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Tenis de mesa

07/08/2016 22h48

Tênis de mesa

Calderano faz história no tênis de mesa e dois adolescentes ganham “bilhete premiado”

Jogador brasileiro passa para as oitavas do torneio de simples, iguala o melhor resultado do Brasil na modalidade e faz a festa de jovens da Rocinha que ganharam o ingresso sem saber o que veriam

Yan dos Santos e Thiago Porfírio “ganharam na loteria”. Até ontem de manhã, não tinham a menor ideia de que teriam a oportunidade de entrar numa arena olímpica durante os Jogos do Rio. Moradores da Rocinha, eles praticam o tênis de mesa uma ou duas vezes por semana na comunidade, num esquema informal e com trabalho voluntário do professor Guilherme Diniz da Silva. Mesa improvisada, local longe de ser apropriado, e muita vontade de aprender. 

Pois o destino quis que eles tivessem, na noite deste domingo, um jornada digna de Disney. “Um amigo nosso mandou mensagem no grupo de Whatsapp dizendo que tinha três ingressos. Respondemos rapidinho e ficamos com eles”, disse Yan, 16 anos. Uma passagem de ônibus e dois trechos de BRT trouxeram os dois e o treinador Guilherme ao Pavilhão 3 do Riocentro. “Nem sabia quem ia jogar”, confessou Thiago, 18. 

Calderano faz uma selfie após a vitória sobre Tang Peng: atleta e torcida em alta sintonia. Foto: Getty Images

Ali, os três amantes do esporte tiveram a chance de ver ao vivo o brasileiro Hugo Calderano, diante de uma torcida insana para os padrões comedidos do tênis de mesa, bater o número 15 do mundo, Tang Peng, de Hong Kong, por 4 sets a 2 (8 x 11, 14 x 12, 11 x 7, 4 x 11, 12 x 10 e 11 x 7). 

“Estou muito feliz de ter conseguido. O Tang Peng é forte, vem de um país com tradição no esporte. E já estou focado para o próximo jogo. Primeiro vou descansar um pouquinho, pensar no que foi bom e no que foi ruim hoje para estar muito bem amanhã”, disse Calderano.

“É um resultado muito importante não só para mim, mas para o tênis de mesa brasileiro. O nosso esporte vive seu melhor momento no Brasil, com três atletas de muito alto nível nos Jogos. Chegar tão longe já é um grande feito"
Hugo Calderano

“Cara, até esta tarde eu tinha planos de soltar pipa, mas bateu um vento muito forte e acabei, sem querer, tendo a chance de vir com os meninos. É outro padrão”, avaliou Guilherme, que já foi atleta, chegou a treinar no Fluminense (clube em que Hugo começou) e há cinco anos dá aulas para os mesatenistas da Rocinha.

O resultado levou o atleta brasileiro, atual número 54 do mundo, para as oitavas de final da chave de simples, um feito que iguala a melhor participação nacional em Jogos Olímpicos, obtida por Hugo Hoyama na edição de Atlanta (EUA), em 1996. “É um resultado importante não só para mim, mas para o tênis de mesa brasileiro como um todo. O nosso esporte vive seu melhor momento no Brasil, com três atletas de alto nível nos Jogos. Chegar tão longe já é uma grande história”, disse Calderano. 

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Resultado de Hugo igualou a melhor campanha do Brasil numa chave individual olímpica, conquistada em Atlanta, 1996. Foto: Getty Images

 
Difícil, não impossível

O adversário de Hugo, na partida marcada para as 17h desta segunda (8.08), será o japonês Jun Mizutani, sexto melhor no ranking da Federação Internacional. Eles já jogaram no Mundial do ano passado, numa partida bastante disputada que terminou com vitória do japonês. “Eu tive bastante chance, estava liderando, e ele usou a experiência e virou, mas só de ter tido chance me dá confiança”, disse. 

Quem pretende dar uma dica a mais a Hugo é Cazuo Matsumoto, parceiro do brasileiro na equipe, e que tem no currículo uma vitória contra Mizutani, durante a Copa do Mundo por equipes em 2013. “Eu acho que dá para o Calderano. É um jogo bom para ele, encaixa. Tem grandes chances”, disse Cazuo.

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Yan, Guilherme e Thiago: bilhete inusitado para uma noite perfeita. Foto: Gustavo Cunha/Brasil2016.gov.br

Uma das armas a mais para isso é a torcida brasileira, que tem transformado o Pavilhão 3 do Riocentro em arquibancada do Maracanã. Desde “Vamos virar, Hugo”, até “Hugo, Hugo” entre palmas e outras cânticos impublicáveis ajudaram a fazer do recinto um caldeirão nesta noite. Tanto que em duas situações o atleta adversário desistiu do movimento de sacar, desconcentrado pelas vaias. “Eu acho que só na China a torcida faz desse jeito, inclusive durante os pontos. Para nós é ótimo, mas para quem está jogando contra, realmente pesa”, afirmou Cazuo.

Além da performance de Hugo, Thiago e Yan tiveram a oportunidade “de ouro”, segundo eles, de verem de perto o número um do mundo, Ma Long. O chinês, como era esperado, não teve problemas para superar o dinamarquês Jonathan Groth por 4 sets a 0, em parciais contundentes  de 11 x 3, 11 x 2, 11 x 3 e 11 x 9. “Cara, o Youtube ficou ao vivo”, comentou Yan. “Ganhamos mesmo na loteria. O cara joga demais”. 

Gustavo Cunha, brasil2016.gov.br