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29/01/2019 15h33

Caratê

Bronze de Jéssica Linhares é o destaque nacional na Premier League de Paris

Atleta de 21 anos foi a única entre os 13 atletas nacionais a subir ao pódio na França, na categoria até 50kg. Próxima etapa do circuito será nos Emirados Árabes, em fevereiro

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Jéssica com a sua primeira medalha em etapas da Premier League: bronze em Paris. Foto: Arquivo pessoal

Nem o atual vice-campeão mundial Vinicius Figueira, nem Douglas Brose ou Valéria Kumizaki, os outros medalhistas em mundiais no elenco de 13 atletas da Seleção em Paris. O grande destaque nacional na primeira das sete etapas da Premier League de Caratê foi a jovem Jéssica Linhares, de 21 anos e 55ª do ranking mundial. A atleta paulistana que vive em Praia Grande (SP) terminou com o bronze na competição disputada no último fim de semana na capital francesa, considerada por atletas e treinadores uma das mais importantes do circuito mundial.

"Foi a minha primeira vez no Open de Paris, que é bem tradicional, e confesso que estava nervosa, com um pouco de medo do tamanho. Ali estão as melhores do ranking. Não tem escapatória: toda luta tem de encarar como final", disse Jéssica. "Felizmente, quando começou a minha categoria, consegui ficar mais relaxada. Usei mais minha cabeça para lutar. E foi fluindo".

"Foi a minha primeira vez no Open de Paris, que é bem tradicional, e confesso que estava nervosa. Felizmente, quando começou a minha categoria, consegui ficar mais relaxada e foi fluindo"
Jéssica Linhares

Jéssica, assim como outros integrantes da seleção, passou por um período intenso de preparação para o evento. Primeiro, de 7 a 13 de janeiro no Centro de Treinamento do Time Brasil, no Parque Olímpico da Barra, no Rio de Janeiro. Na sequência, num intercâmbio em Roma, na Itália, de 17 a 23 de janeiro, ao lado de atletas de Itália, Irã, Cazaquistão e Noruega.

"Foram mais de duas semanas longe de casa. Puxado porque eram treinos fortes, duas vezes por dia, mas também foi importante para conhecer algumas adversárias que poderia enfrentar na competição em Paris", avaliou Jéssica, que teve um longo caminho no torneio. A chave na categoria -50kg reunia 64 atletas de 41 países. As lutas são em eliminatória simples. A única chance de uma segunda oportunidade na repescagem é se o atleta perder para um dos dois finalistas.

Jéssica estreou contra a holandesa Yamaika Kuyper e venceu por 6 x 1. Na sequência, encarou a grega Eirini-Christina Kavakopoulou, frequentadora assídua de pódios internacionais e 26ª do mundo. A luta foi apertada e terminou em 1 x 1. Como Jéssica abriu o marcador e quem marca o primeiro ponto leva vantagem nessa situação, ela seguiu em frente. Na sequência, combate aberto com Moldir Zhangbyrbay e vitória apertada por 6 x 5 sobre a atleta do Cazaquistão, número nove do ranking mundial.

Jéssica no Mundial da Espanha, em 2018: presença assídua na seleção brasileira desde 2011. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

No quarto confronto, a paulistana teve pela frente a japonesa Miho Miyahara, atual campeã mundial e líder do ranking para os Jogos de Tóquio, e acabou superada por 3 x 0. Como a asiática chegou à decisão, Jéssica teve chance de disputar a repescagem. E não desperdiçou. Eliminou a argentina Yamila Benitez, destaque usual em torneios continentais, por 2 x 1, e garantiu o bronze em vitória por 4 x 0 sobre a italiana Erminia Perfetto, 78ª do mundo. O ouro ficou com a turca Serap Arapoglu, que superou a japonesa Miyahara na final. O outro bronze foi para a alemã Shara Hubrich.

"Foi uma grata satisfação termos a medalha de bronze da Jéssica. Ela é uma atleta jovem e conseguiu lutar de forma consciente e consistente num torneio de nível de dificuldade altíssimo. Ganhou de grandes adversárias na categoria", avaliou Diego Spigolon, técnico da Seleção Brasileira.

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Balé, futsal, natação e caratê. O esporte faz parte da rotina de Jéssica desde os quatro anos. Foto: Abelardo Mendes Jr./rededoesporte.gov.br

Paixão de longa data

Jéssica tem o caratê como parte de seu cotidiano desde os quatro anos. Na Escola Celestin Freinet, na Baixada Santista, experimentou balé, futsal, natação e, claro, o caratê. Na medida em que foi crescendo, o interesse pela modalidade dos tatames ganhou espaço. E virou prioridade única a partir de 2011, quando conseguiu, aos 13 anos, a vaga na seleção, a classificação para o Pan da modalidade, disputado em Fortaleza, e conquistou o vice-campeonato.

De lá para cá, tem sido frequentadora assídua da seleção e também do Bolsa Atleta, programa da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Entre 2012 e 2015, integrou as categorias de esportes não olímpicos. A partir de 2018, já com a modalidade incluída no programa do megaevento esportivo, passou a fazer parte da categoria internacional. 

"É sempre um incentivo importante. Ajuda demais a poder disputar os torneios internacionais. Espero agora subir mais um degrau para tentar a Bolsa Pódio", disse, numa referência ao patamar mais alto da bolsa, voltado para atletas entre os 20 melhores do mundo e com chances de medalha em Jogos Olímpicos e Paralímpicos.

Aquém do potencial

A Bolsa Pódio, aliás, é realidade para Douglas, Valéria e Vinicius, o trio de atletas com mais chances de levar o caratê brasileiro aos Jogos de Tóquio. Em Paris, contudo, eles tiveram um fim de semana aquém do que gostariam. Atual vice-campeão mundial e segundo colocado no ranking que define os atletas que vão participar da estreia olímpica da modalidade, Vinicius Figueira foi eliminado na estreia da categoria -67kg pelo grego Dionysios Xenos, 17º do mundo, na decisão dos árbitros. "A luta ficou empatada, mas acabei perdendo na decisão da arbitragem por 3 x 2. Infelizmente o atleta grego perdeu na sequência e não pude disputar a repescagem", disse Vinicius.

"No todo, esperávamos um pouco mais. Como Douglas, Vinicius e Valéria são experientes e com histórico de medalhas em Liga e Mundial, a gente sempre espera muito deles"
Diego Spigolon, técnico da seleção brasileira

Douglas Brose viveu situação similar na categoria -60kg. Embora tenha passado bem pela primeira rodada, numa vitória sobre Emad Al Malki, da Arábia Saudita, por 4 x 1, foi eliminado na decisão da arbitragem na segunda rodada, após empate com Abdullah Shaabn, do Kwait. "Foi uma luta bem equilibrada, o que torna um pouco difícil apontar um erro ou outro que possa ter cometido, mas foi uma boa competição. Agora é acertar detalhes para os próximos eventos e conseguir melhores resultados", disse Brose. "O caratê tem uma certa inconstância. Não existe favorito. Você pode ganhar do melhor e perder do pior. Pode ser campeão mundial num dia e no outro perder na primeira luta. O que quero é, mesmo dentro disso, voltar a ter uma constância de pódios", disse Brose, que tem no currículo dois ouros, uma prata e um bronze em Mundiais.

Vice-campeã mundial em 2016, Valéria Kumizaki foi derrotada na estreia, pela egípcia Yassmin Attia, também na decisão dos árbitros, por 3 x 2. "Acho que lutei bem, mas perdi na bandeira dos árbitros. Fiquei triste por não ter passado, mas tudo bem. Agora ficamos aqui na França treinando com o pessoal do Japão e da França e depois vamos pra Dubai", disse Valéria, já numa referência à segunda etapa da Premier League, que será nos Emirados Árabes Unidos, entre 15 e 17 de fevereiro. As outras cinco ao longo do ano serão em Moscou (Rússia), Rabat (Marrocos), Tóquio (Japão), Madri (Espanha) e Xangai (China).

"No todo, esperávamos um pouco mais. Como Douglas, Vinicius e Valéria são experientes e com histórico de medalhas em Liga e Mundial, a gente sempre espera muito, mas é preciso reforçar que a Valéria saiu de uma lesão recente na mão e o Douglas ainda se recupera de uma lesão séria do ano passado. O Vinicius não passou por um grego que é bom atleta, mas de quem ele já ganhou em outras ocasiões. Espero que em Dubai tenhamos mais sucesso e consigamos progredir na chave. Vamos trabalhar para isso", disse Spigolon.

Gustavo Cunha, rededoesporte.gov.br