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Atletismo

04/06/2016 12h28

Boxe

Muhammad Ali: o mundo perde um atleta que transcendeu o esporte

Campeão olímpico em Roma 1960 ao 18 anos e três vezes campeão mundial, ele desafiou as convenções de seu tempo e se tornou um ícone que extrapolou as fronteiras dos ringues

O pugilista norte-americano Muhammad Ali morreu nesta sexta-feira (3.6), aos 74 anos. Ele lutava contra a doença de Parkinson e foi internado na última terça-feira (31.5), quando apresentou problemas respiratórios em sua residência, na cidade de Phoenix, no Arizona. O anúncio da morte foi feito pela família, em um comunicado.

Nascido Cassius Marcellus Clay Jr. em Louisville, Kentucky, no dia 17 de janeiro de 1942, Muhammad Ali, que trocou o nome ao se converter à religião muçulmana, começou a lutar boxe quando tinha 12 anos. Dono de um talento precoce, conquistou a medalha de ouro olímpica aos 18 anos, nos Jogos de Roma, em 1960, ao vencer o polonês Zbigniew Pietrzykowski na final da categoria meio-pesado. Dono de um estilo inconfundível de lutar, ele resumiu assim suas performances nos ringues que o elevaram à condição de ídolo no esporte: "Voe como uma borboleta, ferroe como uma abelha".

Muhammad Ali, no acendimento da pira olímpica, na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996. Foto: Getty Images

Orgulhoso pela conquista em Roma, Ali, que ainda chamava-se Cassius Marcellus à época, viveu um episódio que acentuou ainda mais suas posições na luta pelos direitos dos negros. Recebido com festa como campeão olímpico, ele contou, em sua biografia, que resolveu pedir uma refeição em um restaurante repleto de clientes brancos. O funcionário, entretanto, negou-se a atendê-lo alegando que eles não serviam negros naquele estabelecimento. Ali tentou argumentar, explicou que era um campeão olímpico, que havia lutado e vencido por seu país, mas as palavras foram em vão e ele não pôde fazer sua refeição. Indignado, o boxeador, então, desfez-se de sua medalha ao atirá-la no Rio Ohio.

O reconhecimento, não só pelo triunfo nos Jogos Olímpicos de Roma 1960, mas por toda a brilhante carreira, viria 36 anos depois, Nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, Muhammad Ali, além de ter sido o escolhido para acender a pira olímpica na cerimônia de abertura, em uma cena que se tornou memorável e que foi acompanhada por bilhões de pessoas, foi presenteado com uma réplica da medalha dourada atirada no rio em protesto contra o racismo.

Desde o início, Muhammad Ali mostrou-se ser dono de grande oratória. A habilidade com as palavras ficou ainda mais forte conforme a carrreira se desenvolveu. Essa foi uma das marcas que ele carregou por toda a vida.

Em 1972, em ação em um duelo na Irlanda. Foto: Getty Images

Dentro do ringue, foi avassalador. Em 1964, tornou-se campeão mundial dos pesos pesados ao derrotar Sonny Liston, em Miami. Pouco depois, trocou a Igreja Batista, na qual havia sido batizado, pelo Islamismo. Assumiu o nome de Muhammad Ali. Três anos e oito defesas do título mundial mais tarde, Ali foi convocado para servir o exército dos Estados Unidos e lutar na Guerra do Vietnã. A recusa foi resumida da seguinte maneira pelo pugilista, em uma atitude que teria sérias repercussões para ele: "Nenhum vietnamita jamais me chamou de crioulo".

Por ter se recusado a servir o exército norte-americano, Ali perdeu o cinturão de campeão mundial, foi suspenso do boxe e passou a conviver com o risco de ser preso. Ainda não estava totalmente livre da Justiça quando retornou aos ringues. Na terceira luta pós-suspensão, foi derrotado por Joe Frazier, em 1971, num combate memorável em Nova York que se estendeu até o 15º round e foi decidido pelos juízes.

Depois disso, triunfou em algumas lutas até a revanche contra Frazier antes de voltar ao ringue para novamente desafiar o campeão mundial George Foreman e ter a chance de voltar ao topo do boxe.

Com a filha Laila Ali. Foto: Getty Images

O duelo contra Foreman é um dos mais espetaculares e marcantes da história do boxe. Em 30 de outubro de 1974, os dois se encontraram na cidade de Kinshasa, a capital Zaire, país que hoje se chama República Democrática do Congo. Castigado durante quase todo o combate, mas sempre apoiado pela enorme torcida africana, Ali manteve-se firme até que, no oitavo round aplicou um golpe de enorme potência e levou Foreman ao chão, vencendo a chamada "Luta do Século", como ficou conhecido o duelo.

Outro episódio memorável dentro do ringue se deu em 1975, quando voltou a enfrentar e vencer Joe Frazier, desta vez nas Filipinas, em uma luta chamada de Thrilla in Manilla.

Em 1978, Ali sofreu um duro revés e perdeu o cinturão de campeão mundial para Leon Spinks. Entretanto, poucos meses depois, diante do mesmo rival, ele o recuperou, tornando-se campeão mundial pela terceira vez. Depois disso, anunciou a aposentadoria em 1979, mas ainda retornaria aos ringues para mais dois combates nos quais não teria sucesso: contra Larry Holmes, em 1980; e Trevor Berbick, em 1981.

Imortalizado com uma estátua. Foto: Getty Images

Aposentado, Ali se viu diante de um novo e implacável rival no início dos anos 1980: o Mal de Parkinson, doença que ele revelou ser portador em 1984. Daí em diante, buscou usar sua fama e prestígio para ajudar nas pesquisas e seguir disseminando seus ideais pacifistas e de igualdade entre os homens.

Eleito o "Atleta do Século" pela revista americana Sports Illustrated em 1999, Ali encantou o mundo como boxeador e foi ídolo de uma geração por tudo o que representou fora dos ringues. Sua morte foi assunto em todo o planeta e o Comitê Olímpico Internacional (COI), através do presidente Thomas Bach, lamentou a perda de Muhammad Ali, cuja incrível vida foi retratada em inúmeros livros, filmes e documentários.

"A notícia da morte de Muhammad Ali afetou demais a mim e ao Movimento Olímpico. Nossos pensamentos estão com a família dele. Ele foi um atleta que tocou os corações de pessoas em todo o planeta, um atleta engajado além do esporte, um atleta que teve a coragem de dar esperança a muitos doentes ao acender a pira Olímpica sem esconder suas aflições. Ele foi um atleta que lutou por paz e tolerância - foi um verdadeiro atleta Olímpico. Conhecê-lo em pessoa foi inspirador. Ele foi um homem ao mesmo tempo orgulhoso e humilde. Tanto quanto sempre lembraremos dele"

Foto: reprodução

Grandes personalidades do esporte, como o ex-boxeador e campeão mundial Mike Tyson, e a lenda do futebol Pelé também lamentaram a perda de Ali. "Deus veio para seu campeão. Até logo, maior de todos", escreveu Tyson. "O universo do esporte sofre uma grande perda. Muhammad Ali era meu amigo, meu ídolo, meu herói. Passamos muitos momentos juntos e sempre mantivemos contatos esses anos. A tristeza é enorme. Desejo que ele descanse junto a Deus e amor e força à sua familia", escreveu Pelé.

Outro que expressou sua tristeza foi o maior medalhista da história dos Jogos Olímpicos: o nadador Michael Phelps, dono de 19 pódios olímpicos, com direito a oito medalhas de ouro nos Jogos de Pequim, em 2008, afirmou, pelas redes sociais, que o mundo perdeu hoje "o maior de todos. Ele foi uma inspiração para muitos, para mim inclusive". 

brasil2016.gov.br, com informações do Rio 2016