Volei de praia
DESPORTO ESCOLAR
Jovem atleta do vôlei de praia ganha ouro e homenageia irmão gêmeo que está na UTI
"Conquistamos o ouro como a melhor homenagem que poderíamos fazer pelo Ismael". A frase foi dita pelo jovem Federico Mieszkowski, de 15 anos, após uma difícil final de vôlei de praia contra a dupla que representava Angola nos Jogos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, que estão sendo disputados em São Tomé e Príncipe. Fred, como é apelidado, substituiu o parceiro e irmão gêmeo de Isac Adolfo nas areias da praia do Forte de São Sebastião, a mais velha construção do país insular na costa oeste da África.
"O título é para ele, com certeza. Estamos todos - os amigos e a família - torcendo pela recuperação do Ismael. Ele está internado na UTI há algumas semanas. Em abril, sofreu uma convulsão de repente e os exames não apontaram nada. Uma semana depois, teve mais uma e começou se esquecer das coisas", explica Isac, campeão mundial escolar de vôlei de praia no Taiti em 2017, na categoria sub-14, ao lado do irmão gêmeo. Antes, os paraibanos de João Pessoa haviam sido campeões brasileiros.
O quadro piorou em poucos dias e Ismael apresentou mais lapsos de memória, momentos de delírio e dificuldade na deglutição. Teve de ser internado e, desde então, permanece na UTI, com o diagnóstico de encefalite autoimune, uma inflamação no cérebro decorrente de uma reação do sistema imunológico às próprias células cerebrais.
A doença é rara, mas pode atingir pessoas de qualquer idade. O próximo tratamento ao qual Ismael passará chama-se plasmaferese, semelhante à hemodiálise. Um filtro remove o plasma do sangue e retira anticorpos e substâncias que podem estar causando a doença. Ao mesmo tempo, o paciente recebe plasma via transfusão. Assim, a medicação posterior pode tornar-se mais efetiva.
Nos Jogos da CPLP, Isac e Fred conseguiram a classificação em primeiro lugar na fase de grupos, ao baterem as duplas de Angola e Guiné Bissau. Na semifinal, a torcida local incentivou muito a dupla de São Tomé e Príncipe, tornando a partida bem mais difícil que inicialmente parecia. "Sofremos uma pressão, erramos mais que o normal, mas conseguimos superar", lembra Isac.
Cada sessão de plasmaferese custa aproximadamente R$ 4 mil e o número de sessões depende da resposta do organismo. A família só pôde marcar a primeira após uma campanha pela internet. Veja como participar
A decisão foi novamente contra Angola, que surpreendeu e bateu a dupla portuguesa na fase anterior. A vitória brasileira só veio no tie-break, com um apertado placar de 15/13. No pódio em São Tomé, Isac e Fred fizeram questão de levar a camisa de Ismael no momento da entrega das medalhas. "Foi uma honra substituir o Ismael. Desde o início, entrei na competição pensando que jogaria por ele. Não por mim, nem pelo Isac, mas pelo Ismael", conta Fred, argentino de nascimento, mas morador do Brasil desde bebê. "Agora, pedimos que todos rezem e mandem pensamentos positivos para o meu irmão, que está lá em João Pessoa", disse Isac.
Fred começou a jogar vôlei sob influência do irmão mais velho. "Eu era muito pequeno, mas gostava de acompanhá-lo e ficava pegando as bolas que saíam. Depois, com 11 anos, comecei a jogar. Desisti um tempinho e depois voltei com mais vontade", conta Federico. "Meus pais vieram a passeio pelo Brasil e adoraram. Quando eu ainda era bebê, minha família se mudou para o Brasil. Já tenho a nacionalidade e, agora, só penso em jogar pelo Brasil", explica o estudante.
O ouro do feminino nos Jogos da CPLP também será levado para o Brasil. As cariocas Maria Clara Carvalhaes e Letícia Holanda, ambas de 15 anos, passaram por Timor Leste, Angola e Portugal na primeira fase. Na semifinal, não encontraram dificuldades para derrotar a dupla de Cabo Verde. A decisão foi novamente contra Portugal.
As duas já conheciam Isac do Mundial Escolar no Taiti, onde também sagraram-se campeãs. "No ano passado, já jogávamos juntas e ganhamos a seletiva. Foi ótimo estar lá pela Confederação Brasileira do Desporto Escolar e ganhar o Mundial. Era um ambiente muito internacional, com atletas de vários países. Mesmo eu tendo me dedicado muito mais ao vôlei de quadra este ano, achei bom poder vir jogar na praia com a Maria Clara aqui em São Tomé e Príncipe. Para falar a verdade, eu nunca tinha ouvido falar do país. Pouco tempo depois de descobrir onde fica, já estou aqui", diz Letícia, estudante do 1º ano do Ensino Médio.
Mesmo com tão pouca idade, a milhagem para voos internacionais também conta com uma parada em Assunção, no Paraguai. "Em 2015, tínhamos 12 anos e jogamos o Sul-Americano de vôlei de quadra. Ganhamos lá também", lembra Maria Clara, aluna do 9º ano.
"Estamos no mesmo alojamento de todos os países. Conhecemos muitas pessoas diferentes, com culturas diferentes. Eles falam português como nós, mas de um jeito diferente. Foi muito legal passar por essa experiência", finaliza Maria Clara.
Jogos da CPLP
Os nove países lusófonos enviaram delegações sub-17 para a 11ª edição dos Jogos da CPLP, que seguem até 28 de julho. Além dos anfitriões de São Tomé e Príncipe, estudantes de Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal e Timor-Leste participam das competições. Em 2020, o evento será realizado em Díli, capital do Timor-Leste.
Galeria de fotos dos Jogos da CPLP
O Brasil participou das competições de atletismo, basquete 3 x 3, vôlei de praia e futebol. A quinta modalidade do evento era o taekwondo - e os atletas brasileiros não puderam chegar ao país devido a cancelamento de voos nos aeroportos de São Paulo na semana passada.
Abelardo Mendes Jr, de São Tomé, em São Tomé e Príncipe - rededoesporte.gov.br