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Atletismo

28/09/2021 10h30

Tênis de mesa

Novo feito inédito para Calderano: atleta alcança o Top 5 mundial do tênis de mesa

Posição é a melhor já ocupada por um atleta latino-americano na história da modalidade. À frente dele, três chineses e um japonês

O primeiro registro de Hugo Calderano no ranking da Federação Internacional de Tênis de Mesa data de julho de 2009. Na época, o atleta brasileiro tinha apenas 13 anos e aparecia como o número 1.285 da listagem dos melhores do mundo. Até então, era um talentoso atleta e uma promessa potencial de que poderia alçar a condição de um dos melhores do país.

Foto: Abelardo Mendes Jr./ rededoesporte.gov.br

Os 12 anos que se seguiram construíram uma história de feitos inéditos que culminaram nesta terça-feira, 28.09, com mais um patamar pioneiro: Hugo chegou ao Top 5 do ranking mundial após conquistar pela primeira vez o título de uma etapa Platinum do Circuito Mundial. O troféu de campeão veio no WTT Contender de Doha, no Catar, no último domingo (26.09).

"O melhor foi conquistar o título de um torneio importante pela primeira vez, mas é ótimo ver isso refletido no ranking. Eu estou muito feliz e vou tentar celebrar isso o quanto puder"
Hugo Calderano

Na listagem da ITTF, Hugo aparece com 8.464 pontos. É o melhor não asiático do mundo. À frente dele, apenas três chineses, país hegemônico na modalidade (Fan Zhendong, Ma Long e Xu Xin), além do japonês Tomokazu Harimoto. A posição de Top 5 é a melhor de um brasileiro e de um latino-americano na história do ranking da ITTF.

Desde a criação do ranking mundial nos atuais moldes, o único atleta das Américas que chegou próximo a esse patamar foi o canadense Johnny Huang, 10º em janeiro de 1997. Antes da criação mais organizada do ranking, há dois norte-americanos que chegaram a um patamar similar ao do brasileiro em todos os tempos: Sol Schiff, considerado o quarto do mundo em 1938, e Richard Miles, número 5 em 1949. O brasileiro que chegou mais próximo de Calderano foi Ubiraci Rodrigues da Costa, o Biriba, 19º colocado em 1961.

"O melhor certamente foi conquistar o título de um torneio importante pela primeira vez, mas é ótimo ver isso refletido no ranking. Eu estou muito feliz e vou tentar celebrar isso o quanto puder", afirmou Hugo em entrevista logo após a conquista do torneio no Catar.

"É merecido ele entrar nesse Top 5. O Hugo geriu muito bem o período depois dos Jogos Olímpicos. Vimos no Catar o nível que ele conseguiu propor: uma intensidade alta e regular. Todas as partes foram boas: saque, recepção, ralis e contra-ataques. Começar esse ciclo olímpico desse jeito dá muita energia. O Hugo pode ficar satisfeito do trabalho feito até aqui", afirmou o técnico do atleta, o francês Jean-René Mounie.

"Realmente é um feito sensacional. Mostra que, com muito treino, dedicação, confiança e investimento, é possível conquistar resultados assim", completou Hugo Hoyama, técnico da seleção feminina, que soma oito participações em Jogos Olímpicos, seis como atleta e duas como treinador. 

Viés de alta permanente

O caminho para transformar o número 1.285 em número cinco engrenou de verdade a partir de 2013, ano em que ele deixou pela primeira vez sua marca, com o título do Aberto do Brasil, evento com chancela da ITTF. Na ocasião, era o 260º do mundo, tinha 17 anos e superou nas semifinais e finais dois dos então titulares da seleção: Cazuo Matsumoto e Gustavo Tsuboi.

Em 2014, um cartão de visitas ainda mais promissor. Nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Nanquim, na China, conquistou o bronze, o primeiro pódio da história do país numa competição com chancela do Comitê Olímpico Internacional.

Na sequência dos Jogos de Nanquim, Hugo tornou-se hegemônico no continente. Foi tricampeão latino-americano e conquistou o título individual nos Jogos Pan-Americanos de Toronto, em 2015, e de Lima, em 2019. No meio do caminho, participação histórica nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, quando superou vários rivais à sua frente e chegou às oitavas de final. Terminaria 2016 na 21ª colocação.

Top Ten desde 2018

No ciclo entre Rio e Tóquio, Calderano seguiu a trajetória de alta. Em março de 2018, fez um dos torneios mais espetaculares de sua carreira. Chegou à final do Aberto do Catar perdendo apenas um dos 13 sets que disputou. No caminho, bateu o então número 1 do mundo, o alemão Timo Boll, atropelou o fenômeno japonês Tomokazu Harimoto, nas quartas, e não tomou conhecimento do chinês Lin Gaoyuan, que era o número 4. Só parou na final diante do chinês Fan Zhendong, que se tornaria o número 1 do mundo na sequência. 

"É merecido ele entrar nesse Top 5. O Hugo geriu muito bem o período depois dos Jogos Olímpicos. Vimos no Catar o nível que ele conseguiu propor: uma intensidade alta e regular. Todas as partes foram boas: saque, recepção, ralis e contra-ataques. Começar esse ciclo olímpico desse jeito dá muita energia"
Jean-René Mounie, técnico de Calderano

Ainda no primeiro semestre de 2018, Calderano foi bronze no Aberto da Hungria e liderou a seleção brasileira em duas conquistas inéditas. Na Copa do Mundo por equipes, na Inglaterra, e no Mundial por equipes, na Suécia, o time nacional chegou pela primeira vez às quartas de final.

Com isso, o brasileiro apareceu pela primeira vez no Top Ten da modalidade em julho de 2018. E lá fincou raízes. A última vez que uma listagem da ITTF não trouxe Calderano entre os dez melhores foi em outubro de 2018, em 11º.

Em 2019, no Mundial de Budapeste, na Hungria, chegou pela primeira vez às oitavas de final. Só parou diante do chinês Ma Long, que terminaria o torneio como tricampeão mundial e que conquistou em Tóquio o bicampeonato olímpico. 

Nos Jogos de Tóquio, em 2021, o brasileiro subiu um degrau a mais. Tornou-se o primeiro atleta brasileiro a chegar às quartas de final de um torneio olímpico. Foi superado de virada numa partida memorável diante do alemão Dmitrij Ovcharov, por 4 sets a 2.

"Esse feito histórico é muito bom para o tênis de mesa brasileiro. Ajuda na visibilidade do esporte e inspira a nova geração, assim como todos os outros resultados incríveis que ele já teve. Ele já estava no Top 10 há mais de três anos. Entrar para o Top 5 agora é muito especial", elogiou Vitor Ishiy, parceiro de Hugo na seleção brasileira. 

Alemanha

Calderano defendeu, entre 2014 e 2021, a equipe de Ochsenhausen, da primeira divisão da Liga Alemã e frequentadora tanto das finais do país. Na cidade de cerca de 10 mil habitantes, vive quase que exclusivamente em função dos treinamentos físicos, técnicos e as múltiplas competições, e tem como técnico um francês com ampla experiência internacional, Jean-René Mounie.

Recentemente, fechou contrato com a equipe Fakel Gazprom Orenburg, da Rússia, um time recheado de estrelas e que costuma estar sempre entre os melhores na Liga dos Campeões da Europa. A equipe conta com o próprio Ovcharov e com Lin Yun-Ju, talentoso atleta de China Taipei que é o número seis do mundo e foi semifinalista nos Jogos de Tóquio.

Investimento federal

Integrante do Bolsa Atleta desde 2010, Hugo Calderano passou pelas categorias Nacional, Internacional e, desde 2017, quando chegou ao Top 20, passou a integrar a Bolsa Pódio, o mais alto patamar do programa de patrocínio direto da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. O investimento federal total no atleta ao longo desse período supera os R$ 540 mil.

Outros brasileiros

A nova lista mostra Gustavo Tsuboi na mesma posição anterior do ranking masculino (37º), com Vitor Ishiy e Eric Jouti subindo uma posição, em 63º e 92º, respectivamente. Thiago Monteiro caiu um degrau, passando agora a ser o número 89. Mais uma vez, o Brasil mantém cinco atletas no Top 100 mundial. 

No feminino, Bruna Takahashi teve um avanço importante após chegar nas quartas de final do WTT Star Contender. Ela subiu quatro posições e agora é a 45ª do mundo, seu melhor ranking na carreira. Jessica Yamada aparece em 143ª, enquanto Carol Kumahara está duas posições abaixo.

Outro resultado importante é percebido nas duplas mistas. Vitor Ishiy e Bruna Takahashi saltaram dez posições em relação ao ranking anterior e agora estão na 28ª colocação.

Gustavo Cunha - rededoesporte.gov.br, com informações da Confederação Brasileira de Tênis de Mesa