Tenis de mesa
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Calderano faz dois sets mágicos, mas cede a virada para alemão e cai nas quartas
Hugo Calderano jogou dois sets e meio das quartas de final dos Jogos Olímpicos de Tóquio com uma superioridade técnica e física que fizeram muitos duvidar que do outro lado da mesa estivesse um antigo número 1 do mundo. O alemão Dimitrij Ovtcharov foi um quase espectador de um atropelamento do brasileiro, que fechou as duas primeiras parciais em 11/7 e 11/5 e abriu 8 x 4 no terceiro set.
Naquele instante, o atual número oito do mundo, campeão dos Jogos Europeus e vencedor da mais recente etapa do WTT Contender, pediu tempo e aproveitou bem o minuto que teve. Reajustou os nervos, repensou a tática e determinou uma nova estratégia. E iniciou, ali, uma retomada que deixou Calderano gradativamente distante do padrão que vinha imprimindo. Sem achar alternativas para mudar o cenário, o brasileiro perdeu o terceiro set e as três parciais seguintes, incluindo um quinto set em que chegou a abrir 7 x 1. No fim, 4 a 2 para o alemão, com 11/7, 11/5, 8/11, 7/11, 8/11 e 2/11, em 51 minutos de jogo.
Entristecido com o desfecho de uma partida em que teve momentos de indiscutível dominância, Calderano se emocionou na saída da área de jogo do Ginásio Metropolitano de Tóquio. "É um momento de muita dor. Perder um jogo assim, ainda mais em uma Olimpíada, é duro. Tenho de aprender a abraçar essa dor para voltar cada vez mais forte", afirmou o atleta. A frustração foi ainda maior, segundo ele, por ter alcançado o seu melhor nível e por ter tido oportunidades importantes de selar o jogo e chegar ao grupo dos quatro melhores.
"Faz diferença ter a oportunidade e não conseguir pegá-la. Acho que não consegui manter a intensidade, o mesmo nível em que comecei a partida. Ele começou a jogar melhor, se adaptou e não consegui achar um nível ainda mais alto"
Hugo Calderano
"Faz diferença ter a oportunidade e não conseguir pegá-la. Ontem, contra o sul-coreano, eu consegui pegar a oportunidade e virar o jogo. Hoje, não. Acho que não consegui manter a intensidade que mostrei no início. Ele começou a jogar melhor, se adaptou e não consegui achar uma forma de apresentar um nível ainda mais alto. Fico feliz porque consegui propor o meu melhor, mas o difícil é manter esse patamar em todos os sets".
Na opinião do técnico do brasileiro, Jean-René Mounie, o resultado se deve mais à qualidade do adversário do que a uma omissão ou queda na face mais mental de Hugo.
"Acho que o Hugo começou bem, agressivo, impôs o jogo dele, e o alemão não teve a capacidade e a possibilidade de respirar, e isso foi ótimo. Mas esse jogador já foi número um do mundo, já pegou bronze em Jogos Olímpicos. Ele sabe jogar, sabe competir. Trabalhou bastante para mudar o ritmo do jogo e passou aos poucos a aplicar essa mudança. Isso fez o Hugo perder um pouco de regularidade. Eu diria que o resultado tem mais a ver com o desempenho do Dima do que com o Hugo mesmo", avaliou o treinador.
Ainda de acordo com Jean-René, o estilo de bolas fortes e milimétricas de Hugo tem margem de erro muito pequena. Por isso, exige uma intensidade acima do normal para funcionar. "O jogo dele tem muita urgência. Ele quer rivalizar com os chineses. Isso implica assumir riscos. É um jogo ambicioso, uma escolha bem clara. Não é facilmente encaixado num tipo de regularidade. Mesmo com os riscos, pensamos que isso vai permitir a ele ganhar as mais bonitas medalhas dessa forma", disse.
Com o resultado do duelo envolvendo o brasileiro, as semifinais olímpicas vão reunir de um lado o chinês Fan Zhendong, número um do ranking mundial durante boa parte do ciclo olímpico, e Lin Yun Ju, número seis da listagem, de Taipei. Na outra chave, jogarão Ma Long, atual campeão olímpico e tricampeão mundial, e o alemão Dimitrij Ovtcharov. Os duelos serão a partir das 3h (de Brasília) desta quinta, 29.07.
Evolução gradual
O tênis de mesa brasileiro experimenta uma evolução gradual. O time masculino ficou entre os oito melhores no último Mundial por equipes e o feminino busca um lugar entre as mais expressivas seleções no cenário internacional. Como legado dos Jogos Rio 2016, dezenas de cidades receberam mesas, aparadores, redes e bolinhas utilizadas nas Olimpíadas, o que ajudou a qualificar a prática da modalidade.
Os seis atletas titulares e os dois reservas brasileiros em Tóquio são integrantes do Bolsa Atleta, programa de patrocínio individual do Governo Federal Brasileiro. No período entre os Jogos Rio 2016 e Tóquio 2021, foram investidos R$ 10,1 milhões no Bolsa Atleta para contemplar praticantes do tênis de mesa. Os recursos propiciaram a concessão de 562 bolsas no período.
Do luto à luta
O treinador separou para Hugo um momento para ele viver o "luto" da derrota, mas já projeta a disputa por equipes. "Vamos nos permitir 12 horas para ele se sentir mal, porque precisamos disso também para crescermos, e na sequência vamos pensar na equipe. Ele tem uma missão, quer fazer o melhor possível para o tênis de mesa do Brasil", comentou.
Se a vaga na semifinal não veio, o número sete do ranking mundial sai do torneio individual com o feito histórico de ter levado o Brasil às quartas de final de um torneio olímpico pela primeira vez na história. Calderano ainda volta à ação para a disputa do torneio por equipes, ao lado de Gustavo Tsuboi e de Vitor Ishiy. A estreia será no domingo, dia 1 de agosto, diante da Sérvia.
A chegada às quartas de final é mais uma das marcas que fazem de Calderano o principal atleta que o Brasil já produziu na modalidade. Desde julho de 2018 ele frequenta assiduamente o top ten do ranking mundial. É o atual bicampeão dos Jogos Pan-Americanos, com os títulos conquistados em Toronto (2015) e Lima (2019). No ciclo para Tóquio, chegou com frequência às quartas de final dos eventos mais importantes do circuito. Venceu o número 1 do mundo, o chinês Fan Zhendong, no Grand Finals, em dezembro de 2018. Chegou pela primeira vez às oitavas de final de um Mundial na edição de 2019, em Budapeste. Na ocasião, tirou um set do campeão olímpico e que se consagraria tricampeão mundial, o chinês Ma Long. Antes, já havia se destacado no cenário internacional ao conquistar o bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude de 2014, na China.
Gustavo Cunha, de Tóquio, no Japão - rededoeesporte.gov.br