Você está aqui: Página Inicial / Notícias / Jogando com a boca, Ibrahim Hamadtou encanta e inspira até mesmo seus colegas do tênis de mesa paraolímpico

Geral

07/09/2016 22h13

Tênis de mesa

Jogando com a boca, Ibrahim Hamadtou encanta e inspira até mesmo seus colegas do tênis de mesa paraolímpico

Após perder os dois braços em um acidente de trem ainda criança, o egípcio desenvolveu uma técnica impressionante que o tornou admirado por sua lição de amor ao esporte. Quer vê-lo em ação? Ele joga nesta quinta-feira

Oficialmente, os Jogos Paralímpicos Rio 2016 começaram na noite desta quarta-feira (7.9), quando a Pira Paralímpica foi acesa sob aplausos de milhares de atletas e fãs do esporte no Maracanã. E se por UM acaso você se emocionou com o show de abertura é bom ir se preparando porque nos próximos 11 dias o que os atletas mostrarão ao mundo é um espetáculo impressionante cujas lições transcendem o próprio esporte.

O egípcio Ibrahim Hamadtou: com a boca e os pés ele revolucionou a maneira de jogar tênis de mesa e se transformou em um exemplo de obstinação. Foto: Getty Images

Em julho deste ano, o canal de televisão britânico Channel 4 lançou um comercial sobre os Jogos Paralímpicos Rio 2016 intitulado Yes I Can!” que já tem quase 6 milhões de visualizações no Youtube. As fantásticas imagens da produção inglesa derrubam mitos de que pessoas com deficiência estão cercadas de barreiras que as limitam de viver seus sonhos.

Um desses exemplos estará em ação nesta quinta-feira (8.9), às 12h20, no Pavilhão 3 do Riocentro, no primeiro dia de competições do tênis de mesa. Nascido no Egito, na cidade de Dumyat, em 1º de julho de 1973, Ibrahim Hamadtou sofreu um golpe duríssimo aos 10 anos quando, em um acidente de trem, perdeu os dois braços.

Três anos depois, ele deu início a um sonho que, para a maioria, parecia impossível: tornar-se um jogador de tênis de mesa. O primeiro passo foi tentar jogar com a raquete apoiada na axila. Sem sucesso e longe de desistir frente a um obstáculo que parecia ser a única chance de atingir seu objetivo, Ibrahim Hamadtou desenvolveu uma técnica que impressiona e inspira até mesmo seus colegas atletas paraolímpicos: aprendeu a jogar com a boca com tal eficiência que lhe garantiu uma vaga nos Jogos Paralímpicos no Brasil!

“No começo eu tentei usar a raquete embaixo do braço e também tentei outras coisas que não estavam dando certo”, lembra o egípcio, em entrevista concedida à Federação Internacional de Tênis de Mesa. “Finalmente, eu tentei usar a minha boca”, resume o atleta, que, para sacar teve que buscar outra solução improvável: arremessar a bolinha para cima com o pé.

Mesatenista da Nigéria, Ahmed Kaleosho, de 30 anos, está no Rio para a disputa das Paralimpíadas. E passados três anos ele ainda se lembra bem do que sentiu quando viu Ibrahim Hamadtou jogando pela primeira vez. “É muito incrível”, resume. “A primeira vez que o vi foi em 2013, em um torneio no Egito. Por 30 minutos eu não conseguia piscar. É muito inspirador. Vê-lo jogar nos faz amar o esporte ainda mais”, diz.

O sentimento de Kaleosho é semelhante ao do mesatenista britânico Jack Hunter Spivey, que também está no Rio para as Paralimpíadas. “É impressionante ver que o amor dele pelo jogo não tem limites. Vê-lo jogar com a boca é surpreendente. Nós vemos muitos deficientes no esporte. Mas vê-lo jogar com a boca é uma inspiração para nós mesmos. Prova que não há nada no caminho das pessoas com deficiência que possa impedi-las de fazer o que elas sonham”, admira-se Jack Hunter.

Cotada para conquistar uma medalha para o Brasil no tênis de mesa no Rio, a paulista Bruna Alexandre, 21 anos, que estreia nos Jogos Paralímpicos nesta quinta-feira, às 16h, no Riocentro, é outra fã incondicional de Ibrahim Hamadtou.

“Eu já o vi jogando em dois campeonatos na Europa faz um cinco meses e fiquei pasma. Não estava acreditando. Até filmei ele jogando para mostrar para minha família. Eu achei uma coisa muito interessante mesmo, ainda mais para o tênis de mesa, e mostra que tudo é possível nessa vida”, elogia Bruna, que confessou que tem um desejo: “estava até querendo chama-lo para jogar para ver como é que vem a bola, que deve vir um pouco diferente”, diz, com carinho e curiosidade.

Atleta da classe 6 – para aqueles que têm deficiências severas nos braços e nas pernas devido a lesões incompletas da espinal medula, condições neurológicas que afetam ambos ou só um dos lados do corpo, amputações ou condições congénitas similares – Ibrahim Hamadtou estreia hoje no Rio de Janeiro diante do britânico David Wetherill.

O egípcio já revelou que seu sonho é conquistar uma medalha no Brasil. Se conseguirá ou não é algo que será respondido nos próximos dias. Mas independentemente do que o futuro lhe reserva, Ibrahim Hamadtou terá deixado sua marca nos Jogos Paralímpicos Rio 2016. Afinal, poucos são os que levaram tão ao pé da letra a lição que ele mesmo classifica como sua filosofia pessoal: “nunca desista na vida”. Pode parecer clichê. Basta vê-lo jogar para ter a certeza de que, neste caso, não é.

Luiz Roberto Magalhães – brasil2016.gov.br