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Judô

29/07/2021 11h51

TÓQUIO 2021

Mayra garante terceiro bronze olímpico da carreira e faz história no judô

Gaúcha é a primeira mulher brasileira a conquistar três medalhas de Jogos Olímpicos em modalidades individuais

Londres 2012, Rio 2016 e, agora, Tóquio 2020: são três medalhas, um bronze em cada edição dos últimos três Jogos Olímpicos. Escrito assim, o caminho vitorioso de Mayra Aguiar parece uma linha reta, sem percalços. Mas só a judoca gaúcha sabe as dificuldades que enfrentou para voltar a subir no pódio.

Quando recebeu a medalha de bronze da categoria até 78kg do judô, nesta quinta (29.07), Mayra lembrou de todo o caminho trilhado e de todos que a ajudaram a chegar até ali. “Acho que é a maior conquista que eu já tive em toda minha carreira. Por tudo que aconteceu, tudo que eu vivi, hoje eu poder estar com isso concretizado é muito gostoso, é muito bom”.

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Foto: Breno Barros/rededoesporte.gov.br

Só de estar competindo no Nippon Budokan, templo das artes marciais, no Japão, terra natal do esporte que pratica, e durante uma Olimpíada, já era uma vitória para comemorar. Até a reta final para o torneio, ela não tinha certeza se conseguiria lutar. Em novembro do ano passado, Mayra precisou passar por cirurgia no ligamento cruzado anterior do joelho esquerdo. O procedimento, o sétimo de uma série de intervenções cirúrgicas, foi mais um obstáculo a ser superado, junto da pandemia.

“Foi muita coisa, eu acho que o principal foi realmente a pandemia. A cirurgia veio como aquele brinde extra ruim. Foi bem difícil mesmo. Quando parece que está tudo muito ruim, você pensa ‘Não tem como ficar pior’ e aí piora muito. Foi isso que eu vivi. Foi uma briga psicológica, de todos os dias, todos os momentos, desde a hora que eu me machuquei até o momento de hoje”, resumiu a judoca.

Recuperando-se da cirurgia, ela ficou meses sem competir e conta que precisou de muita ajuda para passar por tudo e seguir em frente. “A minha estrutura que eu tinha junto comigo me ajudou a poder passar por tudo isso. Meu clube, as pessoas que treinam comigo, minha família que me aguenta nos piores momentos, porque eu sou muito chata quando eu estou com dor, de dieta, fazendo loucuras para conseguir um treinamento. Essas pessoas que aguentaram tudo isso, que seguraram essa barra, eu dedico isso muito a elas, seria impossível isso tudo se eu não tivesse eles do meu lado”.

 

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Três vezes bronze: Londres, Rio e Tóquio. Foto: Breno Barros/rededoesporte.gov.br

Três pessoas e uma cachorrinha receberam menção especial.  “Minha irmã é fisioterapeuta, então nesse momento ela foi muito importante para mim. Abusei muito dela, coitadinha. Meu namorado também, que me aguentou de TPM, de dieta, de tudo, um ranço, e ele me aguentando, sério, não sei como aguenta. E minha mãe que em toda cirurgia, e foram sete cirurgias, estava lá comigo, segurando minha mão, me dando força, fazendo a comidinha dela. Então essas pessoas são muito importantes, todas elas eu quero colocar a medalha no peito e falar: ‘Vocês são medalhistas olímpicos também, porque eu não teria conseguido sem vocês’”, agradeceu.

Já a cachorrinha, a Belle, ajudou de outra maneira. “Essa cadelinha que eu adotei, eu pude fazer um bem para um ser. Eu estava na época da minha cirurgia, não podia fazer nada. Então poder cuidar de um animalzinho, ver alguém melhorando por minha causa me fez muito bem”, contou.

Com a terceira medalha de bronze, Mayra se tornou a primeira mulher brasileira a conquistar três medalhas olímpicas em uma modalidade individual. Fofão, do vôlei, também tem três. E vai parar por aí? Se depender de Mayra, não. “Ter passado por tudo isso me deu um gás para falar assim: ‘Por tudo que eu passei, dá para chegar mais longe’. São três anos (até Paris 2024), passa rápido, estou com muita gana e vocês podem me esperar lá que eu vou estar lá para buscar uma medalha”, prometeu.

O caminho até o pódio

Como cabeça de chave, Mayra entrou direto nas oitavas de final, para enfrentar a israelense Inbar Lanir, que antes havia derrotado Munkhtsetseg Otgon, da Mongólia. Mayra entrou no tatame já partindo para cima de Inbar e precisou de apenas 40 segundos para encaixar um ippon e despachar a adversária.

Nas quartas, a brasileira teve pela frente a alemã Anna-Maria Wagner, atual campeã mundial. A luta foi dura e acabou indo para o golden score. Pendurada com duas advertências contra apenas uma da adversária, Mayra arriscou mais, mas acabou tomando um contragolpe, levando um wazari e dando adeus à chance de chegar à final.

Na repescagem, Mayra enfrentou a russa Aleksandra Babintseva. Mayra nem precisou forçar muito, a russa tomou três punições e acabou desclassificada. Assim, a brasileira avançou para a disputa do bronze, contra a sul-coreana Hyunji Yoon.

Na luta que valeu a medalha de bronze, Mayra começou estudando a adversária, mas logo levou a coreana para o chão e conseguiu uma imobilização, que decretou a vitória brasileira. “Eu perdia muita luta no chão e hoje eu ganho uma medalha olímpica no chão. Ali eu falei: ‘Vou dar a vida aqui’”, contou a medalhista brasileira.   

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Foto: Breno Barros/rededoesporte.gov.br

Mais Brasil

O outro brasileiro que subiu no tatame do Budokan hoje foi Rafael Buzacarini, na categoria até 100kg. Ele enfrentou o belga Toma Nikiforov, mas não passou da primeira luta. O belga conseguiu um wazari e derrotou o brasileiro. “Sabia que ia ser uma luta difícil, eu já tinha enfrentado ele. Minha estratégia era deixar a luta seguir, deixar a luta ir longe. Eu tinha recursos, tinha físico, estava preparado para ir longe na luta. Até que ele estava cansando, eu senti ali, mas foi o único momento ali que acabei errando, e ele acertou um golpe. Queria sair com a medalha, mas acabei perdendo, mas tem mais uma Olimpíada aí”, resignou-se Rafael.

Nesta sexta-feira (30), mais dois brasileiros vão lutar: Rafael Silva, o Baby, na categoria acima de 100kg, e Maria Suelen Altheman, na categoria acima de 78kg. Ambos entram em ação já nas oitavas de final.

Recorde de medalhas

O judô é o esporte individual que mais rendeu medalhas ao Brasil na história dos Jogos Olímpicos. São 23, com quatro de ouro, três de prata e 16 de bronze. A delegação nacional tem 13 atletas na capital japonesa, seis no feminino e sete no masculino. Onze deles integram o Bolsa Atleta, programa de patrocínio individual do Governo Federal Brasileiro.

Dos 11 bolsistas, nove fazem parte da categoria Pódio, a principal do programa, voltada para atletas que se posicionam entre os 20 melhores do mundo em sua modalidade. No ciclo Rio–Tóquio, o judô brasileiro recebeu investimento direto, via Bolsa Atleta, de R$ 16,2 milhões. Os recursos representaram a concessão de 1.056 bolsas para praticantes do esporte.

Mateus Baeta, de Tóquio, no Japão – rededoesporte.gov.br