Boxe
Buenos Aires 2018
No boxe, Keno Marley Machado conquista o primeiro ouro do Brasil na Argentina
Demorou, mas o primeiro ouro do Brasil nos Jogos Olímpicos da Juventude saiu nesta quarta-feira (17.10), penúltimo dia de competições em Buenos Aires, das mãos de Keno Marley Machado, um garoto tímido do Recôncavo Baiano, apaixonado por meias estampadas e cujo nome homenageia o cantor de reggae jamaicano. Ele venceu o argelino Farid Duibi na final da categoria até 75kg do boxe por decisão unânime dos juízes e se emocionou ao ouvir o hino brasileiro do lugar mais alto do pódio.
"Eu não sei expressar esse momento agora, estou muito feliz e estou expressando assim", explicou o menino de 18 anos ao ser perguntado se a aparente tranquilidade era sinal de que a conquista foi mais fácil do que ele esperava. A luta de Keno foi uma "aula de boxe", nas palavras do treinador Mateus Alves. Desde o primeiro assalto, o menino mostrou que não deixaria o ouro escapar. Tanto que no fim os cinco juízes deram a vitória ao brasileiro nos três rounds. Uma conquista inquestionável.
"Eu consegui colocar todas as minhas qualidades técnicas e táticas que venho desenvolvendo e foi muito legal, consegui fazer todo o trabalho que queria", analisou Keno. Mas o tremor nas mãos, as palavras que fugiam na hora de responder as perguntas e o sorriso que não saía do rosto depois da conquista revelavam a emoção que o garoto estava sentindo ao sentir a medalha de ouro junto ao peito.
"Eu consegui colocar todas as minhas qualidades técnicas e táticas que venho desenvolvendo e foi muito legal, consegui fazer todo o trabalho que eu queria"
Keno Marley
Nascido em Conceição do Almeida - cidade de pouco mais de 18 mil habitantes a 160 quilômetros de Salvador -, Keno começou cedo no boxe. Aos 12 anos, seu talento já foi reconhecido por um treinador que o levou para São Paulo. A partir daí, as conquistas do garoto o colocaram no banco de dados que a Confederação Brasileira de Boxe criou em 2016, de olho no Mundial juvenil e nos Jogos da Juventude, em 2018.
No Mundial, em agosto, na Hungria, Keno viu a medalha escapar ao perder para o russo Danil Teterev, uma de suas poucas derrotas na carreira: seu cartel é de 56 lutas e apenas quatro revezes. "Essa derrota foi triste, mas serviu para eu treinar muito mais e ajustar tudo o que errei. Todos me deram apoio também para aquela derrota ser algo normal, que passou". Dois meses depois, o esforço deu resultado. "Não é que foi fácil, mas, graças ao trabalho, eu fiz se tornar fácil de uma certa forma. Era um sonho, se tornou objetivo e agora realidade", comemorou.
Depois de conquistar o ouro em Buenos Aires, ele fez questão de agradecer a todos que o ajudaram durante toda a trajetória. "Aqui na torcida tinha pessoas que considero minha família, o pessoal do Time Brasil, a Isabela, que considero como mãe, está aqui. Todos os meus colegas de treino estavam assistindo juntos. Quem não estava aqui estava assistindo lá no Brasil. Todos me ajudaram de alguma forma e quero agradecer", contou.
Agora, a próxima meta é chegar a Tóquio 2020. "Estou treinando duro e não vou parar de treinar para chegar a Tóquio", garantiu Keno Marley, batizado assim graças ao irmão. "Meu irmão gostava muito de Bob Marley e deu a ideia para a minha mãe, que achou legal. Hoje também gosto", disse o garoto, revelando também um gosto peculiar para meias. "Eu gosto de usar meias diferentes, com estampas de banana, hambúrguer. Hoje usei uma meia com smiles. Não é que dá sorte, porque é o trabalho que dá resultado, mas eu gosto bastante dessas meias", divertiu-se.
Balanço positivo
A medalha de ouro de Keno também foi bastante comemorada pelo técnico Mateus Alves. "A gente esperava a medalha dele no Mundial já, porque ele é um atleta muito talentoso. Ele tem muito talento desde pequeno. Ano que vem ele vira adulto e esse desenvolvimento tem que ser feito com calma. A gente já teve um campeão dos Jogos da Juventude, o David (Lourenço), e vamos ter paciência, mas o Keno é um grande nome do boxe brasileiro", disse o treinador.
"Ele tem muito talento desde pequeno. Ano que vem vira adulto e esse desenvolvimento tem que ser feito com calma. Vamos ter paciência, mas o Keno é um grande nome do boxe brasileiro"
Mateus Alves, técnico
Mateus também fez questão de valorizar o trabalho de base no boxe do Brasil. "Nós da Confederação só colocamos em prática o que os treinadores da base, os caras que vivem o boxe, dão a vida pelo boxe, encontram. A gente pega a pedra bruta e dá a oportunidade de desenvolver com a estrurutra que a gente oferece. É muito gratificante, porque vale a pena", completou.
O chefe da missão brasileira nos Jogos da Juventude, Sebastian Pereira, que estava na torcida por Keno ao lado de atletas e técnicos do Time Brasil, também festejou o primeiro ouro do Brasil na competição. "O boxe é uma modalidade tradicional em resultados, então a gente tinha expectativa, e trazer duas medalhas justificou isso. Um ouro e um bronze é para comprovar o bom trabalho que tem sido feito", falou.
Para chegar à decisão, o atleta brasileiro também venceu de forma incontestável, com decisão unânime, o tailandês Weerapon Jongjoho (10/9, 10/9 e 10/9), na semifinal.
A luta de estreia de Keno acabou vencida por W.O. O adversário seria o italiano Naichel Millas, que acabou desclassificado depois de fazer gestos obscenos para os juízes após a derrota para o tailandês Weerapon Jongjoho.
Mais cedo, o Brasil conquistou outra medalha no boxe. Luiz de Oliveira foi bronze na categoria até 52kg. Na decisão da medalha, ele superou o irlandês Dean Patrick Clancy por decisão unânime dos juízes. Luiz é neto de Servílio de Oliveira, primeiro brasileiro a conquistar uma medalha olímpica na modalidade, justamente um bronze, nos Jogos do México, em 1968, há 50 anos.
Mateus Baeta, de Buenos Aires, na Argentina - rededoesporte.gov.br