Tenis de mesa paralímpico
Lima 2019
Marliane eleva patamar técnico na hora certa e conquista vaga no Parapan na Classe 3
Sabe aquele papo meio Rocky, o Lutador, de "Olhos de Tigre"? Ou aquela expressão, com um quê de estereótipo, de "sangue nos olhos"? Pois é. Marliane Amaral dos Santos, de 27 anos, nunca teve facilidade natural em incorporar essas características. Mineira da pequena Comercinho, município de oito mil habitantes no norte do estado, ela foi criada em beira de rio. Jogava capoeira como atividade física. Uma origem distante do universo do alto rendimento.
Mas, diante das mesas usadas nos Jogos Paralímpicos Rio 2016, que equipam o CT Paralímpico de São Paulo, Marliane elevou a barra de seu patamar técnico. No primeiro dia da seletiva que define 23 nomes que vão representar o Brasil no Parapan de Lima, em 2019, a atleta chegou à final e superou a favorita Thais Severo, a quem nunca tinha vencido, por 3 sets a 1 (11/9, 6/11, 12/10 e 11/7). Conquistou a vaga da Classe 3 feminina para o megaevento continental que será disputado de 23 de agosto a 1 de setembro.
"Acho que eu não era tão competitiva quanto o tênis de mesa exige. Mas, de tanto as pessoas falarem que era preciso ter isso, vim mais preparada, focada"
Marliane Amaral
"Acho que eu não era tão competitiva quanto o tênis de mesa exige. Mas, de tanto as pessoas falarem que era preciso ter isso, vim mais preparada. Comecei a estudar jogos, a ter essa vontade a mais de pensar no futuro, nos meus objetivos. Vim focada", afirmou a atleta, caçula numa família com outros três irmãos.
"Antes eu conseguia ouvir o que estava à minha volta. Hoje, não. Não ouvi nada. Tentei colocar na mesa o meu jogo, o que sabia fazer. Deu certo. Foi a primeira vez que ganhei dela. Na semana passada, havia perdido de 3 x 0. Veio na hora exata. Ela é minha referência no Brasil, por isso é tudo meio surreal. Preciso processar o que ocorreu hoje", afirmou, em referência a Thais, que disputou os Jogos Rio 2016. Além de Marliane e Thais, disputaram a seletiva da Classe 3 feminina as atletas Cibele Morais, Alana Cardoso, Luciana Moura e Maria Laura de Freitas.
Esquistossomose
Marliane ficou paraplégica aos 15 anos. Um caso raríssimo de esquistossomose que evoluiu para lesão medular. Conheceu o tênis de mesa por acaso, em 2014, numa visita a um de seus irmãos em São Paulo. Uma gestora de esporte a convidou para conhecer a modalidade.
"Até então eu não sabia nem o que era. Não conhecia uma raquete. Mas gostei. Vim morar em São Paulo com meu irmão e passei a jogar. Um mês depois, fui federada. Disputei um Brasileiro. Comecei a evoluir. Este ano comecei a treinar aqui, no CT Paralímpico, e tive um crescimento grande", afirmou a atleta, que originalmente foi incluída na Classe 5, mas passou por reclassificação para a Classe 3 em 2017.
Moradora da região do Tatuapé, ela leva de 40 minutos a duas horas nos deslocamentos para treinar, de acordo com o trânsito. Não se importa. Só consegue pensar, agora, que tem objetivos pelos quais vale a pena incorporar de forma perene a sua face mais competitiva. "Penso em Tóquio desde já. Vou treinar bastante. Quero ficar bem em Lima. É meu objetivo", afirmou a atleta. Os campeões na chave individual nos Jogos Parapan-Americanos do Peru garantem vaga direta para os Jogos de Tóquio, em 2020.
Outras vagas
A seletiva no CT Paralímpico de São Paulo termina nesta terça-feira (11.12), com a definição das últimas cinco vagas "na mesa". Ao todo, 25 dos 34 postos para representar o país nos Jogos Parapan-Americanos de Lima já têm dono. Dezoito saíram dos confrontos desta segunda-feira. Outros sete atletas estavam pré-qualificados por critérios de ranking e de resultados internacionais. Para totalizar os 34 atletas, haverá quatro escolhas por índice técnico em 2019.
No tênis de mesa paralímpico, as classes de 1 a 5 são destinadas a cadeirantes. As classes de 6 a 10 são para atletas que jogam em pé. Quanto menor o número da classe, maior a limitação de movimentos do atleta. A classe 11 é para atletas com deficiência intelectual.
Confira os resultados das finais e os classificados nesta segunda-feira (10.12):
Feminino
Classe 2 – Carla Azevedo 3 x 0 Ana Paula Oliveira (11/2, 11/7, 11/6).
Classe 3 – Marliane Santos 3 x 1 Thais Severo (11/9, 6/11, 12/10 e 11/7).
Classe 4 – Joyce Quinzote – Classificada em grupo único
Classe 5 – Maria Luiza Passos 3 x 0 Raisa Silva (11/9, 12/10, 11/7).
Classe 6-7 – Aline Ferreira 3 x 2 Silvana Rodrigues (5/11, 12/10, 11/2, 8/11 e 11/6).
Classe 8-10 – Danielle Rauen 3 x 0 Lethícia Lacerda (11/4, 11/2, 11/3).
Classe 11 – Ana Paula Cordeiro classificada em grupo único.
Masculino
Classe 1 - Aloísio Lima – Classificado em grupo único
Classe 2 – Iranildo Espíndola 3 x 1 Guilherme Costa (11/5, 11/7, 6/11 e 11/8).
Classe 3 – Welder Knaf 3 x 0 David Freitas (11/4, 11/5 e 11/6).
Classe 4 – Alexandre Ank 3 x 1 Eziquiel Babes (9/11, 11/8, 11/6 e 12/10).
Classe 5 – Claudiomiro Segatto 3 x 0 Renato Santos (11/5, 11/5 e 11/7).
Classe 6 – Goutier Rodrigues 3 x 2 Luiz Henrique Medina (7/11, 11/9, 6/11, 11/7 e 11/9).
Classe 7 – Paulo Salmin 3 x 2 Israel Stroh (10/12, 11/9, 11/7, 8/11 e 11/8).
Classe 8 – Luiz Filipe Manara 3 x 0 Gustavo Laskosky (11/4, 11/3 e 11/6).
Classe 9 – Guilherme Ifanger 3 x 2 Erick Higa (12/14, 8/11, 17/15, 12/10 e 11/8).
Classe 10 – Carlos Carbinatti 3 x 1 Diego Moreira (11/7, 9/11, 11/6, 12/10).
Classe 11 – Lucas Hansen 3 x 1 Juliano Miranda (9/11, 11/6, 11/5 e 11/6).
Pré-Classificados:
Vice-campeã mundial
Cátia Oliveira (classe 2)
Quatro maiores pontuadores do ranking nacional adulto em 2018
Francisco Wellington (classe 8)
Claudio Massad (classe 10)
Conrado Contessi (classe 1)
Ecildo Lopes (classe 4)
Dois melhores no ranking Sub-18 na temporada
Millena França (classe 7)
Lucas Carvalho (classe 9)
Gustavo Cunha, de São Paulo - rededoesporte.gov.br