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Geral

10/11/2018 17h11

Madri 2018

No detalhe, Vinicius Figueira é superado por francês e fica com a prata no Mundial

Final da categoria -67kg do caratê foi vencida por Steven Acosta por 6 x 5, numa das melhores lutas da fase final do campeonato na Espanha. No paralímpico, Débora Knihs leva a prata

Vinicius Figueira esteve duas vezes com o gostinho do ouro durante a final do Mundial da categoria -67kg do caratê. Logo no início do combate contra o francês Steven Acosta, quinto do ranking mundial, o brasileiro acertou um chute alto e abriu 3 x 0 no placar. O europeu, contudo, estava num dia inspirado. Conseguiu na sequência desequilibrar o brasileiro com os pés e pontuar com Vinicius no chão: 3 x 3. O paranaense de Londrina não se abalou. Mediu a distância e acertou um chute preciso no tronco do rival: 5 x 3. E parecia conduzir a decisão de forma consistente, numa estratégia bem pensada. Isso até ocorrer um clinch, um momento em que os dois se "enroscaram". Na saída, Acosta apertou o quimono de Vinicius na região do ombro e conseguiu um belo golpe de calcanhar na cabeça do brasileiro. Na matemática simples, dois golpes para cada lado. Mas os dois do francês valiam três pontos: 6 x 5, fim de luta e ouro para a França.

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Vinicius durante a final contra Steven Acosta, da França. Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br
 "Eu projetei o corpo para frente para evitar o chute. Sei que ele tem a perna boa, mas ele teve a habilidade de fazer o gancho com a perna e acertar a minha cabeça. Foi uma luta de alto nível"
Vinicius Figueira

"Vim para ser campeão do mundo, mas infelizmente não consegui. Saio daqui com a prata, que não é um mau resultado. Agora é seguir trabalhando. De qualquer forma, a competição é importante, vale muitos pontos no ranking olímpico", comentou o carateca brasileiro, antes de avaliar os detalhes do lance decisivo. "Eu projetei o corpo para frente para evitar o chute. Sei que ele tem a perna boa, mas ele teve a habilidade de fazer o gancho com a perna e acertar a minha cabeça. Foi uma luta de alto nível", comentou.

"O que posso dizer é que foi a melhor luta do dia. Espetacular mesmo. São dois atletas com vontade de fazer um espetáculo ali em cima, com alegria, emoção. A torcida adorou porque esse é o caratê que a gente quer ver. É o caratê que a gente espera na Olimpíada", afirmou Ricardo Aguiar, técnico da seleção brasileira. "O importante é que ele sai de cabeça erguida, com a certeza de que fez um belo trabalho, uma bela preparação, com ajuda da confederação, do COB, do Ministério do Esporte. Tudo o que essas três instituições fizeram está refletido aqui", completou o treinador.

Segundo colocado no ranking mundial e com a modalidade incluída no programa olímpico, Vinicius passou a integrar o Bolsa Pódio, categoria mais alta da Bolsa Atleta, em 2018. Aos 27 anos, ele chegou à segunda medalha em três mundiais disputados. Além da prata em Madri, foi bronze na edição de Bremen, na Alemanha, em 2014. O brasileiro ainda esteve na disputa do pódio em Linz, na Áustria, em 2016, mas acabou com a quinta posição.

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Medalha de prata veio com seis vitórias em sete lutas no individual. Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br
"O importante é que ele sai de cabeça erguida, com a certeza de que fez um belo trabalho, uma bela preparação, com ajuda da confederação, do COB, do Ministério do Esporte"
Ricardo Aguiar, técnico de Vinicius

Caminho da consistência

Ao todo, Vinicius fez sete lutas na chave individual. Venceu seis e só caiu na decisão. No caminho, superou dois adversários do top 20 mundial de quem tinha perdido recentemente. "Eu havia perdido do húngaro (Martial Tadissi, a quem venceu por 4 x 0) um mês atrás, no Japão. Ele foi vice-campeão no último Mundial. Para o cara da Jordânia (Abdel Almasatfa, a quem superou por 1 x 0 nas quartas de final), eu tinha perdido numa decisão no Chile. O atleta do Egito (Ali Elsawy, batido por 2 x 1 nas oitavas) também é muito bom. Então, estrategicamente e taticamente, consegui vitórias em cima de bons atletas", comentou.

Vinicius deve abrir boa frente na competição por uma das dez vagas olímpica na categoria unificada (-60kg e -67kg) nos Jogos do Japão e tem boas chances de assumir a liderança do ranking da -67kg. O Mundial de Madri é a competição que mais pontos soma no ciclo até Tóquio. A pontuação obtida na Espanha tem fator 12. Nas etapas da Premiere League, segunda competição de maior validade, o peso é 6.

Antes da decisão do ouro, Chile e Irã ficaram com os bronze na categoria até 67kg. Camilo Velozo lutou pela medalha contra Abdel Almasatfa, da Jordânia. O sul-americano, derrotado por Vinicius na semifinal, levou a melhor e subiu ao pódio: 3 x 2 na decisão dos árbitros, após empate em 2 x 2 durante a luta. A outra disputa de bronze reuniu o espanhol Raúl Cuerva e H. Derafshipour, do Irã. O atleta da casa foi derrotado nos últimos segundos. O combate estava 3 x 3 e acabou 6 x 3 para o iraniano, que encaixou um chute na cabeça do rival no fim da luta.

 

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Paula Gomes teve apresentação convincente, mas faltou um décimo para chegar ao bronze. Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br

Paralímpicos "na trave"

O Brasil ainda esteve presente em duas disputas de medalhas da categoria para deficientes visuais do paracaratê. Primeiro, a mineira Paula Gomes competiu pelo bronze contra a russa Alexandra Meteleva. Paula fez um kata limpo, sem deslizes ou faltas, e com dois saltos acrobáticos que renderam palmas efusivas da torcida no Wizink Center. A russa fez uma apresentação mais conservadora, mas como se apresentou vendada, teve três pontos de bonificação, contra um da brasileira. Na soma, mesmo com Paula tendo notas melhores, a russa levou a melhor no somatório: 43.4 pontos contra 43.3.

"Fiz tudo o que podia. Fiquei feliz. É uma experiência que nunca vou esquecer. Nasci e vivo numa cidade bem pequena, que não tem academias que se destaquem"
Paula Gomes

"Eu achei incrível a minha participação. Fiz tudo o que podia. Fiquei feliz. É uma experiência que nunca vou esquecer. Nasci e vivo numa cidade bem pequena, que não tem academias que se destaquem, então foi tudo porque fui atrás, tive pessoas que me ajudaram, fui dedicada, esforçada e o resultado veio", disse a brasileira, natural de Carmo do Paranaíba.

Paula tem 8% da visão em um dos olhos e 15% no outro em função de uma doença degenerativa atualmente controlada que afeta a retina. Para as próximas competições, ela e o técnico Ariel Longo, da seleção brasileira, pretendem avaliar se é o caso de fazer o kata com os olhos vendados, para evitar perder pontos diante das adversárias em função da classificação funcional.

"A Paula fez um kata mais difícil, com dois saltos, não se desequilibrou, encaixou tudo e o público reagiu super bem, mas o resultado, com a soma dos bônus, foi favorável à rival. A partir de agora, estamos pensando em adotar a estratégia do kata com venda. Ela já fez isso antes e desempenha bem. De repente, vai ser uma opção para se equiparar às outras atletas e buscar a pontuação necessária para chegar ao pódios", afirmou o treinador.

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Débora Knihs subiu um degrau no Mundial. Bronze em 2016, foi prata em 2018. Foto: Abelardo Mendes Jr/rededoesporte.gov.br

Um degrau acima

Débora Knihs sabia que tinha um desafio complicado na final contra a alemã Helga Balkie, dona do título mundial em 2016. Se a brasileira nascida em Brusque (SC) vai completar quatro anos de treinamento em 2019, a europeia tem mais de 15 anos como carateca. As duas, com comprometimento total da visão, tiveram performances similares. Débora, no entanto, perdeu um pouco da orientação espacial ao longo da sequência de diagramas. Encerrou a apresentação pela lateral do tatame, e não por onde havia começado.

Com isso, na avaliação dos árbitros, melhor para Balkie, que somou 44,9 pontos, contra 43,1 da brasileira. Bronze no Mundial de 2016, na Áustria, Débora subiu um degrau, mas o choro "de raiva" ao fim do campeonato mostra que ela está longe de se sentir acomodada.

"Pelo barulho da arquibancada eu cheguei a pensar que tivesse ganhado, mas preciso treinar mais. Segundo lugar é um degrau importante, mas eu estava aqui para pegar o primeiro. Vou treinar muito mais", avisou a brasileira.

Na avaliação do técnico de Débora, Valmir Zuza, é hora de aceitar o resultado, mas não de se conformar. "Achei que a campeã mereceu. Fez o kata e voltou no lugar certo. Tecnicamente ela tem menos qualidades do que a Débora, mas a Débora se perdeu um pouquinho no caminho. Isso influenciou bastante", comentou Zuza.

Um dos limitadores do kata de Débora foi ela ter sentido uma contusão no joelho ao longo da preparação. Isso fez com que optasse por uma sequência sem saltos, com menos potencial de "chamar nota". "Agora voltamos empolgados em treinar com ainda mais foco, em fazer com que ela se torne mais forte, concentrada e trata novos elementos ao kata", disse Zuza.

Infográfico - Mundial de Caratê Madri 2018

Galeria do Mundial de Caratê no Flickr do Ministério do Esporte: imagens disponíveis em alta resolução para uso editorial gratuito (crédito obrigatório: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br)

Mundial de Caratê Madri 2018

Gustavo Cunha, de Madri, na Espanha - rededoesporte.gov.br