para os 20km. 



Gradeamento e piso

Fora a temperatura, que também teve o efeito de tirar da prova os sete brasileiros que largaram, os testes foram considerados bem sucedidos. “Claro que há algumas coisas por fazer, o que é normal, já que faltam cinco meses, mas está tudo na linha do que se propõe. O piso está ótimo, perfeito. Eu só gostaria que a pista fosse um pouco mais larga, porque o evento-teste teve 18 atletas, e na Olimpíada serão 60”, disse Saladie.  

“Vamos afastar um pouco as grades para aumentar o espaço na pista. Se tiro da parte interna e coloco acima da calçada, automaticamente amplia a sensação de abertura. Visualmente fica melhor, mais limpo”, afirmou Martinho dos Santos Nobre, gerente de atletismo do Comitê Rio 2016. “E o circuito, que era o mais importante, foi aprovado pelos atletas. Disseram que é plano, rápido, sem inclinação. Muito bom para eles”, completou.   

De fato, o trajeto rendeu elogios desde sábado, quando foi disputada a prova de 20km da Copa Brasil. Sem oscilações, foi considerado técnico e adequado. “É tranquilo. Bom mesmo. Não tem muita subida e descida. Na Olimpíada vai ser bom”, afirmou Claudio Richardson dos Santos, que abandonou a prova deste domingo na metade do trajeto. “Estava desgastante. Perdi ritmo, levei duas advertências dos árbitros (com três o atleta é eliminado) e preferi parar. Tem outra oportunidade na Eslováquia, dia 19, e quero estar bem”. 

 O índice olímpico dos 50km é de 4h06min. Por enquanto, só Caio Bonfim e Mario José dos Santos Jr. chegaram lá. Cada país pode correr com até três integrantes.  A data limite para alcançar o tempo é 8 de maio. O mineiro Rudney Dias Nogueira, que neste domingo deixou a prova sentindo problemas estomacais, pretende estar lá. “Hoje não foi o que a gente planejou, mas agora é descansar porque mês que vem tem competição na Europa. Vou tentar lá”, avisou. 

Chips e placares

Na face tecnológica, a prova serviu para avaliar o funcionamento de cronômetros, placares eletrônicos, chips nos tênis dos atletas que registram o tempo e o número de voltas completadas e o sistema de transmissão de dados. “Toda essa parte de tecnologia e de transmissão das faltas funcionou perfeitamente. Podemos dizer que foi um sucesso”, disse Martinho Nobre dos Santos, gerente de atletismo do Comitê Rio 2016.

Deu praia, não público

A convidativa paisagem da praia do Pontal somada ao calor encheu a areia de gente e atraiu para a prova da marcha alguns olhares curiosos, ainda que breves. Virados após um lual que teve início na noite anterior, o casal Daniel Pires e Teresa Cristina resolveu dar um tempo na areia para chegar ao gradeamento da prova e dar uma força aos atletas. “O que esses caras fazem é o máximo. Muito legal. São muito guerreiros. Não é para qualquer um”, disse Daniel, morador de Santíssimo, na Zona Oeste do Rio. “Como é de graça, estamos pensando em vir também nas Olimpíadas dar uma força aos brasileiros”, completou Teresa. 

Gustavo Cunha - Brasil2016.gov.br